Em todo o mundo, uma pessoa suicida-se a cada 40 segundos. O suicídio não escolhe idade, género ou classe social. Em Portugal, é a causa de morte de, pelo menos, três pessoas todos os dias. Miguel Ricou, membro da Ordem dos Psicólogos, que encara o fenómeno como "complexo e delicado", considera fundamental o acesso a profissionais. O Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, que se assinala a 10 de setembro, quer alertar para a importância da saúde mental.
O suicídio é, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma das principais causas de morte em todo o mundo. Morrem desta forma quase 800 mil pessoas todos os anos. Feitas as contas, corresponde a cerca de um suicídio a cada 40 segundos. Em Portugal, matam-se, pelo menos, três pessoas por dia, mas o número pode ser superior. As estatísticas são da Ordem dos Psicólogos. Este é um tema ainda "tabu e delicado", reconhecem os profissionais.
Desesperança, solidão e pessoas em "enorme sofrimento". São três "vetores" apresentados por Miguel Ricou, presidente do Conselho de Especialidade de Psicologia Clínica e da Saúde da Ordem dos Psicólogos Portugueses, à SIC Notícias. Perante estes fatores, os idosos são, "genericamente", pessoas que poderão ser mais propícias ao suicídio. Mas este "acidente" afeta pessoas de todas as idades. As "alturas de crise" são também de maior risco, assim como pessoas com uma "tristeza patológica".
Para o psicólogo, cauteloso em toda a entrevista, falar sobre suicídio é "delicado" e "complexo". Afinal, é um fenómeno “catastrófico” tanto para quem morre como para "quem cá fica".
Quero morrer". Estas pessoas querem chamar à atenção?
A vontade de morrer é, para Miguel Ricou, "algo flutuável" ao longo do tempo. Ou seja, que vai aparecendo e desaparecendo. À SIC Notícias, aponta para um maior risco em pessoas impulsivas e em pessoas assertivas.
"Pode parecer estranho, mas as pessoas mais assertivas têm maior risco porque estão habituadas a fazer o que sentem", afirma.
Questionado sobre os sinais a que se deve estar atento, o psicólogo responde com cautela:
"Falar de sinais responsabiliza as pessoas. Há a vítima, que comete o suicídio, e há todos os outros que lidam com ela que também são vítimas. É fundamental não responsabilizarmos. O suicídio é um fenómeno raro e difícil de antecipar que vai acontecer. É uma ideia complexa".
O suicídio é um "acidente catastrófico", reforça.
"Não gosto da ideia de que uma pessoa queria chamar à atenção ao dizer que lhe apetece matar-se. Estas pessoas estão em enorme sofrimento", afirma. Até porque, defende, "alguém que pensa na morte" ou que tenha "fatores de risco" pode não suicidar-se.
"As pessoas que referem a morte não se matam mais do que as que não falam disso", acrescenta.
Falar sobre suicídio? É preciso "muito cuidado"
É preciso "muito cuidado" ao falar de suicídio, alerta o presidente do Conselho de Especialidade de Psicologia Clínica e da Saúde da Ordem dos Psicólogos Portugueses, reconhecendo que é ainda um assunto "tabu".
"Tentamos sempre encontrar as causas. É como o caso de um indivíduo que teve um acidente de carro e dizemos que costumava conduzir muito depressa. Há uma culpabilidade, uma necessidade de encontrar as causas", aponta.
O suicídio é a segunda causa de morte em pessoas entre os 15 e os 34 anos. Os jovens homossexuais ou bissexuais têm uma probabilidade "três vezes maior" de se suicidarem, uma probabilidade que aumenta se a família não aceitar a orientação sexual.
Como "dar a mão" a quem precisa de ajuda
De acordo com a Ordem dos Psicólogos, o número de tentativas de suicídio é cerca de 25 vezes superior ao número de suicídios.
Para o psicólogo ouvido pela SIC Notícias, a melhor prevenção é haver uma acessibilidade aos serviços de saúde para os profissionais conseguirem "apanhar as pessoas na altura em que têm de apanhar".
Miguel Ricou reconhece que "ainda é preciso fazer muito" na área da saúde mental, contudo, considera que se está a "fazer um caminho".
"A saúde mental é vista como uma pequena área que se pode adiar. Mas ter dificuldades, procurar ajuda e essa ajuda não existir é dramático", realça.
Se for o seu caso...
Se se sentir triste, sozinho e sem esperança, saiba que não está sozinho. Se tiver pensamentos suicidas, saiba que tem uma rede de profissionais (e voluntários) que lhe podem "dar a mão" e ouvi-lo.
Número Europeu de Emergência
112
Aconselhamento Psicológico (SNS 21)
808 24 24 24
SOS Voz Amiga (Telefone da Amizade)
222 080 707
213 544 545
912 802 669
963 524 660
228 323 535
Linha Verde
800 209 899
Conversa Amiga (Voz de Apoio)
225 506 070
808 237 327
210 027 159
Vozes Amigas de Esperança
222 030 707
Voz de Apoio
225 506 070
Dia Mundial de Prevenção do Suicídio
Pelo mundo, o Dia de Prevenção do Suicídio assinala-se a 10 de setembro. O objetivo é consciencializar e chamar à atenção para a importância da prevenção em saúde mental. Foi criado pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio e pela Organização Mundial da Saúde.
Em Portugal, a Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental assinala o dia, na segunda-feira, um dia depois, com um evento da Sociedade Portuguesa de Suicidologia, em Vila Real.
A entrada na sessão "Criar esperança através da ação", que se realiza da parte da tarde na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, é gratuita, mas é necessário inscrever-se. A Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio vai ser apresentada no evento, que conta com a participação de responsáveis e especialistas na área da saúde mental.
Neste Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, os Cantadores do Desassossego, um grupo coral formado sobretudo por reformados, apresentam ao público de Beja uma música para combater ideias suicidas.
O Alentejo e o Algarve continuam a ter as taxas mais altas de suicídio do país, apesar de os números oficiais apontarem para uma descida a nível nacional.
A SIC foi conhecer uma iniciativa de uma médica, em Beja, que tem como objetivo abordar o problema de uma forma mais descontraída.
Entre os participantes estão pessoas que já tiveram de lidar com problemas de saúde mental e que encontraram na confraternização uma forma de se sentirem melhor.
Ana Matos, coordenadora regional da saúde mental, explica que a letra da música consegue passar “uma mensagem mais generalista não só focado na região do Alentejo”.