Saúde Mental

"Ter uma crise de ansiedade é como estar num cenário de guerra", saiba como agir

Quando está muito calor e o nosso corpo fica muito quente, podemos sentir sintomas semelhantes aos de um ataque de pânico. A dúvida instala-se muitas vezes. Será calor, uma crise de ansiedade, um ataque de pânico ou um ataque cardíaco. A psicóloga Teresa Feijão ajuda a esclarecer e explica o que fazer.

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SIC Notícias

Como identificar uma crise de ansiedade?

A ansiedade é uma emoção normal. Sentir ansiedade em situações novas, desafiantes, perante mudanças ou face a momentos de avaliação por outros, por exemplo, é apenas uma reação comum e naturalmente defensiva do organismo.

Diferente disso são as crises de ansiedade. O que caracteriza uma crise de ansiedade é o fato da pessoa ter sintomas de ansiedade de forma repentina e intensa, às vezes sem motivo aparente.

É uma reação extremamente forte que, na maioria das vezes, se caracteriza por uma sensação inexplicada de medo, respiração irregular, taquicardia e tremores no corpo.

Essas crises podem manifestar-se de forma completamente aleatória e involuntária, o que acaba por interferir drasticamente no quotidiano da pessoa. E é aqui que a ansiedade passa a ser considerada um transtorno.

Estas crises tornam-se ainda mais preocupantes se se considerar o fato de que, na maioria das vezes, os portadores de transtornos de ansiedade já terem um historial de descontrolo emocional, o que compromete a sua saúde física e emocional e faz com que os medos e preocupações irreais dessas pessoas sejam exacerbados, intensificando mais os sintomas das crises de ansiedade.

Quais os sintomas da crise de ansiedade?

Uma das melhores definições para as múltiplas sensações sentidas numa crise de ansiedade, é a comparação com um cenário de guerra, onde, mesmo que o inimigo não esteja presente, as ameaças à vida são reais e constantes e o corpo sente que precisa manter-se em alerta e reagir de imediato.

A crise de ansiedade gera uma descarga de adrenalina no organismo, acabando por originar sintomas físicos mais intensos.

Qual a diferença entre uma crise de ansiedade e um ataque de pânico?

As diferenças entre uma crise de ansiedade e um ataque de pânico residem na intensidade, tempo de duração, causas e presença ou não de agorafobia (medo que uma pessoa tem de se encontrar numa situação no exterior onde possa ser difícil fugir, caso haja necessidade, tais como nos transportes públicos, cinemas e centros comerciais. Tal potencia mais facilmente ataques de pânico).

Os ataques de pânico são repentinos e pontuais, as crises de ansiedade intensificam-se com o passar do tempo e prolongam-se no tempo, com frequência tendencialmente aumentada.

Os sintomas da crise de ansiedade são tipicamente de menor intensidade que os de um ataque de pânico, mas acabam por afetar mais a vida da pessoa devido exatamente à sua persistência de ocorrência ao longo do tempo.

As raízes dos dois problemas ainda não estão totalmente esclarecidas, mas, no caso da ansiedade, frequentemente há um gatilho envolvido, além de uma certa predisposição genética.

Como diferenciar uma crise de ansiedade de um ataque cardíaco?

Existem algumas semelhanças entre os sintomas de uma crise de ansiedade e um ataque cardíaco e por isso é importante saber distinguir estes sintomas, de forma a evitar ainda mais ansiedade com a preocupação do que possa estar realmente a acontecer.

Geralmente, durante uma crise de ansiedade, existe um motivo para que a pessoa tenha estes sintomas, tal como uma separação, uma perda, uma discussão, uma apresentação em público ou uma avaliação, por exemplo, e a dor sentida no peito é menos intensa do que numa situação de enfarte/ataque cardíaco.

Portanto, a dor no peito de um enfarte é muito forte e é comum sentirem-se os reflexos da dor nos ombros, nos braços, queixo, costas e até no abdómen. Internamente, o ataque cardíaco acontece quando as artérias que irrigam o coração sofrem algum problema, como o entupimento das mesmas, e são impedidas de levar sangue até ao músculo cardíaco, o qual começa a entrar em necrose (morte do tecido cardíaco).

Para além disso, passado algum tempo do início da crise de ansiedade, os sintomas vão desaparecendo e o corpo começa a relaxar, enquanto que durante um enfarte, os sintomas tendem a piorar ao longo do tempo.

Há também que considerar que se a pessoa tiver historial familiar de doença cardíaca, enfartes anteriores ou existirem dúvidas se é realmente esse o problema, é importante uma consulta de urgência com exames, tais como eletrocardiograma ou análises de sangue, para confirmar o diagnóstico e receber o tratamento adequado.

O que fazer durante uma crise de ansiedade?

Quando a crise de ansiedade ocorre pela primeira vez ou quando não se tem certeza se realmente se trata de uma crise de ansiedade, é importante descartar clinicamente a possibilidade de outros problemas mais graves como um enfarte.

O que se deve fazer durante uma crise de ansiedade depende da gravidade e da frequência dos sintomas e, por isso, o ideal é sempre receber aconselhamento de um psicólogo. No entanto, há sugestões que podem ajudar a aliviar os sintomas da crise.


Focar no controlo da respiração: respirar calmamente, inspirando pelo nariz e expirando pela boca.


Beber chás calmantes (camomila, valeriana ou tília).


Tentar exprimir as emoções, gritar ou chorar, caso se tenha vontade, ou conversar com alguém de confiança, para aliviar os sintomas.


