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Trezentos imigrantes brasileiros manifestaram-se em Lisboa contra Governo  do Brasil 

Cerca de 300 imigrantes brasileiros manifestaram-se  hoje à tarde na Praça Luís de Camões, em Lisboa, juntando-se aos protestos  contra o Governo em curso no Brasil desde o início de junho, marcados pela  violência policial. 

JOAO RELVAS

As acusações ao Governo da Presidente Dilma Rousseff são várias -- corrupção  e falta de investimento na saúde e educação estão entre elas -, mas o que  desencadeou a revolta popular foi a subida dos preços dos transportes públicos  em 0,20 centavos de real (seis cêntimos). 

Em Lisboa, entre muitas bandeiras do Brasil, caras pintadas de verde  e amarelo e até cravos vermelhos, os manifestantes saíram à rua porque "Um  país mudo não muda", como se lia num cartaz, cantaram o hino brasileiro  e repetiram palavras de ordem acompanhadas de batucada. "Um, dois, três, quatro, cinco mil, a revolta no Busão vai parar todo  o Brasil!" e "O povo 'tá na rua, ô Dilma, a culpa é sua!", ou ainda "Ô-ô-ô-ô,  o gigante acordou!" e "Da Copa do Mundo, eu abro mão! Quero dinheiro p'ra  Saúde e Educação!". 

"Não é por 0,20 reais, é por direitos", lia-se num dos muitos cartazes  empunhados pelos manifestantes, alinhados em três filas nos degraus aos  pés da estátua de Camões, e em volta desta.  "Eles esqueceram, mas nós vamos lembrá-los de que somos um povo heroico,  obrado e retumbante!", era outra das frases escritas nos cartazes, bem como  "Nosso grito vai atravessar o Atlântico", "Seu filho está doente? Leva no  estádio!" e "Menos Copa, mais Dignidade". 

Camile Amorim, uma estudante universitária brasileira de 21 anos a fazer  intercâmbio em Portugal, explicou à Lusa que decidiu juntar-se ao protesto  por não concordar com muita coisa que está a acontecer no seu país.  "Eu quero me juntar aos jovens que estão no Brasil e ao redor do mundo  indignados também com o que está acontecendo: é corrupção, é muito dinheiro  gasto na Copa do Mundo, falta dinheiro para a educação, falta dinheiro para  a saúde, falta dinheiro para transporte público de qualidade e a gente quer  chamar a atenção de todo o mundo para isso e queremos uma mudança política  no nosso país", frisou. 

Débora, de 43 anos, proprietária de um hostel e residente em Portugal  há quase nove anos, fez questão de estar presente na manifestação para mostrar  o orgulho que tem no seu país neste momento de mudança iminente. "Fico muito orgulhosa de saber que o Brasil está tendo esse movimento  agora, é um amadurecimento político muito grande e vim aqui, porque, como  eu não estou lá, acho que tenho obrigação, como brasileira, de mostrar que  eu não dei as costas para o Brasil e estou aqui apoiando o que o Brasil  está fazendo. Para mim, é muito emocionante", observou. "Eu não sou contra a Copa do Mundo no Brasil, eu sou contra o pós-Copa  do Mundo, que é uma grande hipocrisia: depois, nós vamos pagar, como vocês  estão pagando agora o Euro 2004", acrescentou. 

A viver em Portugal há 4,5 anos, Robson Filgueiras, de 32 anos, desempregado,  considera este um momento crucial para que haja uma mudança no Brasil. "Eu acho que todo o cidadão brasileiro tem que apanhar o nosso país  nesse momento, porque estamos passando por uma nova revolução, e há muito  tempo que não tinha isso. O povo está cansado de ser passado para trás.  Se investe biliões em estádios e a saúde e a educação deixadas para trás  -- e isso, não pode", defendeu. 

Outra cidadã brasileira, Camila Carnicelli, uma paulistana de 35 anos,  há dois a residir em Portugal, e que trabalha na organização social Turma  do Bem, foi contundente: "O Brasil está numa vergonha descarada há muito  tempo e eu acho que o estopim foi os 20 centavos a mais no preço dos transportes,  sendo que não tem um investimento em transporte".  "Eu sou de São Paulo e a cidade é um caos, o transporte é precário para  o tamanho da cidade, não dá conta da demanda. Eu acho que aumentar mais  20 centavos sem devolver para o povo foi o limite. As pessoas estão cansadas  já faz tempo", sublinhou. 

Convocado através da rede social Facebook para Lisboa, Porto e Coimbra,  este foi também um protesto global, como lembraram as palavras de ordem  "Brasil, Grécia, Turquia, Portugal: a nossa luta é internacional!" e ainda  "O Povo Unido jamais será vencido!". 

 

     

 

Lusa

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