"Há leis que todo o mundo deve cumprir, tanto no setor público como no privado.
No setor público, quem cometer irregularidades de qualquer tipo tem que ser destituído, investigado, julgado e preso, se for o caso.
Então não me venham acusar de ser inimigo do setor privado, quando trato de pôr em ordem", declarou.
Nicolás Maduro falava hoje durante o ato de inauguração da exposição Expo Venezuela Potência 2017, que decorrerá até domingo no Poliedro de Caracas, transmitido em simultâneo e de forma obrigatória pelas rádios e televisões do país.
A explicação tem lugar depois de as autoridades venezuelanas encerrarem pelo menos duas padarias de portugueses em Caracas, ao abrigo do programa Plano 700 (700 padarias de Caracas) para supervisionar a elaboração e a venda do pão.
Segundo Nicolás Maduro foi detetado, recentemente, o caso de uma padaria em que as pessoas faziam filas durante horas "sem necessidade" porque foram encontrados 190 sacos de farinha de trigo.
Por outro lado explicou que o setor privado deve sentir-se "afortunado" (com sorte) de que ele seja Presidente da Venezuela e insistiu que a revolução bolivariana respeita as empresas privadas e as convoca a trabalharem pelo desenvolvimento do país.
"Não sou nenhum bandido, ladrão, nem cobro comissões, não pertenço a nenhum grupo transnacional nem nacional, sou um Presidente independente, trabalhador, obreiro e estendo a minha mão para o trabalho", frisou.
Diversas fontes dão conta de que pelo menos duas padarias de portugueses foram ocupadas nos últimos dias pelas autoridades, entre elas a Mansión's Bakery.
Esse estabelecimento foi alvo, no dia 15 de março, de uma fiscalização das autoridades, que encerraram o estabelecimento e o entregaram a grupos de cidadãos dos Comités Locais de Abastecimento e Produção (CLAP), que entretanto mudaram o nome da padaria para "Minka".
Um papel colado na porta dá conta que a padaria é controlada por membros dos Comités Locais de Abastecimento e Produção, produzindo pão que é tirado por uma porta secundária e introduzido numa viatura.
A Superintendência de Preços Justos acusou os proprietários de não cumprirem a nova normativa que obriga as padarias a ter, permanentemente, desde a abertura até ao encerramento, pão disponível para os clientes.
As autoridades acusaram ainda os proprietários de vender o pão a preços mais altos que os permitidos e de manter o estabelecimento em condições de insalubridade.
Proprietários e trabalhadores foram impedidos de guardar o dinheiro que se encontrava na caixa registadora.
No passado domingo, o Presidente Nicolás Maduro instou as autoridades a atuarem com severidade contra setores que pretendem obstruir o acesso da população a bens de consumo diário, como o pão.
"Aos especuladores que escondem o pão do povo venezuelano deve cair-lhes todo o peso da lei.
É um plano da direita fascista para fazer com que as pessoas se irritem. Vamos com toda a força", disse.
No mesmo dia, o vice-Presidente da Venezuela, Tareck El Aissami, anunciou uma nova norma legal que as 709 padarias de Caracas devem respeitar e que estabelece que o pão deve estar à venda desde a abertura até ao encerramento dos estabelecimentos.
"Ao finalizar cada dia deverá ficar pão preparado para o dia seguinte.
A venda não poderá ser condicionada e muito menos criados mecanismos ilícitos, como a cobrança de comissões pelo uso de terminais de pagamento", disse à televisão estatal.
Segundo Tareck El Aissami, a padaria que desrespeite o novo regulamento "será ocupada temporariamente pelo Governo e transferida para os Comités Locais de Abastecimento e Proteção, para fazê-la produzir".
Os comerciantes queixam-se de falta de farinha, da paralisação dos moinhos e do controlo administrativo dos preços.
Lusa