"As execuções constituem assuntos internos da Arábia Saudita", declarou o Presidente islamita-conservador num encontro com responsáveis políticos, ao recusar condenar a execução e em aparente contradição com o porta-voz do Governo turco Numan Kurtulmus, que na segunda-feira tinha lamentado a decisão.
O chefe de Estado turco manifestou ainda surpresa pela forte reação suscitada pela execução do dignitário xiita Nimr el-Nimr, um persistente crítico do regime saudita. "Nesse dia [sábado] registaram-se 46 execuções, incluindo de 43 sunitas. Apenas três dentre eles eram xiitas", revelou.
"No Egito foram condenadas à morte milhares de pessoas [após o golpe militar de 2013] e ninguém disse nada. Por que motivo o mundo não reagiu?", indignou-se Erdogan, apoiante do ex-presidente Mohamed Morsi, destituído pelos militares egípcios.
A Turquia aboliu formalmente a pena de morte em 2004 no âmbito do seu processo de adesão à União Europeia, desencadeado no ano seguinte.
O chefe de Estado turco também considerou "inaceitável" o ataque à embaixada saudita em Teerão por manifestantes.
A execução de El-Nimr pelo regime saudita, e de outras 46 pessoas condenadas por "terrorismo", originou uma grave crise diplomática entre Riade e Teerão.
Na noite de segunda-feira, e pela voz do vice-primeiro-ministro e porta-voz Numan Kurtulmus, a Turquia tinha apelado à calma entre as duas capitais e deplorou as execuções. Na terça-feira, o primeiro-ministro Ahmet Davotoglu mostrou-se ainda disponível para diminuir as tensões.
Nos últimos meses registou-se uma reaproximação entre Ancara e Riade, e em dezembro Erdogan visitou a Arábia Saudita.
Os dois países, com larga maioria de população muçulmana sunita, consideram o afastamento do Presidente Bashar al-Assad, apoiado pelo Irão, como condição prévia para uma solução política da guerra civil na Síria.
Lusa