Web Summit

Web Summit: o que estão a inventar os empreendedores portugueses?

Do ambiente à saúde, da cibersegurança à produção energética, conheça algumas das ideias portuguesas que nestes últimos dias foram apresentadas nas Web Summit.

Ana Isabel Pinto

Filipa Traqueia

São mais de 280 as startups portuguesas que, nos últimos dias, apresentaram as suas ideias e projetos na Web Summit. Alguns empreendedores vêm pela primeira vez, outros já participaram em edições anteriores e procuram continuar a crescer. Há também quem tenha novos projetos para mostrar.

Este número é também impulsionado pelo “record” de startups que foram escolhidas para integrar o Road 2 Web Summit, desenvolvido pela Startup Portugal. Este projeto pretende apoiar os empreendedores e prepará-los para apresentarem as suas ideias a potenciais investidores. O CEO da incubadora, António Dias Martins, afirma que há “startups de todos os pontos do país”: "Cerca de 45% vêm de Lisboa, e perto de 55% vêm de todo o país", disse aos jornalistas.

Do ambiente à saúde, da cibersegurança à produção energética, estas são algumas das ideias portuguesas que são apresentadas nas Web Summit.

Windcredible, uma ideia vencedora que quer adaptar a energia eólica às cidades

O protótipo de uma turbina urbana chama a atenção. Filipe Fernandes e Nelson Batista, fundadores da Windcredible, sobem ao palco para receber o prémio de 5.000 euros, pela startup com melhor performance durante o Road 2 Web Summit. Foram uma das duas startups portuguesas a ser distinguidas pela Startup Portugal.

"O principal objetivo do Road 2 Web Summit é preparar-nos", conta Filipe Fernandes. “Ajuda-nos a definir um objetivo próprio e a alcançar esse objetivo. Dão-nos ferramentas que, na hora da verdade, fazem diferença.”

A ideia foi desenvolvida por Nelson Batista, durante o doutoramento: "Tive a ideia de criar uma turbina para o meio urbano, que tem ventos muito turbulentos. Esta turbina é mais eficiente, consegue absorver mais energia, não precisa de se orientar e dura mais tempo", explica.

Em média, uma destas turbinas consegue produzir anualmente o equivalente a sete painéis solares instalados em Lisboa. Com este prémio, a Windcredible quer investir na criação de um modelo mais pequeno que poderá ser utilizado em campismo, caravanismo ou pequenas embarcações. A chegada ao mercado está prevista para 2024.


Glooma, os repetentes que sonham um dia ser um unicórnio

Na edição do ano passado, Frederico Stock e Francisco Nogueira apresentaram a sua ideia: uma luva capaz de identificar nódulos mamários e alertar a mulher para consultar o médico. Agora, com uma nova versão da luva calçada, os dois empreendedores falam de como o negócio cresceu.

"Ganhámos alguns prémios, o que nos permitiu expandir a nossa equipa. Além disso, já estamos a testar o nosso dispositivo em quatro hospitais, estamos a trabalhar no processo para outros três", conta Frederico Stock.

Ambos os empreendedores consideram que a presença na Web Summit 2021 foi muito importante, uma vez que "abriu imensas portas" à Glooma e permitiu angariar "muitos contactos úteis". Francisco Nogueira destaca ainda a "visibilidade e credibilidade" que o evento deu à startup.

"Nós estamos a levantar a primeira ronda de investimentos porque, até agora, foram tudo apoios de empresas portuguesas. Desde a Web Summit, conseguimos ganhar 65 mil euros só em prémios, o que nos deu para alavancar imenso o nosso projeto", explica Francisco Nogueira.

A Sense Glove já está em processo de certificação pelos reguladores europeus e o próximo passo será a validação da FDA (o regulador norte-americano). Além disso, os dois empreendedores procuram estender os ensaios clínicos a outros países.

Frederico Stock e Francisco Nogueira consideram que Portugal é um bom país para começar uma startup. "Acreditamos que o ecossistema de Portugal está a ser trabalhado para permitir que mais pessoas tenham mentalidade empreendedora e possam começar a criar os seus projetos, sem medo de arriscar", diz um dos fundadores da Glooma.


Skizo, a "ideia louca" que se tem vindo a expandir cada vez mais

Em 2018, Andreia Coutinho, agora com 36 anos, trouxe à Web Summit uma "ideia louca": transformar o lixo dos oceanos em têxtil. Agora, cinco edições depois, a Skizo tem mais produtos para apresentar e muitos projetos ainda por concretizar.

"Com a ajuda de pescadores, recolhemos plástico diretamente do oceano e transformámos em têxtil. E em colaboração com a Marinha Portuguesa, recolhemos também redes de pesca que são outro grande problema nos nossos mares", conta Andreia Coutinho, sublinhando o amor que tem pelo mar.

A componente ambiental vai além da origem do material. A Skizo quer também ser uma empresa sem desperdício e, por isso, tem uma produção por demanda - o que permite também a personalização dos produtos.

Começaram com calçado, mas, com apenas um ano, a produção da empresa teve de parar devido à pandemia. "Tínhamos de continuar com a nossa missão de limpar os oceanos", sublinha a empreendedora. Começaram a criar máscaras sustentáveis e certificadas, o que abriu caminho para a criação de sacos que recolhem microplásticos durante as lavagens de roupa.

"Se, com as máscaras, conseguíamos reter um grande nível de bactérias, então também conseguíamos também reter os microplásticos", afirma.

O próximo passo da Skizo é criar uma linha de roupa e vão "começar com casacos de inverno", anuncia em primeira mão.

