Invasão em Brasília

Apoiantes de Bolsonaro tomam Congresso, Planalto e Supremo

Lula da Silva garante que invasores serão punidos. Sede do Supremo Tribunal já foi recuperada pelas autoridades.

ADRIANO MACHADO

Rita Rogado

SIC Notícias

Lusa

Milhares de manifestantes apoiantes de Bolsonaro invadiram, este domingo, o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF), em protesto contra a eleição do chefe de Estado, Lula da Silva. Os efetivos de segurança do STF e as tropas de choque conseguiram recuperar o controlo da sede do tribunal. Centenas de pessoas foram detidas. Lula da Silva já veio garantir que os invasores serão punidos.

Nas imagens de agências internacionais, é possível observar uma “maré humana” - vestida e verde e amarelo - a derrubar barreiras de segurança e a subir em direção ao Congresso, edifício onde se situam a Câmara dos Deputados e o Senado.

Os “bolsonaristas” furaram - em segundos - o cerco policial. Há imagens dentro do salão verde do Congresso, e dentro e fora no Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal.

Começaram pelo Congresso Nacional: derrubaram e destruíram o que encontraram pelo caminho. Chegaram depois ao Salão Verde da Câmara dos Deputados. Outro grupo, chegou ao Palácio do Planalto, a sede do poder executivo e em simultâneo à principal sala do Supremo Tribunal.

Os apoiantes radicais de Jair Bolsonaro atiraram cadeiras pelas janelas, partiram vidros e mesas e atacaram jornalistas e agentes de segurança. Há ainda obras de arte destruídas.

A Polícia Civil diz ter encontrado explosivos e fala em agressões a jornalistas. Cerca de 200 pessoas foram detidas.

A polícia brasileira usou gás lacrimogéneo e canhões de água para tentar dispersar os manifestantes no exterior do edifício.

Apoiantes radicais de Bolsonaro, derrotado nas eleições, tinham convocado um protesto para a Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Lula decreta intevenção federal em Brasília

O Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, decretou a intervenção federal na área de Segurança Pública de Brasília e disse que todos os responsáveis pelas invasões das sedes dos poderes executivo, legislativo e judiciário serão punidos.

"Nós achamos que houve falta de segurança e quero dizer que todas as pessoas que fizeram isto serão encontradas e serão punidas".

Lula reuniu-se de emergência, por videoconferência, com os seus ministros para discutir a situação em Brasília.

O Presidente do Brasil diz que esta invasão foi feita por fascistas, fanáticos e vândalos. Numa declaração ao país, garante que todas as pessoas que participaram na invasão vão ser encontradas e gravemente punidas. Acusa antecessor Jair Bolsonaro de ser um genocida e responsabiliza-o pelos acontecimentos.

“Este genocida não só provocou isso, não só estimulou isso, como, quem sabe, está estimulando ainda pelas redes sociais também”.

O que diz Jair Bolsonaro?

Jair Bolsonaro reagiu no Twitter à invasão em Brasília. Não condena os ataques deste domingo à tarde. Diz que "invasões de prédios públicos (…) fogem à regra "assim como os praticados pela esquerda em 2013 e 2017".

"Ao longo do meu mandato, sempre estive dentro das quatro linhas da Constituição respeitando e defendendo as leis, a democracia, a transparência e a nossa sagrada liberdade", escreve.

Diz ainda:

“Repudio as acusações, sem provas, a mim atribuídas por parte do atual chefe do executivo do Brasil”.

Os manifestantes pró-Bolsonaro não aceitam a vitória de Lula da Silva nas eleições Presidenciais.

Centenas de militantes radicais fiéis do ex-chefe de Estado estão acampados em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, desde o dia seguinte às eleições de 30 de outubro, nas quais Lula da Silva derrotou Jair Bolsonaro.

Num dos últimos momentos na residência presidencial oficial - Palácio da Alvorada, em Brasília, Bolsonaro instou os seguidores a permanecerem firmes contra Lula da Silva.

Governador do Distrito Federal demitiu secretário de Segurança

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, informou que demitiu o secretário de Segurança, Anderson Torres, e que colocou todo o efetivo policial nas ruas para prender “bolsonaristas”.

