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Eurodeputada Ana Gomes chocada com adesão da Guiné Equatorial à CPLP

A eurodeputada Ana Gomes disse hoje à agência Lusa estar "chocada" com a entrada da Guiné Equatorial na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), considerando que "é um regime ditatorial, criminoso e ladrão" do seu próprio povo.

Fred Marvaux

"Já era esperado, mas choca-me na mesma. Acho que é uma desvalorização,  um atentado à própria imagem ou potencial da CPLP, porque no fundo está  a branquear um regime ditatorial e um regime que é criminoso, que tem processos  nos Estados Unidos e em França por criminalidade económica e financeira",  disse Ana Gomes à Lusa. 

A Guiné Equatorial, que pediu adesão ao bloco lusófono em 2010, entrou  hoje na CPLP como membro de pleno direito durante a décima conferência de  chefes de Estado e de Governo da organização, que decorreu pela primeira  vez na Ásia, no caso em Díli, Timor-Leste. 

Em declarações à Lusa, a eurodeputada socialista salientou que a questão  do português é muito importante, mas não a mais relevante. 

"Importante é sobretudo o branqueamento político que se está a tentar  fazer através desta adesão em relação a um regime odioso (...). No caso  da Guiné Equatorial estamos perante um regime ditatorial, ladrão do seu  próprio povo e não há razões nenhumas para ser branqueado politicamente,  que é o que está a tentar fazer a CPLP", frisou. 

Ana Gomes lembrou também que existem outros países fundadores da CPLP  que, além da língua portuguesa, têm pelo menos a base constitucional e o  objetivo de viver de acordo com as regras democráticas. 

No entender da eurodeputada, toda esta situação "faz muito mal à CPLP  e à credibilidade dos países que aceitaram a adesão", como é o caso de Portugal.

"A mim pessoalmente causa-me tristeza que isto tenha acontecido em Timor-Leste,  com líderes que eu conheço bem e que tiveram um papel importante na libertação  do seu povo relativamente a uma outra ditadura e que agora têm memória curta,  mas eu não tenho", salientou. 

A eurodeputada sublinhou que o "mundo não para", sendo agora necessário  "passar a ter mais escrutínio" em relação ao que se passa na Guiné Equatorial,  no sentido de ajudar o povo "contra um regime ladrão e opressor". 

"Há muitas ações que são possíveis de empreender ao nível financeiro.  Há uns meses escrevi ao Banco de Portugal e à CMVM  Comissão do Mercado  de Valores Mobiliários sobre investimentos no país. E disseram-me que não  tinham sido solicitados a pronunciar-se sobre possíveis investimentos da  Guiné Equatorial, como por exemplo no Banif", contou. 

A responsável disse também que escreveu às autoridades europeias e à  própria agência europeia bancária de supervisão sobre o mesmo assunto. 

"Naturalmente, acionaremos todos os meios para que seja exercida vigilância,  para que este regime não utilize a CPLP para intensificar os esquemas de  branqueamento de capital, onde infelizmente há portugueses implicados, designadamente  os promotores da entrada da Guiné Equatorial na CPLP como o dr. Martins  da Cruz e Luís Amado", disse, referindo-se a dois ex-chefes da diplomacia  portuguesa. 

Ana Gomes disse ainda esperar que não aconteça aos empresários portugueses  o que aconteceu ao empresário Robert Rinaldi, que está preso na Guiné Equatorial  "porque ousou questionar os esquemas de branqueamento de capitais". 

Integram agora a CPLP Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné  Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. 

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