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Crise em Alepo provoca protestos no Kuwait e cancelamento de festejos no Qatar

Cerca de duas mil pessoas manifestaram-se esta quarta-feira em frente à embaixada da Rússia no Kuwait para protestarem contra os bombardeamentos do regime sírio, apoiados por Moscovo, em Alepo (norte da Síria), onde milhares de civis permanecem sitiados.

© Stephanie McGehee / Reuters

No Qatar, outro país do Golfo Pérsico, o sheikh Tamim bin Hamad al-Thani decidiu cancelar os festejos previstos no âmbito da festa nacional, assinalada no domingo, "em solidariedade" com os habitantes de Alepo confrontados "com as piores formas de repressão, tortura, deslocamento e de genocídio".

Por seu lado, a Organização para a Cooperação Islâmica (OCI) pediu a constituição de uma "comissão de inquérito independente" sobre "a campanha de exterminação de civis" na cidade síria de Alepo, já apelidada como cidade mártir.

Também indicou que a reunião ministerial da organização, prevista para 22 de dezembro, irá abordar a situação "trágica" na Síria.

Esta organização com 57 membros tem sede na cidade saudita de Jeddah.

Na capital do Kuwait, os manifestantes concentrados de forma pacífica em frente à representação diplomática russa pediram, entre outras frases de ordem, o "fim dos crimes" e a salvação de Alepo.

Vários intervenientes falaram para denunciar o Presidente russo, Vladimir Putin, como "um criminoso" e para reclamar a expulsão dos embaixadores russos nas monarquias do Golfo Pérsico e na Turquia.

Também condenaram o Irão e as milícias xiitas, que combatem ao lado do exército sírio, acusando-os de abrir fogo indiscriminado contra os civis de Alepo.

"Apelamos à Turquia e aos Estados do Golfo para enviarem de volta os embaixadores russos e a cortarem as relações diplomáticas com Moscovo", afirmou o deputado islâmico Jamaan al-Harbash.

Um outro deputado, Thamer al-Suwait, qualificou como "genocídio" a campanha militar em curso na Síria, enquanto o antigo parlamentar Ahmad al-Shuhumi denunciou uma "guerra suja confessional travada pelo Irão contra os muçulmanos sunitas".

Gritando a frase "o povo quer a expulsão dos embaixadores" russos, a multidão desfilou junto do muro da representação diplomática de Moscovo, antes de dispersar de forma pacífica, sob o olhar da polícia.

O parlamento do Kuwait agendou para 28 de dezembro uma sessão parlamentar sobre a situação em Alepo, anunciou hoje o presidente daquele órgão representativo, Marzouk al-Ghanem.

Organizações humanitárias do Kuwait e a representação do Crescente Vermelho (organização federada com a Cruz Vermelha) no emirado lançaram uma campanha de recolha de fundos a favor das vítimas da guerra em Alepo.

O embaixador russo na ONU, Vitaly Churkin, anunciou na terça-feira que o Exército sírio tinha cessado as suas operações em Alepo e que tinha sido alcançado um acordo para a saída de civis e dos combatentes opositores daquela cidade.

O acordo de evacuação permitiria retirar milhares de civis e rebeldes dos últimos redutos controlados pela oposição, bairros que estiveram cercados pelo exército durante mais de quatro meses e onde falta de tudo.

No entanto, após uma pausa de várias horas, recomeçaram os bombardeamentos contra esses bairros, disseram várias fontes, incluindo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

As forças governamentais sírias, apoiadas pelas forças aliadas russas, lançaram há três semanas uma ofensiva para recuperar a zona leste de Alepo, um bastião rebelde desde 2012.

Dos 275.000 civis que se estimava viverem em Alepo (a segunda maior cidade síria) quando foi lançada a ofensiva, cerca de 70.000 fugiu nos últimos dias, na sua maioria para centros de deslocados montados pelo governo na parte oeste da cidade.

Esta semana surgiram relatos que as forças pró-sírias tinham executado dezenas de civis naquela cidade devastada por combates. Os relatos levaram à realização na terça-feira, a pedido de França e do Reino Unido, de uma reunião de urgência do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Lusa

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