Segundo confirma um morador, que não quis identificar-se e que vive há 20 anos na comunidade da Merendiba, no complexo do Alemão: "a polícia está a ser bem recebida" .
Não é só a chegada da polícia que é importante para aquele morador. Segundo ele a urbanização pode retirar benefícios desta operação. "A gente está a torcer para que seja efetivo e que não volte ao que era antes" , disse à Lusa o morador, que lembrou ter vivido outros momentos "complicados" na favela.
Ele teme pelo seu filho de 10 anos. "A população fica refém de um grupo armado. No momento crítico eu tirei o meu filho e mandei-o para a casa de familiares" , afirmou, adiantando ainda que esta semana o filho não pôde ir às aulas porque foram suspensas.
O carioca explicou que esta é a primeira vez que vivencia algo parecido na comunidade. "No Rio, nunca teve nada disso" .
O mesmo afirma um ex-morador da Vila Cruzeiro, quando questionado sobre a receção da polícia por parte da população. O ex-morador, que apenas se identificou como Hércules, e que já presidiu à associação de moradores da favela, referiu que o "primeiro sinal é sempre o social" .
Hércules viveu durante 40 anos na comunidade, que há 24 horas deixou de estar sob o domínio do tráfico armado e, mesmo assim, afirma estar apreensivo.
"Tenho amigos lá e não tenho tido notícias deles, as linhas de telefone estão todas cortadas" , disse.
A dificuldade de receber notícias é o que agrava a sensação de insegurança. O professor de história, Paulo Roberto W, de 47 anos, disse à Lusa que tem conhecidos no bairro da Penha, na zona onde estão concentradas as operações policiais, e fica apreensivo com a situação dos moradores.
Ele já deu aulas comunitárias no bairro da Penha e diz estar "chocado" .
"Estou acompanhando pela televisão o que está a acontecer. A gente fica preocupado" , confessou.
Segundo descrições da imprensa local, as principais entradas do complexo do Alemão amanheceram hoje vigiadas por homens fortemente armados, numa ação conjunta das polícias Civil, Militar e com reforço da Polícia Federal.
Todas as pessoas que entram e saem da favela são rapidamente abordadas e, sob a mira de armas, são obrigadas a explicar o que estão a fazer e para onde se dirigem.
Muitos moradores estão a mudar-se para outras regiões. É comum ver famílias com crianças de colo e muitas malas saindo da comunidade.
O movimento nas principais avenidas da Penha tem sido interrompido para passarem os veículos policiais que seguem de um ponto para o outro no Alemão.
Desde quinta-feira, o comércio está parcialmente fechado.
Apesar do clima mais calmo nesta sexta-feira, os polícias continuam a andar com as armas em riste, apontadas para cima.
O cenário das ruas da Vila Cruzeiro é de destruição. É possível visualizar muitas carretas, carros e pequenas vans carbonizadas nas ruas.
As redes que levam luz e telefone para a comunidade estão queimadas, com fios soltos dos postes a cair sobre a rua.
Cerca de 150 escolas públicas fecharam as portas mais uma vez nesta sexta-feira e cancelaram as aulas, "por questões preventivas e com o objetivo de preservar a integridade física de alunos, professores e funcionários" .
Pelo menos 47 mil alunos de 135 unidades de ensino foram prejudicados com a falta de aulas.
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
Lusa