Já alguma vez se questionou quais os exames ou rastreios que deve fazer em cada idade ou fase da vida? O corpo da mulher vai sofrendo alterações com o passar dos anos e, por isso, também as necessidades em termos de saúde se vão alterando. Para perceber o que deve ser vigiado e com que frequência, falámos com a médica de família Nádia Sepúlveda e reunimos neste artigo a informação essencial.
Fase da adolescência (até aos 18 anos)
Em entrevista à SIC Notícias, a médica Nádia Sepúlveda explica que entre os 15 e os 18 anos, todas as jovens devem ir a pelo menos uma consulta do adolescente.
Nesta consulta, para além de serem pedidas análises de “rotina”, serão também avaliados os hábitos a nível da alimentação, exercício físico, tabagismo, alcoolismo e sexualidade, nomeadamente no que diz respeito a comportamentos de risco.
“[Objetivo] É a prevenção, promovermos bons hábitos. São sobretudo [consultas] de promoção de saúde”, explica a médica de família.
Nesta altura, e apenas quando não existem fatores de risco, “não há a necessidade de exames ginecológicos". No entanto, pode ser feita uma consulta de planeamento familiar para discutir a necessidade de contracepção e para abordar as doenças sexualmente transmissíveis.
A partir dos 18 anos e durante a idade fértil
A partir dos 18 anos, o acompanhamento de cada mulher irá variar “mediante as necessidades”, explica Nádia, acrescentando que “todo o seguimento de uma pessoa saudável acaba por ser feito no médico de família”.
Comecemos por uma pergunta: o check-up anual é mesmo necessário? A resposta é ‘nim’.
Nádia Sepúlveda explica que, em mulheres saudáveis, não há a necessidade de fazer um check-up anual. Bastará uma consulta com o médico de família de dois em dois anos ou até de três em três.
Mas atenção: no caso de haver fatores de risco ou doenças associadas, o acompanhamento deverá ser até mais regular do que de ano a ano.
“Está tudo enquadrado nos fatores de risco. Pessoas saudáveis e sem doenças não têm essa necessidade [de check-up anual]. Isso é uma cultura muito portuguesa. O importante é: se há fatores de risco, aí sim haver um acompanhamento mais próximo”, explica.
Para além desta consulta, em que são verificados os hábitos alimentares, de exercício físico e avaliados os níveis de tensões, devem ser feitos - em diferentes idades - alguns exames e rastreios como forma de prevenção. São eles:
- Papanicolau: rastreio entre os 25 e os 60 anos, se a mulher for sexualmente ativa. Repetido de três em três anos caso não apresente alterações. Se for feita colheita e pesquisa dos vírus HPV de alto risco, pode ser feito de cinco em cinco anos “se estiver tudo bem”, explica a médica.
Caso a atividade sexual tenha começado muito antes dos 25, o rastreio pode ser feito mais cedo, mas “não é consensual”.
- Rastreios a doenças sexualmente transmissíveis: devem ser feitos “pelo menos uma vez” ao HIV e à Hepatite C.
Nádia Sepúlveda recomenda ainda, apesar de não ser comparticipado, o rastreio à clamídia e à gonorreia antes dos 30 anos. “São infeções que podem não dar sintomas. Se forem tratadas, fica tudo resolvido. Quando não tratadas têm consequências a médio e longo prazo. E são infeções bastante prevalentes” na população, revela.
- Rastreio do cancro da mama: a partir dos 50 anos e até aos 69, no caso das mulheres sem historial de cancro da mama na família. Feitos de dois em dois anos e complementados com ecografia mamária se houver dúvidas.
No caso de haver fatores de risco, como casos de cancro da mama na família, o rastreio e acompanhamento são “adaptados e individualizados”, começando até a ser feito numa idade mais baixa, explica Nádia.
- Rastreio da diabetes: em mulheres saudáveis, a partir dos 40 anos - o mais tardar aos 45 - e repetido de três em três anos.
- Rastreio do colesterol e triglicéridos: a partir dos 50 anos ou após a menopausa e com uma periodicidade de cinco anos. Não havendo fatores de risco, “não há necessidade de fazer anualmente”, afirma a médica.
- Rastreio do cancro dos intestinos: a partir dos 50 anos e até aos 74. Se for efetuado através da pesquisa de sangue oculto nas fezes, deve ser repetido de dois em dois anos. Se efetuado através de colonoscopia, de 10 em 10 anos.
- Rastreio oftalmológico: avaliado em consulta “em idades mais avançadas” e, muitas vezes, facilitado quando existe necessidade de atestado médico para renovação da carta de condução, por volta dos 50 anos.
- Avaliação psicológica / psiquiátrica: “devemos ter a sensibilidade de perceber se está tudo bem” em consulta e, caso não esteja, fazer rastreios de depressão e ansiedade, indica Nádia Sepúlveda.
“Da mesma forma que falamos de hábitos como alcoolismo e tabagismo, devemos avaliar a saúde mental de forma periódica e questionar ativamente. Somos [médicos de família] uma porta para sinalizar casos sociais”, defende.
No caso das mulheres fumadoras, Nádia explica que por volta dos 40 anos, “faz sentido” pedir uma espirometria - uma prova funcional respiratória - para observar o funcionamento do pulmão.
A entrada na menopausa
Para além da avaliação de “rotina” em consulta de medicina familiar, que deve continuar a ser feita de dois em dois anos, há três áreas que merecem especial atenção na saúde da mulher nesta fase da menopausa.
- Saúde ginecológica: “Já não fazemos papanicolau, mas podemos observar com o espéculo para procurar eventuais lesões. No caso de haver sintomas, devemos sempre fazer exames complementares”, indica. Para além disso, Nádia recomenda que a mulher faça auto-observação com regularidade.
- Saúde auditiva: efetuados testes em consulta para perceber se a mulher está a ouvir bem ou não.
- Saúde cardíaca: a partir dos 60 anos, realização de eletrocardiograma para verificar se existem problemas ou alterações.
Recorde-se que estas indicações genéricas aplicam-se apenas para casos de mulheres saudáveis e sem problemas associados. Nádia Sepúlveda faz questão de sublinhar que “mediante as necessidades”, os rastreios, exames ou encaminhamento para especialidade são “adaptados e individualizados” a cada caso.
Na dúvida, consulte o seu médico de família ou profissional de saúde.