O céu da região de Lisboa trouxe no início da última semana de agosto nuvens com uma forma invulgar que surpreenderam e levaram a muitas partilhas e comentários nas redes sociais, incluindo a um esclarecimento do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Não sendo um tipo de nuvem rara, a forma adquirida é considerada invulgar. Ferradura, argola, donut ou disco, a imaginação varia, o certo é que os especialistas a designam por altocumulus lenticularis.
Numa publicação na rede social Facebook, o IPMA esclareceu que as nuvens observadas em Lisboa e arredores "de uma forma geral designam-se por altocumulus lenticularis, encontram-se a um altitude entre 3.000 e 6.000 metros e formam-se pelas interações entre montanhas, em certas condições de estabilidade atmosférica".
"As nuvens do género altocumulus podem ter formas ovaladas (lenticularis), alongadas, em forma de rolo, redondas ou laminares", especificou ainda o IPMA no Facebook.
Existe um organismo internacional que se dedica à observação e classificação das nuvens. O Atlas Internacional das Nuvens, da Organização Meteorológica Mundial (OMM), faz um estudo exaustivo e regular do fenómeno a nível global, como é explicado neste vídeo também divulgado pelo IPMA.
O que são as nuvens?
Fonte de inspiração para alguns, as nuvens são um fenómeno com uma explicação científica concreta e são parte essencial do sistema climático e do ciclo hidrológico da água.
"As nuvens são um espesso aglomerado de pequenas gotas de água proveniente da condensação do vapor de água existente na atmosfera sobre núcleos de condensação e que se mantém em suspensão na atmosfera devido aos movimentos ascendentes do ar", esta é a definição que consta na Infopédia, no âmbito do conceito da meteorologia, ciência que estuda separadamente os elementos do tempo e da atmosfera, como a temperatura, humidade, vento e pressão.
Principais tipos de nuvens
De acordo com o site do Atlas Internacional das Nuvens, existem três grandes grupos no que diz respeito à sua classificação vertical - altas, médias e baixas. Dentro destes grupos, há depois os diferentes tipos de nuvens.
- Entre as que se formam a maior altitude (entre os 3.000 e os 18.000 metros, consoante as regiões) estão as cirrus, cirrocumulus, cirrostratus.
As nuvens cirrus são difusas pois são compostas quase que inteiramente de cristais de gelo que caem na atmosfera. Se forem carregadas horizontalmente por ventos que se movem em diferentes velocidades, adquirem um formato de gancho característico. Só em altitudes ou latitudes muito altas as cirrus provocam chuva no nível da superfície.
Dentro deste tipo de nuvens cirrus, incluem-se as que são provenientes do fenómeno denominado Instabilidade Kelvin-Helmholtz, que acontece muito raramente. Parecem ondas do mar e surgem quando massas de ar em diferentes alturas de movem horizontalmente em diferentes velocidades.
- As nuvens que se formam a média altitude (entre os 2.000 e os 8.000 metros, consoante as regiões) designam-se por altocumulus, altostratus, nimbostratus.
Estas nuvens formam-se quando o ar desce para uma temperatura na qual não consegue mais suportar todo o vapor de água. Nessa temperatura, o vapor condensa-se para formar pequenas gotas de água líquida, que nós vemos na forma de nuvens. Para que esse processo aconteça, é necessário que o ar seja forçado a subir na atmosfera, ou que ar húmido entre em contato com uma superfície fria.
As nuvens do tipo altocumulus podem ser alongadas, redondas, laminares, em forma de rolo ou ovaladas (lenticularis), tais como as que foram observadas na região de Lisboa.
Em geral, não provocam chuva, embora quando se tornam mais largas e aumentam de tamanho possam apontar para precipitação intensa.
- Stratus, stratocumulus, cumulus, cumulonimbus são as nuvens que se formam a baixa altitude (da superfície da Terra ao 2.000 metros, consoante as regiões).
Surgem como uma folha de nuvens contínuas a cobrir o céu. Podem formar-se por ventos leves, ao levantarem o ar húmido acima de uma superfície fria ou marítima.
Este tipo de nuvens é idêntico à neblina e o máximo que poderá originar será um chuvisco ligeiro.
Primeiro Atlas Internacional das Nuvens publicado no final do século XIX
No Dia Meteorológico Mundial que se assinala a 23 de março, no ano de 2017, a OMM lançou o novo Atlas Internacional das Nuvens - a referência mundial para a observação e identificação de nuvens, que "combina as tradições do século XIX com a tecnologia do século XXI, contém centenas de imagens enviadas por meteorologistas, observadores de nuvens e fotógrafos do mundo inteiro", refere o site do IPMA.
O Atlas Internacional das Nuvens foi publicado pela primeira vez em 1896 e contém um manual detalhado de normas e inúmeras fotografias de nuvens e de alguns outros fenómenos.
Antes do lançamento deste novo Altas disponível online, a anterior atualização tinha sido feita em 1987.