Descansar e tentar” desligar" a mente, evitando estímulos como telemóveis, rádio ou televisão.


Fazer exercício físico, procurando uma atividade prazerosa, pois tal ajuda a desviar a atenção da situação causadora da ansiedade, para além de aumentar a produção de neurotransmissores que ajudam a promover a sensação de bem-estar e relaxamento, contribuindo para uma melhor gestão da ansiedade.


Recorrer a medicação SOS para ansiedade, orientada pelo médico.

Caso as crises de ansiedade sejam muito frequentes, é importante procurar ajuda de um psicólogo, de modo a identificar a causa das crises e desenvolver estratégias que ajudem a lidar com os sintomas, de forma a que desapareçam mais rápido e se tornem menos frequentes.

A psicoterapia pode auxiliar a pessoa a encontrar sentido no que sente que foge ao seu controlo. São identificados gatilhos para os sintomas da crise de ansiedade ou ataque de pânico, traumas e questões mal resolvidas do passado, e estratégias para a tomada de consciência e trabalho de superação.

Muitos dos acontecimentos do passado que causam sofrimento no presente não foram bem "arrumados" na época. Dessa forma, é preciso enfrentar e trabalhar eventos traumáticos e desagradáveis, com o objetivo de apaziguamento mental e consequente melhoria da qualidade de vida.

Em alguns casos, poderá haver a necessidade de uma intervenção psiquiátrica em conjunto com a psicoterapia.

As mudanças no modo de vida são igualmente fundamentais.

A pessoa ansiosa, depressiva ou que sofre de ataques de pânico deve adotar certos hábitos para rotinas mais saudáveis como a prática frequente de exercício físico, uma alimentação saudável e equilibrada e planeamento de mais momentos de descanso e melhoria da qualidade do sono.

Infelizmente, a maioria das pessoas procura ajuda psicológica quando as crises de ansiedade e pânico já se tornaram incapacitantes. Nesses casos, o tratamento costuma ser longo e a mudança de hábitos torna-se ainda mais urgente.

Como reagir perante alguém que sofre uma crise de ansiedade?

É essencial oferecer um ambiente seguro e acolhedor, que priorize a escuta e a presença.

É importante não dizer frases como “vai passar”, nem frases otimistas para tentar animar a pessoa, pois quando se encontra em crise, o ansioso não consegue ver o lado positivo das situações e vê dificuldades em tudo.

Evitar também menosprezar ou amenizar a situação, como se fosse algo simples de ser superado. Não se deve também forçar comportamentos, tal como dizer “tu consegues” ou “tens que superar isso”, pois a pessoa já tem a sua autoestima abalada e pode agravar a sua sensação de impotência e fragilidade.

Nesses casos, escutar mais do que falar e demonstrar preocupação são medidas de apoio cruciais. Uma “má” ajuda pode aumentar os sintomas e causar ainda mais sofrimento.

Como tal, aqui seguem algumas sugestões para se lidar com alguém com uma crise de ansiedade:


Reforçar o apoio e ajudar na respiração: encorajar a pessoa a respirar com calma é importante para quebrar o ciclo de respiração ofegante, promover o relaxamento muscular e desacelerar o pensamento.


Ainda que o álcool pareça relaxante, não é a melhor alternativa oferecer “algo forte para beber”, com álcool.

Se assim for, sempre que a crise de ansiedade surgir, a bebida pode ser associada a uma forma de alívio. Por isso, é de evitar criar maus hábitos que, além de não ajudar, podem mascarar sintomas. Em alternativa, oferecer bebidas calmantes, como alguns chás.


Promover o contato visual: é mais uma demonstração de presença. Durante uma crise, é importante que a pessoa sinta que não está sozinha e a troca de olhares é um ponto de referência para que se possa centrar, fazendo com que se concentre em outras coisas e se esqueça dos pensamentos negativos e menos bons.


Incentivar a sair do local: o ambiente em que a crise começou pode causar desconforto. Convidar a pessoa a fazer uma caminhada e levá-la para um lugar tranquilo, pode ser importante. Incentivar para atividades divertidas e prazerosas nem sempre vai resultar, pois o ansioso pode não ter disposição e a insistência pode não ajudar.


Priorizar a escuta ativa: cada pessoa lida com a situação de forma diferente - algumas pessoas preferem desabafar, outras sentem vergonha e/ou preferem o silêncio. Por isso, é importante perguntar se a pessoa tem algo a dizer. È importante oferecer uma escuta ativa e empática, que não minimize o seu sofrimento, sem frases que demonstrem incompreensão, críticas, imposições ou julgamentos.


Respeitar o espaço da pessoa em crise: algumas pessoas preferem receber carinhos, outras não. Se a pessoa não quer contato físico, não forçar; se não quer falar, não insistir. Deve-se respeitar o espaço da pessoa e acolhê-la a partir das suas necessidades e não do que se possa acreditar ser o ideal.


Saber identificar uma crise de ansiedade: reconhecer uma crise de ansiedade é importante para prestar apoio e não ignorar o momento.

Um dos primeiros sinais pode ser a agitação física: balançar pernas e braços, caminhar de um lado para o outro, mostrar-se ofegante, apresentar tremores ou suor em excesso.

Também podem ser observadas manifestações como inícios de ansiedade pela forma como a pessoa fala, se é frequentemente pessimista ou se prevê muitas vezes algo menos bom. Quando se notar esses sinais, é importante dar maior atenção e oferecer apoio.

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