A forma escolhida por Trump para se demarcar da política energética da anterior Administração não podia ser mais simbólica: o Presidente norte-americano - que questiona abertamente a realidade do aquecimento global - desloca-se hoje à sede da Agência norte-americana de Proteção do Ambiente (EPA), a escassas centenas de metros da Casa Branca, para assinar o "decreto sobre a independência energética".
O decreto contribuirá para garantir que energia seja "acessível e limpa", de forma a "favorecer o crescimento económico e a criação de empregos", de acordo com um resumo adiantado pela Casa Branca, citado pela agência France Press.
O texto assume o objetivo reduzir "os obstáculos inúteis" no setor e lança um reexame da bandeira de Obama para a energia: o "Clean Power Plan" (Plano nacional de energia limpa).
Este plano tinha por objetivo garantir a transição energética nos Estados Unidos, impondo às centrais térmicas reduções das emissões de CO2 na ordem dos 32% até 2030 face a 2005. Se entrasse em vigor, iria traduzir-se pelo encerramento de muitas centrais a carvão (as mais antigas e poluentes".
O plano de Obama está entretanto bloqueado pela justiça norte-americana, depois de ter sido alvo de providências cautelares por três dezenas de Estados, na maioria republicanos.
Reexaminar o plano da Administração anterior "levará um certo tempo", reconheceu a Casa Branca, evocando em particular os procedimentos de consulta do público em vigor na EPA.
Apesar de se encontrar em declínio, o carvão é ainda um ator importante na paisagem energética norte-americana. Centenas de centrais a carvão estão espalhadas pelo país, contribuindo para cerca de um terço da eletricidade produzida no país, a par da eletricidade que é produzida com gás natural e à frente da nuclear e da hidroelétrica.
Trump tem repetido a vontade de relançar a exploração do "maravilhoso carvão limpo" e de, assim, dar emprego a "muitos mineiros".
A maior parte dos especialistas questionam, no entanto, que o decreto assinado hoje venha a traduzir-se pela criação líquida de empregos. "Isso não terá praticamente nenhum impacto", considerou, de acordo com a AFP, James van Nostrand, um professor da Universidade de Virginia, lembrando que o declínio do carvão começa por estar ligado, ele próprio, à subida dos custos de exploração e à concorrência acrescida do gás natural e das energias renováveis.
"Desmantelar a EPA e livrar-se da regulamentação não fará renascer a indústria do carvão", sublinhou Van Nostrand.
O número de empregos no setor caiu de 88 mil em 2008 para 66 mil em 2015, de acordo com o Departamento da Energia.
Lusa