"Estou em Brasília monitorando as manifestações e tomando todas as providências para conter a baderna antidemocrática na Esplanada dos Ministérios", escreveu Rocha.

"Determinei a exoneração do Secretário de Segurança DF [Distrito Federal, Anderson Torres], ao mesmo tempo em que coloquei todo o efetivo das forças de segurança nas ruas, com determinação de prender e punir os responsáveis. Também solicitei apoio do governo federal e coloco o GDF [Governo do Distrito Federal] à disposição do mesmo", acrescentou.

Anderson Torres, nomeado recentemente secretário de Segurança do Distrito Federal é apoiante público de Jair Bolsonaro e atuou como Ministro da Justiça até quase ao fim do mandato do ex-presidente.

Manifestantes "devem sofrer o rigor da lei com urgência"

O presidente do Senado brasileiro, Rodrigo Pacheco, repudiou a invasão da sede do Congresso Nacional por apoiantes do antigo chefe de Estado Jair Bolsonaro, defendendo que "devem sofrer o rigor da lei com urgência".

"Na ação, estão empenhadas as forças de segurança do Distrito Federal, além da Polícia Legislativa do Congresso. Repudio veementemente esses atos antidemocráticos, que devem sofrer o rigor da lei com urgência", lê-se numa mensagem divulgada nas redes sociais.

"Invasores precisam se retirar dos prédios públicos"

Sérgio Moro, antigo ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, já veio pedir aos manifestantes que recuem.

Numa publicação no Twitter, defendeu que os protestos têm que ser pacíficos e apelou a uma oposição democrática.

Escreveu ainda ainda que os invasores se devem retirar "dos prédios públicos antes que a situação se agrave".

Marcelo Rebelo de Sousa condena atos "inadmissíveis e intoleráveis em democracia"

O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, condenou o que classificou como "atos inadmissíveis e intoleráveis em democracia" protagonizados por apoiantes do ex-chefe de Estado brasileiro Jair Bolsonaro contra as sedes dos poder em Brasília.

Em declarações ao telefone no Jornal da Noite da SIC, o chefe de Estado português manifestou a solidariedade de Portugal para com o novo "poder legitimamente investido" no Brasil após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva como Presidente.

Marcelo reiterou o "apoio e a solidariedade de Portugal a um mandato que tem de ser respeitado", manifestando-se convicto de que a comunidade internacional, a CPLP e a União Europeia farão o mesmo.

“Todos os atos com caráter inconstitucional e ilegal são inaceitáveis”.

O Presidente do Brasil agradeceu ao chefe de Estado português a condenação e repúdio que manifestou pela invasão das principais instituições brasileiras por apoiantes de Jair Bolsonaro.

Este agradecimento de Lula da Silva a Marcelo Rebelo de Sousa, através de uma conversa telefónica, foi divulgado no portal da Presidência da República na Internet.

"O Presidente da República Federativa do Brasil, Lula da Silva, falou telefonicamente com o Presidente da República, agradecendo a sua manifestação pública pela condenação e repúdio dos atos praticados em Brasília, tendo enaltecido o facto de Portugal ter sido o primeiro país a fazê-lo", lê-se na nota.

Governo português condena violência em Brasília

O Governo português condenou a "violência e desordem" em Brasília.

"O Governo português condena as ações de violência e desordem que hoje tiveram lugar em Brasília, reiterando o seu apoio inequívoco às autoridades brasileiras na reposição da ordem e da legalidade", lê-se num comunicado divulgado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Na mesma nota, o executivo português transmite a sua "inteira solidariedade à Presidência da República do Brasil, ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal, cujos edifícios foram violados nas manifestações anti-democráticas que tiveram lugar esta tarde".

Lula da Silva é o novo Presidente do Brasil

Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse, há uma semana, como o 39.º Presidente do Brasil.

No discurso, Lula da Silva agradeceu ao povo brasileiro, destacou a importância de lutar pela democracia e apontou duras críticas à governação de Bolsonaro.

A cerimónia contou com a tradicional passagem da faixa Presidencial que, este ano, não foi entregue pelo antecessor, mas sim por representantes da população do Brasil.

[Artigo atualizado pela última vez à 00:34]

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