Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito: salvar os cereais da irresponsabilidade russa

A Rússia está a fazer tudo para impedir que a Iniciativa do Mar Negro se mantenha viável depois da rutura de Moscovo. A Ucrânia estuda alternativas terrestres com a Roménia e a Bulgária. No terreno, a Crimeia está, cada vez mais, na mira da contraofensiva de Kiev. Análise do comentador da SIC, Germano Almeida
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Germano Almeida

1 – Kiev pondera rota pelas águas territoriais da Roménia e Bulgária para exportar cereais

Com a suspensão russa do acordo que permitia a exportação de cereais do Mar Negro, a Ucrânia vê-se agora obrigada a avaliar novas alternativas. Segundo Vasyl Bodnar, embaixador ucraniano na Turquia, as autoridades estão agora a considerar um "corredor" que passa pelas águas territoriais da Roménia e da Bulgária. "A Rússia, ao retirar-se do acordo, declarou que não garante a segurança das operações. Isso significa que pode disparar contra os portos, infraestruturas e possivelmente navios. Esse é o risco". O grande problema é que as possíveis alternativas terrestres à rota marítima do Mar Negro são sempre mais longas, morosas e, sobretudo, mais caras. E a Rússia sabe bem disso.

2 - Ataque russo em Odessa atingiu terminal de cereais

O porta-voz ucraniano do comando sul, Vladyslav Nazarov, revelou à emissora estatal Suspilne que o ataque russo em Odessa atingiu um terminal de onde partiam cereais ucranianos e danificou alguns equipamentos utilizados para o carregamento destes alimentos. Um complexo industrial e dois armazéns, um onde era armazenado tabaco e outro com produtos pirotécnicos, foram atingidos. Vários apartamentos em Odessa também ficaram danificados. O objetivo de Moscovo parece claro: impedir que Odessa se mantenha uma solução para o escoamento de cereais, agora que a Rússia saltou fora da Iniciativa do Mar Negro. Os mísseis russos lançados na noite de terça-feira contra o porto de Odessa atingiram um terminal de cereais, um terminal de petróleo e outras infraestruturas, disse a administração militar de região de Odessa. "Os russos lançaram os [mísseis] Onyx e Kh-22 contra o porto e contra infraestrutura crítica" de Odessa, de acordo com os militares ucranianos, que precisaram que "um terminal de cereais, um terminal de petróleo foram atingidos" e que vários depósitos de combustível e equipamentos de carga ficaram danificados.

3 – Moscovo avalia em mais de 12 milhões de euros a reparação da ponte da Crimeia

Os trabalhos de reparação da ponte que une a Rússia continental à anexada península da Crimeia após o ataque de segunda-feira estão avaliados em 1,3 mil milhões de rublos (mais de 12 milhões de euros), indicou esta terça-feira Moscovo. "De momento temos uma estimativa de 1,3 mil milhões de rublos", afirmou o vice-primeiro-ministro russo, Marat Jusnulin, citado pela agência noticiosa TASS. A verba não é definitiva pelo facto de o custo das obras poder aumentar em função das construções metálicas utilizadas nos trabalhos de restauro da ponte de Kerch, segundo Jusnulin.

4 – Ucrânia reivindica ataque a campo militar russo na Crimeia

O chefe dos serviços secretos militares da Ucrânia, Kyrylo Budanov, partilhou mensagem no Telegram onde diz que "foi levada a cabo uma operação bem-sucedida" na Crimeia. O ataque reivindicado pela Ucrânia provocou um incêndio num campo militar russo no sul da península da Crimeia, em Stary Krim. Mais de dois mil civis tiveram de ser retirados da região. De acordo com o chefe dos serviços secretos militares da Ucrânia, "o inimigo está a esconder a extensão dos danos e o número de vítimas".

5 – Exército ucraniano diz que a Rússia está a preparar 100 mil tropas para atacar Kupiansk

O porta-voz do exército da Ucrânia, Serhi Cherevaty, diz que a Rússia está a preparar um "grupo muito poderoso" de 100 mil tropas para atacar a cidade da Kupiansk, nos arredores de Kharkiv. Cherevaty indica que, além do vasto número de soldados, Moscovo reuniu também 900 tanques e 550 sistemas de artilharia para o ataque. A vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Hanna Malyar, diz que qualquer ataque a Kupiansk pode ser uma manobra de diversão para desviar a pressão da contraofensiva ucraniana.

6 - Lula da Silva admite que "retirada" da Rússia "faz parte da paz"

O Presidente brasileiro, Lula da Silva, diz que o mundo está cansado da guerra e que é preciso "criar um clima" para construir a paz. "Enquanto houver tiros, não há conversa", disse. "É exatamente pelo facto de estarmos longe que a gente pode ter a tranquilidade de não entrar no clima que estão os europeus e tentar criar um clima de 'olha, vamos construir a paz'. Por enquanto nem Zelensky nem Putin querem falar de paz, porque cada um acha que vai ganhar. Mas está a haver um cansaço. O mundo começa a cansar-se".

7 - Prigozhin foi "tomar um chá" com Vladimir Putin

Semanas depois do chefe do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, ter liderado a rebelião contra o exército russo, reuniu-se com Vladimir Putin nos últimos dias para "tomar um chá". A informação foi avançada pelos Serviços Secretos britânicos, mais especificamente pelo chefe do M16, Richard Moore, que quando questionado sobre o paradeiro do líder do grupo Wagner disse: "Pelo que sabemos, Prigozhin anda por aí". "Estas coisas são misteriosas até para mim", admitiu.

8 – Grupo de Contacto deteta progressos na contraofensiva e reafirma apoio

O Grupo de Contacto para a Defesa da Ucrânia identificou que Kiev regista progressos na contraofensiva em território ucraniano ocupado pela Rússia, apesar de alguma lentidão devido a trabalhos de desminagem, recusando um cenário de "fracasso". "Verificamos que a Ucrânia avança e que aumentam as perdas da Rússia. Os Estados Unidos e os nossos aliados e parceiros moveram montanhas para fornecer à Ucrânia sistemas de defesa decisivos, munições e muito mais", disse o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, após um encontro virtual deste grupo, de que Portugal faz parte. O representante norte-americano sublinhou que o grupo de contacto, que integra os países que enviaram ajuda militar à Ucrânia, "fará o necessário" para apoiar "o direito soberano da Ucrânia de viver livre".

9 – EUA e Dinamarca apoiam Ucrânia na reconstrução

Copenhaga dará 522 milhões de dólares em programa de cinco anos de cooperação com Kiev ao nível das energias verdes e setor industrial. Samantha Power, administradora da USAID (Agência do EUA para o Desenvolvimento Internacional) esteve em Kiev e avançou com apoio norte-americano de 500 milhões para a reconstrução da Ucrânia. