Depois da grande oração, várias procissões convergiram para o centro da capital através da praça Rabaa al-Adawiya, no Cairo, o local da principal manifestação pacífica que dura há mais de um mês e reclama o regresso sem condições do chefe de Estado Mohamed Morsi, destituído a 03 de julho pelo Exército e detido em segredo.
Milhares de manifestantes desfilaram também noutras grandes cidades, em particular em Alexandria (norte) e em Assuão (centro), empunhando fotografias do Presidente deposto, e no momento em que decorrem as celebrações do Eid al-Fitr, data que assinala o final do mês do Ramadão e se comemora até domingo.
Na cidade de Fayium, a sul do Cairo, registaram-se confrontos entre apoiantes de Morsi e a polícia, que respondeu com gás lacrimogéneo sobre os manifestantes. Destes confrontos resultaram quatro feridos, de acordo com o Ministério da Saúde.
Já na província de Charqiya, no norte, houve registo de conflitos em várias cidades entre manifestantes e habitantes, dos quais resultaram uma dezena de feridos, segundo a agência oficial Mena.
A situação é particularmente tensa depois do falhanço das mediações internacionais e do anúncio feito pelo Governo interino nomeado pelo Exército de que pretende acabar com as manifestações pró-Morsi depois do Ramadão. Com receio de que a situação no Egito termine num banho de sangue, os Estados Unidos da América e a União Europeia continuam a apelar às duas partes para chegarem a um compromisso.
Num mês, mais de 250 pessoas morreram -- principalmente entre os apoiantes de Morsi -- nos confrontos com a polícia ou com manifestantes anti-Morsi. Em zonas da cidade do Cairo como Rabaa al-Adawiya ou Nahda, os manifestantes barricaram-se com mulheres e crianças e, durante as celebrações do Eid al-Fitr, o número de pessoas cresceu de tal maneira em Rabaa que se criou um ambiente festivo, com atrações e espetáculos para as crianças.
Mohamed Morsi, primeiro Presidente egípcio eleito democraticamente, mas também o primeiro civil a chefiar os destinos do país, foi destituído depois de várias manifestações a exigir a sua demissão.
Os seus opositores acusam Morsi de ter monopolizado todos os poderes em benefício exclusivo da Irmandade Muçulmana e ter dado a machadada final numa economia já em ruína. O golpe de Estado foi anunciado pelo ministro da Defesa e chefe de Estado-maior do Exército, general Abdel Fattah al-Sissi, considerado depois como o verdadeiro homem forte do país. Entretanto, foram marcadas eleições para o início de 2014.
Quinta-feira, o primeiro-ministro interino, Hazem el-Beblawi, reiterou que a polícia irá intervir para dispersar as duas manifestações no Cairo.
Em Rabaa, tanto os mais velhos como os mais jovens afirmam que não irão ceder. Da parte do Governo há a informação de que os manifestantes terão armas escondidas, mas é impossível verificar estas acusações.
Os únicos sinais visíveis de uma possível resistência estão nas barricadas de tijolos e de sacos de areia que bloqueiam os principais acessos a Rabaa e a Nahda, assim como os paus e as barras de ferro dos homens responsáveis pela segurança.
A Irmandade Muçulmana prometeu, entretanto, uma "luta pacífica até que o país retome o caminho da democracia".
Lusa