Mundo dos Animais

Drones captam mais imagens de tubarões, especialistas explicam fenómeno de aproximação

Este verão, há registo de vários casos de tubarões que estão a chegar demasiado perto de zonas balneares, em particular nos EUA. Especialistas explicam o que está na origem dessa aproximação entre tubarões e humanos.

KEVIN CHRISTOPHERSON @ ENCI MEDI

Elisa Macedo

O aumento do uso de drones para captar imagens está a ter impacto no estudo da vida selvagem. Além de fotógrafos, amadores e profissionais, também cientistas e autoridades têm vindo a recorrer a drones como forma de observar e rastrear tubarões, em particular em certas regiões dos Estados Unidos. Especialistas explicam porque é que as imagens mostram um fenómeno de aparente aproximação destes predadores às zonas costeiras. O biólogo e conservacionista Forrest Galante defende que "os tubarões não estão a mudar o comportamento para atingir as pessoas", mas são "os humanos é que estão a mudar o comportamento”.


Nos últimos anos, o desenvolvimento da tecnologia tem permitido captar imagens com grande detalhe sobre a vida marinha e em particular sobre as várias espécies de tubarões, grandes predadores e dos animais mais temidos e também ameaçados pelos humanos.


Os drones estão também a servir para monitorizar a aproximação dos tubarões aos humanos, fenómeno que gera receio, e que requer vigilância para garantir a segurança dos banhistas à medida que há mais informações sobre encontros com estes predadores.

Subida de temperatura do oceano e restrições à pesca


Este verão, há registo de vários casos de tubarões que estão a chegar demasiado perto de zonas balneares. Por exemplo, em Long Island, nos Estados Unidos, a subida de temperatura do oceano devido às alterações climáticas, tornou-o mais apetecível para os tubarões.


Por outro lado, em alguns locais, a legislação protege a principal fonte de alimento dos tubarões ao proibir práticas de pesca nocivas, o que também estará a contribuir para a aproximação dos tubarões à costa, onde agora encontram mais alimento, podendo por lapso levar os predadores a encontros indesejáveis com humanos.

Drones ao serviço da vigilância das praias


No início de julho, pelo menos quatro casos foram registados na região de Long Island, a sudeste de Nova Iorque, um deles foi um jovem surfista, de 15 anos, que terá sido mordido por um tubarão perto de Fire Island.


Por este motivo, a governadora do estado de Nova Iorque, Kathy Hochul, ordenou o envio de drones para que as autoridades possam monitorizar a zona e, caso seja detetada a presença de tubarões, possa ser ordenada a retirada de surfistas e banhistas que se encontrem na água.


Contudo, alguns especialistas alertam que este procedimento não será o mais correto para observar a presença de tubarões, uma vez que capta imagens deste predadores apenas à superfície do oceano, sendo essa uma parte limitada dos seus movimentos.


Outros investigadores alertam para o perigo das imagens drone potenciarem o receio desta espécie que temem que possa ser erradamente demonizada.


“Todas as pessoas que agora estão a ver um tubarão podem colocar essa imagem na internet, nas redes sociais, e milhões de pessoas podem vê-lo”, diz à BBC Frank Quevedo, diretor executivo do South Fork Natural History Museum (SOFO) em Long Island. "Então as pessoas demonizam os tubarões e afirmam: 'Eles estão nas nossas águas, vão matar pessoas'", realça.

Quevedo dá até o exemplo concreto de uma situação em que imagens drone causaram preocupação desnecessária.


No início deste mês, um operador de drone, que confundiu um cardume de peixes grandes com um grupo de tubarões, levou ao fecho de Robert Moses State Beach. "Isso causou pânico", desnecessariamente, alertou o diretor executivo do South Fork Natural History Museum.

“Não precisamos de ter medo de tubarões”

O filme de 1975 "Tubarão", de Steven Spielberg, no qual um grande tubarão branco ameaçou nadadores na costa de Massachusetts, contribuiu para o receio generalizado destes animais.

Foram precisas décadas de investigação e formação para atenuar esse temor e parar com a caça aos tubarões, em particular aos grandes tubarões brancos.

Carlos Gauna, faz vídeos com drones na costa de Malibu na Califórnia como hobby, captou inúmeras imagens de jovens tubarões brancos a poucos metros dos surfistas, sem os atacar.

“Há essa perceção dos tubarões, de que serão agressivos, o que não corresponde à realidade, explicou Gauna à BBC, dando a ideia, defendida também por outros especialistas, de que em vez de se usar imagens de tubarões para assustar as pessoas, as autoridades deveriam concentrar-se em educar os banhistas sobre como se comportam os tubarões.

À Associated Presse (AP), Forrest Galante, biólogo e conservacionista, diz que "os tubarões não estão a mudar o comportamento para atingir as pessoas ou para se aproximarem dos seres humanos. Os humanos é que estão a mudar o comportamento".


O especialista explica que as pessoas passam cada vez mais tempo na água, o clima está cada vez mais quente, o que leva as pessoas a passar mais tempo no mar.

“O ecossistema está a ficar mais saudável e, por causa disso, estamos a encontrar mais tubarões e a ter interações negativas ocasionais... não precisamos de ter medo de tubarões, o que precisamos de fazer é ser respeitosos, compreender que temos de ter uma mente aberta de cada vez que entramos no oceano”, realça Forrest Galante.

Cor das roupas de banho pode estar a atrair os tubarões

Há também investigadores que apontam para a hipótese de os tubarões poderem ser atraídos pelas cores das roupas de banho, pranchas de surf e outros equipamentos, uma teoria inicialmente avançada pela Marinha dos EUA na Segunda Guerra Mundial.

Vários relatos de testemunhas oculares de ataques de tubarão a marinheiros e aviadores que se viram lançados ao oceano, durante o conflito, levantaram a suspeita de que os animais poderiam ter sido atraídos pelas cores dos equipamentos salva-vidas.

Mito ou realidade? Não há estudos que comprovem esta teoria, mas a ideia de que algumas cores podem atrair tubarões curiosos tornou-se uma ideia que ressurge sempre que ocorre uma onda de ataques destes animais.


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