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Investigadora diz que razões para aceitação da Guiné Equatorial não são claras

A investigadora Ana Lúcia Sá disse hoje que não ficaram claras as razões para a adesão da Guiné Equatorial à CPLP, considerando que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa está a transformar-se num clube de negócios. 

A Guiné Equatorial é uma ex-colónia espanhola, um país rico em petróleo e gás natural (Reuters/ Arquivo)
© Reuters Staff / Reuters

"Não sei se foi cedo (a adesão), poderiam sim, ser mais claros quanto  aos motivos que levaram à adesão à CPLP, em vez de falarem da língua, da  pena de morte e dos direitos humanos, dizerem o que interessa para esta  adesão e dizer em que é que a CPLP está a transformar-se, num clube de negócios",  afirmou à agência Lusa a investigadora portuguesa. 

Para Ana Lúcia Sá é fundamental que a CPLP mude "alguma coisa" de futuro,  já que considera que a aceitação da Guiné Equatorial à comunidade deixou  de ter a língua portuguesa como "elemento de união entre os países". 

A investigadora, que tem alguns trabalhos publicados sobre a Guiné Equatorial,  desconfia que a curto prazo sejam cumpridos os pontos estabelecidos no roteiro  da CPLP para a adesão daquele país, nomeadamente o fim da pena de morte  e as medidas destinadas a promover o uso do português, num país onde a língua  mais falada é o castelhano. 

"O Governo da Guine Equatorial não aposta na educação, nem sequer em  espanhol, não sei até que ponto o português será uma aposta ou prioridade  para o Governo da Guiné Equatorial", frisou a especialista. 

De acordo com Ana Lúcia Sá, não foram cumpridas as condições para adesão  à CPLP e suspeita que não o vão ser de futuro, já que o país africano detém  um estatuto de observador desde 2006, tendo pedido adesão ao bloco lusófono  em 2010 e até ao momento não aboliu a pena de morte, tendo apenas sido suspensa,  nem nada fez sobre a questão da língua portuguesa. 

"A pena de morte não foi abolida, foi temporariamente suspensa, nem  sequer saiu no boletim oficial do Estado uma lei que derrube as leis que  estabelecem a pena de morte e as condições da mesma na Guine Equatorial",  afirmou. 

Para Ana Lúcia Sá, a resolução presidencial de suspensão da pena de  morte poderá estar suspensa e não abolida por "mais cinco anos ou o tempo  que o Presidente Obiang quiser que esteja". 

"Há muitas questões que estão interligadas e se houvesse mais clareza,  o argumentário seria mais solido. A justificação da língua que vai ser ensinada,  dos direitos humanos que vão ser respeitados e da maior monotorização da  Guine Equatorial, de uma aproximação do país aos valores da CPLP, todos  estes argumentos acabam por se esboroar quando uma pessoa pensa no que está  por detrás disto", explicou. 

A Guiné Equatorial é uma ex-colónia espanhola, um país rico em petróleo,  governado desde 1979 pelo Presidente Teodoro Obiang Nguema, e é criticado  pelas organizações internacionais por violações dos direitos humanos. 

Este país, que pediu adesão ao bloco lusófono em 2010, entrou hoje na  CPLP como membro de pleno direito durante a décima conferência de chefes  de Estado e de Governo da organização, que decorreu pela primeira vez na  Ásia, no caso em Díli, Timor-Leste. 

Integram agora a CPLP Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné  Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. 

Lusa

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