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Doença pulmonar obstrutiva crónica é a quinta causa de morte no país

Apesar dos números elevados, 67% dos portugueses desconhece a doença, afirma a Sociedade Portuguesa de Pneumologia. Apostar na prevenção é a chave para salvar mais vidas, dizem especialistas.

Calcula-se que cerca de 70% dos doentes não estejam diagnosticados

Sara Fevereiro

Os dados são difíceis de apurar, mas a estimativa feita pelos especialistas aponta para que cerca de 10% dos portugueses convivam diariamente com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC). Sendo os números tão elevados, parece difícil de explicar que a maioria nunca tenha ouvido falar deste problema de saúde e, por isso mesmo, a comunidade médica e as associações põem a tónica na importância da prevenção, promovendo a literacia entre a população. Porque tal como acontece com a maioria das outras doenças, quando mais cedo for diagnosticado, melhor será o prognóstico.

Sinais, sintomas e fatores de risco

  • Tosse
  • Cansaço
  • Falta de ar

Estes são os principais sintomas da DPOC que devem levar os doentes a procurar ajuda. Ou seja, “são sintomas vulgares que, ainda por cima neste contexto de Inverno - em que há muitas infeções respiratórias - podem ser confundidos”, afirma João Neiva Machado, pneumologista. O subdiagnóstico é a grande preocupação da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, assim como das classes de profissionais de saúde que se dedicam à abordagem das doenças respiratórias. Calcula-se que cerca de 70% dos doentes não estejam diagnosticados e, por isso, não façam qualquer tipo de tratamento para o atraso da progressão das lesões pulmonares. A Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) sublinha a urgência de apurar os verdadeiros números da DPOC no nosso país. Cerca de 67% dos portugueses não sabem o que é a DPOC e, por isso, não conseguem identificar sintomas e sinais da doença. “É urgente apurar a prevalência da DPOC em Portugal e traçar o perfil de risco dos doentes, para que possamos tomar medidas de saúde pública preventivas e articuladas com as autoridades de saúde do nosso país”, afirma António Morais, presidente da SPP. João Neiva Machado garante que a SPP “vai andar a perceber - no decorrer principalmente do próximo ano - quantas pessoas efetivamente têm DPOC em Portugal”.

Relativamente aos fatores de risco, João Neiva Machado aponta o consumo de tabaco como a principal causa. “Os fumadores são - de longe - a população mais afetada pela DPOC, são o principal grupo de risco”, explica. O fator de risco mais comum é uma exposição crónica inalatória predominante a algum tipo agente, não só o tabaco como qualquer tipo de fumos, tintas, ou qualquer outro produto químico inalado. Uma causa menos frequentemente, mas ainda assim possível, é um desenvolvimento pulmonar anormal, com um envelhecimento acelerado do pulmão.

A importância do diagnóstico precoce, na primeira pessoa

José Albino tem 74 anos, descobriu há 24 que tinha DPOC. O presidente da RESPIRA - Associação Portuguesa de Pessoas com DPOC e outras Doenças Respiratórias Crónicas - é um bom exemplo de como o diagnóstico precoce fez toda a diferença no evoluir da doença, por um lado, e no impacto da mesma na sua qualidade de vida, por outro. Começou a ficar muito cansado, com tosse e expectoração. “Tinha um cansaço que não era normal e fui ao médico para ver o que se passava, foi nesse altura que me diagnosticaram”. Na época trabalhava como delegado de informação médica, tinha um conhecimento acima da média sobre as questões relacionadas com a saúde e não hesitou em procurar ajuda juntos dos especialistas. “Um dos maiores problemas é os sintomas não serem valorizados, as pessoas associam os sinais à idade ou a doença cardíaca”, alerta José Albino. O que é certo é que a doença não se compadece da falta de informação ou de consciência e vai progredindo e evoluindo. Muitas vezes, o diagnóstico não se faz atempadamente. “Grande parte dos doentes só é diagnosticado quando tem uma urgência hospitalar, já em estado avançado e a precisar de suporte de oxigénio”, destaca o presidente da associação. Como para esta doença há uma perda continuada de função pulmonar, chega a um ponto em que os níveis de oxigénio deixam de ser suficientes e é necessário esse suporte. Outra das características da doença, que explica também os números elevados de mortalidade é que, quando esta se agudiza, o seu estadio “nunca é reversível”.

Principais desafios

Em termos de prevenção, José Albino refere que os médicos de família “precisam estar mais atentos” aos contornos da doença, para que consigam identificar rápido a possibilidade da sua existência nos doentes. “Uma grande falha do nosso sistema de saúde, que é classificado como modelo, está na falta de organização e na implementação” dos processos previstos para o diagnóstico da DPOC. Embora a prática de espirometrias - exame simples em que a pessoa sopra para medir os seus níveis de oxigénio - exista, está muito pouco implementada e precisa de ser alargada. Outra lacuna identificada pelo presidente da RESPIRA é a reabilitação respiratória, que é quase inexistente, chegando, no máximo, a 2% da população com esta doença. “Essa reabilitação deveria ser realizada nos centros de saúde, em locais mais próximos da comunidade, pois é uma das melhores ferramentas para aumentar a qualidade de vida dos pacientes”, conclui.

Aumentar a prevenção através da literacia: o papel da RESPIRA

A associação tem como principal objetivo contribuir para a prevenção e tratamento das doenças respiratórias e ser um pilar na defesa dos interesses e direitos das pessoas com DPOC e outras doenças respiratórias crónicas. Promover o conhecimento está entre os pilares de ação da RESPIRA, que tem agido, por exemplo, entre as camadas mais novas da população. “Estivemos numa escola e conversámos com jovens do ciclo preparatório sobre os malefícios do tabagismo”, explica José Albino, porque “acreditamos que a prevenção deve começar nessa idade”. Além do tabagismo, que é o maior flagelo existente, a associação luta também por outras causas, como a necessidade de mais consultas para desabituação tabágica e promove, igualmente, a vacinação contra a gripe, a COVID-19 e a vacina antipneumocócica juntos dos doentes.

A associação também permite que os doentes tenham contacto direto com os seus pares e se sintam, desta forma, mais compreendidos e apoiados. “Os grupos de entreajuda funcionam muito bem”, garante José Albino.

Para saber mais sobre a RESPIRA pode consultar o site da associação e a página de Facebook. Em breve também estará presente no instagram.


A SIC Notícias – com o apoio da Sanofi – lança o projeto “Doenças diferentes, um elo comum”. Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pela SIC Notícias (ver Código de Conduta), sem interferência externa.

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