Meteorologia

"Já estamos acima dos 2 graus de aquecimento na Europa, quando comparado com o período pré-aquecimento global"

O Governo português declarou Situação de Alerta para o território continental devido ao agravamento das condições meteorológicas e ao risco de incêndios. Cinco distritos estão sob aviso vermelho devido às altas temperaturas. O especialista Ricardo Trigo explica os três mecanismos que estão na origem das ondas de calor, especialmente em Portugal, e destaca o impacto das alterações climáticas neste fenómeno.

Mariana Jerónimo

O Governo declarou Situação de Alerta para todo o território do continente entre as 00h00 de 3 de agosto, e as 23h59 de 7 de agosto, face ao agravamento das condições meteorológicas e ao risco muito elevado de incêndios rurais.

Cinco distritos de Portugal Continental — Braga, Bragança, Porto, Viana do Castelo e Vila Real — estão sob aviso vermelho devido às altas temperaturas, pelo menos até às 18:00 desta terça-feira, 5 de agosto, de acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Em entrevista à SIC Notícias, Ricardo Trigo explica que as zonas Norte e Centro do país têm sido predominantemente afetadas nos últimos dias, embora se preveja que o risco elevado de incêndio possa estender-se ao Alentejo e ao Algarve a partir da próxima semana.

Segundo o professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e investigador do Instituto Dom Luiz, as ondas de calor sempre existiram, e há três mecanismos que ajudam a explicar este fenómeno, especialmente em Portugal.

"Um dos fatores é o transporte de ar quente vindo da Meseta Ibérica, em Espanha, ou do Norte de África. Como o ar já está aquecido dos dias anteriores, acaba por transportar ainda mais calor. O segundo mecanismo é semelhante ao que acontece quando enchermos um pneu: trata-se da compressão do ar. Durante as ondas de calor, as camadas de ar mais elevadas têm tendência a descer num movimento de subsidência e, ao serem comprimidas, aquecem ainda mais ao atingirem as zonas mais baixas. O terceiro fator é a radiação solar, pois não temos nuvens a atenuar a exposição direta ao sol."

Ricardo Trigo menciona ainda o impacto das alterações climáticas e a sua influência nos vários mecanismos associados às ondas de calor. Reforça que a tendência é para que a temperatura da água continue a subir nos próximos anos, enquanto o Mediterrâneo se tornará mais árido.

"Nós já estamos claramente acima dos dois graus de aquecimento na Europa, no seu todo, quando comparado com o período pré-aquecimento global. As ondas de calor são fenómenos que tendem a ocorrer nestes verões, que são os mais quentes", acrescenta.
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