WalliM quer tornar a comunicação entre pessoas mais fácil

"Ser prático é o objetivo da nossa marca", começa por dizer Telo de Castro, um empreendedor de 29 anos que vem de Viseu. Na mão tem um cartão preto, com um QR code e o logo da WalliM. Mas, no interior deste cartão, estão todos os contactos do empreendedor.

Com um telemóvel na mão, Telo de Castro toca com o cartão no smartphone e logo aparecem os contactos. Enquanto exemplifica, o empreendedor explica o conceito: "Carrega a informação aqui dentro - o e-mail, número de telefone, o LinkedIn, o Instagram, o Facebook, a página pessoal, etc. Ao tocar com o cartão no telemóvel da pessoa com quem estás a criar uma ligação, vão aparecer os contactos no telemóvel dela."

Além da passagem de contactos, o cartão permite a criação de diferentes perfis. Se a conversa for pessoal, pode selecionar na aplicação própria os contactos pessoais; se estiver numa reunião de negócios pode optar por passar apenas os contactos profissionais. Para isso basta selecionar o perfil previamente criado antes de usar o cartão.

Esta não é, no entanto, a primeira criação da WalliM. A empresa de Telo de Castro começou por desenvolver carteiras com proteção RFID - que impede roubos através dos sistemas de contactless existente nos cartões bancários - e passou depois para organizadores de chaves. Os Smart Business Cards são a novidade que querem apresentar aos clientes e empresas.

NOTCyberSec ambiciona proteger os dados dos ataques informáticos

A segurança dos dados é uma preocupação que levou Gonçalo Gil, de 22 anos, a criar uma startup. O jovem estudante do IPP traz à Web Summit uma proposta que ambiciona proteger os dados pessoais e das empresas de ataques informáticos do tipo ramsomware - quando o atacante acede e encripta os dados, exigindo um pagamento para devolver a informação.

Esta solução apresentada pela NOTCyberSec permite usar cadeias de blockchain - tecnologia base das criptomoedas e NFTs - para armazenar os dados. Uma vez que as informações gravadas nas blockchains não podem ser alteradas, os dados que serão lá guardados tornam-se imutáveis e impossíveis de encriptar.

"Não é possível encriptar esses dados, não é possível alterá-los depois de os inserir, por isso também não dá para manipular", explica Gonçalo Gil.

O jovem estudante é apaixonado por hacking, uma área na qual tem vindo a investir desde os 14 anos. Participa em competições mundiais e está, atualmente, no top 10 dos melhores hackers portugueses e entre os mil a nível mundial. Além de uma paixão, a cibersegurança é também uma das principais preocupações de Gonçalo Gil, mas considera que "Portugal está no bom caminho".

“A cibersegurança é crucial e vai continuar a ser cada vez mais porque a informação é poder, é dinheiro e, no final do dia, nós somos informação. Nós temos uma pegada digital imensamente grande, se não prezarmos por mantê-la segura - ou seja, nossa e íntegra - estamos a influenciarmo-nos ao mesmo tempo.”

Com uma startup tão jovem, a equipa da NOTCyberSec procura "conselhos e feedback", querendo também perceber "as necessidades do mercado" para melhorar o produto que desenvolveram. "Obviamente também estamos abertos a uma ronda de investimentos", acrescenta.

55+, uma a associação entre as startups

Não são uma startup nem apresentam uma tecnologia inovadora. Mas também há lugar para a associação 55+ na Web Summit. Este projeto sem fins lucrativos quer manter ativas as pessoas com mais de 55 anos que estão desempregadas ou reformada.

"A partir dos 55 anos, as oportunidades de trabalho são mais complicadas. A sociedade continua a acreditar que estamos velhos e obsoletos, mas nós não acreditamos nisso e temos muitas provas contrárias", afirma André Moreira, responsável pelo desenvolvimento da associação.

Eletricistas, jardineiros, costureiros, chefs são apenas alguns dos serviços oferecidos por esta organização que já reúne mais de 2.000 "especialistas" em Lisboa e no Porto. A associação facilita "o encontro entre as pessoas que querem estar ativas e contribuir para a sociedade e as pessoas que precisam de um serviço ao domicílio".

BizzBizz quer ajudar outras startups a conseguir investimento

Yana Vdodovich e Oleg Redko não são portugueses, mas a startup que os dois apresentam na Web Summit é. São refugiados ucranianos, viviam da Crimeia - de onde foram obrigados a fugir em 2014, quando a Rússia invadiu a península. Este ano, devido à guerra, tiveram de sair de Kiev, onde viviam. Chegaram a Portugal há cerca de seis meses e foi cá que desenvolveram a BizzBizz, um projeto que ajuda outras startups a encontrarem investidores e disponibiliza uma plataforma de crowdinvestment.

"Conheciamos um pouco de Portugal e achámos que era o melhor país para iniciarmos a nossa startup, com o melhor ecossistena de inovação", diz Yana Vdodovich. "Planeamos ficar em Portugal. O ecossistema é fantástico, queremos integrarmo-nos o mais rapidamente possível e fazer parte do sistema", prossegue.

Para Oleg Redko há outras vantagens em ficar em Portugal: “tem boas pessoas, boa comida e muito sol... Não vamos sair daqui.”

A BizzBizz foi considerada uma das startups com maior potencial, os dois empreendedores tiveram a oportunidade de apresentar a sua ideia ao Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, ao ministro da Economia, António Costa e Silva, e ao CEO da Web Summit, Paddy Cosgrave.

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