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Exército recebido com aplausos por moradores de favela no Rio de Janeiro

Os cerca de 800 soldados do Exército que desembarcaram esta sexta-feira à tarde em mais de 50 viaturas para dar apoio às ações policiais na região onde ocorrem os maiores conflitos no Rio de Janeiro, foram recebidos com aplausos pela população.

Enquanto as ruas da Vila Cruzeiro, favela ocupada desde quinta-feira pela tropa de elite da polícia, estão vazias, os moradores do bairro da Penha aplaudiram a chegada das centenas de militares à região do complexo de favelas do Alemão para dar segurança e reforço logístico no combate ao crime.



Segundo confirma um morador, que não quis identificar-se e que vive há 20 anos na comunidade da Merendiba, no complexo do Alemão: "a polícia está a ser bem recebida" .



Não é só a chegada da polícia que é importante para aquele morador. Segundo ele a urbanização pode retirar benefícios desta operação. "A gente está a torcer para que seja efetivo e que não volte ao que era antes" , disse à Lusa o morador, que lembrou ter vivido outros momentos "complicados" na favela.



Ele teme pelo seu filho de 10 anos. "A população fica refém de um grupo armado. No momento crítico eu tirei o meu filho e mandei-o para a casa de familiares" , afirmou, adiantando ainda que esta semana o filho não pôde ir às aulas porque foram suspensas.



O carioca explicou que esta é a primeira vez que vivencia algo parecido na comunidade. "No Rio, nunca teve nada disso" .



O mesmo afirma um ex-morador da Vila Cruzeiro, quando questionado sobre a receção da polícia por parte da população. O ex-morador, que apenas se identificou como Hércules, e que já presidiu à associação de moradores da favela, referiu que o "primeiro sinal é sempre o social" .



Hércules viveu durante 40 anos na comunidade, que há 24 horas deixou de estar sob o domínio do tráfico armado e, mesmo assim, afirma estar apreensivo.



"Tenho amigos lá e não tenho tido notícias deles, as linhas de telefone estão todas cortadas" , disse.



A dificuldade de receber notícias é o que agrava a sensação de insegurança. O professor de história, Paulo Roberto W, de 47 anos, disse à Lusa que tem conhecidos no bairro da Penha, na zona onde estão concentradas as operações policiais, e fica apreensivo com a situação dos moradores.



Ele já deu aulas comunitárias no bairro da Penha e diz estar "chocado" .



"Estou acompanhando pela televisão o que está a acontecer. A gente fica preocupado" , confessou.



Segundo descrições da imprensa local, as principais entradas do complexo do Alemão amanheceram hoje vigiadas por homens fortemente armados, numa ação conjunta das polícias Civil, Militar e com reforço da Polícia Federal.



Todas as pessoas que entram e saem da favela são rapidamente abordadas e, sob a mira de armas, são obrigadas a explicar o que estão a fazer e para onde se dirigem.



Muitos moradores estão a mudar-se para outras regiões. É comum ver famílias com crianças de colo e muitas malas saindo da comunidade.



O movimento nas principais avenidas da Penha tem sido interrompido para passarem os veículos policiais que seguem de um ponto para o outro no Alemão.



Desde quinta-feira, o comércio está parcialmente fechado.



Apesar do clima mais calmo nesta sexta-feira, os polícias continuam a andar com as armas em riste, apontadas para cima.



O cenário das ruas da Vila Cruzeiro é de destruição. É possível visualizar muitas carretas, carros e pequenas vans carbonizadas nas ruas.



As redes que levam luz e telefone para a comunidade estão queimadas, com fios soltos dos postes a cair sobre a rua.



Cerca de 150 escolas públicas fecharam as portas mais uma vez nesta sexta-feira e cancelaram as aulas, "por questões preventivas e com o objetivo de preservar a integridade física de alunos, professores e funcionários" .



Pelo menos 47 mil alunos de 135 unidades de ensino foram prejudicados com a falta de aulas.



Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Lusa
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