Sentadas e de olhos postos no palco principal, milhares de pessoas aguardavam ansiosamente a entrada de Tim Bernardes no palco principal do Vodafone Paredes de Coura. Era o arranque do segundo dia no palco Vodafone, e Tim preparava-se para arrastar uma multidão de pessoas para a abertura do palco principal. No primeiro dia, os Dry Cleaning, que abriram o palco Vodafone, não tiveram nem metade da capacidade de mobilização.
Ainda tocava a portuguesa “A Garota Não” no palco Yorn quando a voz e a viola do brasileiro começaram a ecoar no recinto. De repente, centenas de pessoas começaram a correr para ouvir Tim. Sozinho em palco, com um fundo verde - um ambiente a remeter para o seu último álbum “Mil Coisas invisíveis”, editado em 2022 - Tim Bernardes fez uso de uma viola, de um piano e da voz para impressionar milhares de pessoas.
Mas, horas antes de o brasileiro subir ao palco, já havia no relvado quem guardasse um lugar na primeira fila o para ver. Foi o caso de João Moreira, que veio de Lisboa de propósito para ver o Tim Bernardes.
“Ver o Tim Bernardes aqui [em Paredes e Coura] é uma coisa completamente imperdível. (…) Este é o palco para ver o Tim Bernardes", começou por dizer.
João já veio a mais de seis edições do Vodafone Paredes de Coura. Conheceu Tim Bernardes através dos portugueses Capitão Fausto que gravaram uma versão da canção “Recomeçar” com o brasileiro.
Trazia consigo a esperança de poder falar com Tim Bernardes e de lhe poder entregar um presente. E, logo após do ‘sound check’, conseguiu vê-lo, acenar-lhe com um pequeno livro e entregar-lhe em mãos a poesia da sua tia.
“Eu acenei-lhe com o livro e ele veio logo perguntar se era para ele. Eu dei-lhe esse livro de poesia da minha tia. Espero que faça bom uso dele”, contou.
João ofereceu-lhe um livro de poesia de bolso da escritora e professora Yvette K. Centeno. Será que Tim leu o livro?
Entretanto, às 18:40 horas em ponto, Tim Bernardes subiu ao palco. Passados dez minutos do início do concerto, ainda havia quem corresse e tentasse encontrar um lugar no relvado.
Em entrevista à SIC Notícias, o músico brasileiro contou que, apesar de ter trazido uma ‘set list’ preparada para o Paredes de Coura, conseguiu acolher alguns pedidos do público.
“Eu tenho sempre uma set list preparada, mas eu não preciso de a respeitar, porque não toco com mais ninguém. Então, em algum momento, eu pergunto ao público o que eles querem”, afirmou.
Da multidão vinham vários pedidos que o artista foi atendendo à medida que conseguia. Lá tocou um trecho de “Bielzinho”, música da sua banda “O Terno”, e ainda invocou a sua “ídola” Gal Costa, com “Realmente Lindo”.
“Eu vejo que as pessoas conhecem [Gal Costa], tanto os brasileiros quanto os portugueses. Eu, de alguma forma , sinto-me parte dessa música que foi feita no Brasil nos ano 60/70, esse tipo de canção. Então cantar essas músicas é natural porque é o que eu cresci ouvindo”, disse à SIC Notícias.
Tim sentia-se em Woodstock, como chegou a dizer logo no início do concerto. Até então, em Portugal, tinha apostado nos concertos em salas fechadas que davam destaque ao seu estilo intimista. Trazer essas canções a Paredes de Coura podia ser um risco, mas os festivaleiros ajudaram a criar o ambiente certo.
“Fiquei surpreso porque, às vezes, o festival é um ambiente um pouco mais barulhento para canções assim mais íntimas. E aqui deu para sentir que era um público que queria ouvir a música e parecia que eu estava num teatro mesmo”, referiu.
Nos ecrãs laterais do palco e distribuídos pelo recinto, iam aparecendo casais que selavam o momento com um beijo e muitos festivaleiros em lágrimas. Já no fim do concerto, falámos com três jovens fãs do cantor que disseram que o ambiente intimista de Tim Bernardes abria espaço à “vulnerabilidade”.
Para o cantautor, esse é o objetivo da arte: o sentir à flor da pele, sem ter de “envelopar” as emoções, e sentir a vida, tal e qual como ela é.
Puxámos agora a fita atrás. João entregou o livro de poemas a Tim com a esperança de que o músico o lesse. Quisemos saber o que fez o brasileiro com a oferta que lhe chegou às mãos.
Entre os testes de som e o espetáculo, Tim Bernardes leu o livro escrito pela tia de João, Yvette K. Centeno.
“[O livro] é muito bonito. Acho que é uma poetisa dos anos 80, não é?”, disse.
E continuou:
“Eu ganho uns presentes e tenho muito tempo livre no camarim. Eu olho e leio tudo”, contou.
A língua portuguesa foi destaque no arranque do festival esta quinta-feira. A Garota Não e Tim Bernardes trouxeram milhares de pessoas ao Vodafone Paredes de Coura.