Considerada uma mulher de temperamento forte e com pouca paciência, Dilma, de 68 anos, nasceu na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, numa família de classe média.
Ainda jovem, juntou-se a grupos de esquerda que combatiam a ditadura militar. Trocou de nome diversas vezes, viveu na clandestinidade até ser presa e torturada em 1970.
Ao sair da prisão, tornou-se economista e com o regresso da democracia no país, em 1985, teve vários cargos diretivos na esfera pública.
Durante a Presidência de Lula da Silva, ganhou projeção ao ser nomeada ministra da Casa Civil. Em 2009, foi escolhida para a liderança do PT, apresentando-se como candidata a Presidente, no ano seguinte.
Sem nunca se ter sujeito a eleições anteriormente, Dilma Rousseff foi eleita pela primeira vez em 2010, assumindo a Presidência da República.
Chegou a ser considerada a segunda mulher mais poderosa do mundo, atrás apenas da chanceler alemã, Angela Merkel, no ranking de 2013 da revista Forbes.
Nesse ano, colheu quase 80% de aprovação nas sondagens, pelos seus esforços de combate à pobreza e à fome, ultrapassando, naquele momento, a popularidade conseguida pelo seu antecessor, o "pai dos pobres", cuja governação é ainda hoje citada como um bom exemplo em todo o mundo.
Mas em junho de 2013, o sucesso mediático e a popularidade começaram a reduzir-se. A falta de experiência e de aliados entre os partidos e os primeiros sinais de problemas na política económica afetaram a sua imagem pública.
Mas foram os protestos contra o aumento das tarifas de autocarros e os gastos públicos com o Campeonato do Mundo que sacudiram o país, prejudicando severamente sua imagem.
Desde então, governou com a espada da instabilidade sobre a cabeça, sofrendo críticas cada vez mais contundentes de opositores e do mercado, contrários ao aumento dos gastos públicos.
O apoio dado a governos de esquerda na América Latina - Venezuela, Cuba, Bolívia e até mesmo a Argentina -- prejudicou a sua projeção no exterior.
Uma situação agravada com o embaraço diplomático causado pela revelação de que as suas comunicações eram monitoradas pelos Estados Unidos.
Com a crise económica a bater às portas, conseguiu ser reeleita em 2014, com 52% dos votos, mas os resultados não foram suficientes para pacificar o país.
Ao contrário do que aconteceu no passado, desta vez os seus grandes adversários não foram os militares, mas a insatisfação da população que passou a mobilizar-se em protestos contra o Governo.
Para os brasileiros, ela é responsável pela crise económica que levou o Produto Interno Bruto (PIB) do país a uma queda de 3,8% e gerou uma subida da inflação e do desemprego.
A isso somaram-se as investigações dos escândalos de corrupção na petrolífera estatal Petrobras, que envolveram o seu padrinho político, Lula da Silva, além de outros nomes históricos do PT.
A tempestade política agravou-se depois de parte dos partidos que suportavam o governo terem mudado de posição, viabilizando o processo de 'impeachment' (destituição) em andamento no Congresso.
A chefe de Estado é acusada de ter cometido crime de responsabilidade, por ter executado manobras fiscais ilegais, ao assinar para despesas extras sem autorização do Congresso.
Em sua defesa, Dilma Rousseff alega que está a sofre um golpe praticado por políticos que não conseguiram ser eleitos nas urnas e agora querem mudar o Governo com voto indireto.
No primeiro 'round', perdeu o embate na Câmara dos Deputados (câmara baixa), derrotada por 167 votos a favor e 137 contrários à sua saída. No Senado (câmara alta), tudo indica que sofrerá outra derrota, cedendo o lugar ao seu vice-Presidente.
Nos seus últimos discursos, Dilma Rousseff tem afirmado que a sua saída forçada manchará a história da democracia brasileira. No entanto, ainda não se sabe quem serão os vencedores que irão escrever esta história, já que muitos dos seus opositores também estão a contas com a justiça.
Lusa