O Tribunal Local Cível de Cascais declarou o acompanhamento de Ricardo Salgado, limitando os direitos do ex-banqueiro e nomeando como acompanhante a sua mulher, com efeitos a 1 de janeiro de 2019.
Antes desta decisão, o antigo homem forte do Banco Espírito Santo foi submetido a duas perícias médicas exigidas pela Justiça. Ambos os relatórios confirmaram o diagnóstico de demência, embora um deles tenha levantado dúvidas quanto a um possível exagero na descrição dos sintomas.
Para dissipar essas dúvidas, a defesa decidiu levá-lo à primeira sessão do julgamento do caso BES.
O país assistiu, nesse dia, à exposição pública de um homem doente. Ricardo Salgado apresentou-se à Justiça para responder por 62 crimes. O julgamento do caso BES começava finalmente, mas o que ficou na memória foi apenas a imagem de um homem profundamente debilitado.
A exposição pública de um homem com demência foi usada como arma visual pela defesa pela segunda vez. Um ano antes do início do julgamento do caso BES, Ricardo Salgado já tinha sido chamado a comparecer em tribunal.
A defesa enfrentava a Justiça com o diagnóstico na mão. Duas perícias médicas solicitadas por tribunais distintos apontavam para o mesmo diagnóstico: demência. Ainda assim, uma dessas avaliações admitia a possibilidade de exagero nos sintomas apresentados pelo antigo banqueiro.
Perante essa incerteza, um dos médicos envolvidos na avaliação sentiu-se obrigado a recomendar a exposição pública do doente e da sua condição. Era necessário mostrar, em tribunal, não apenas o arguido, mas a doença que o limita.
A 29 de janeiro de 2024, Maria João Salgado — companheira de Ricardo Salgado há seis décadas — foi chamada a tribunal como testemunha no caso EDP. Após anos de silêncio, a mulher do ex-banqueiro expôs-se finalmente em defesa do marido.
Onze anos depois da queda do BES, Ricardo Salgado não passou um único minuto na prisão. Mas o homem que foi, em tempos, apelidado de "o dono disto tudo", afinal está preso — preso à demência.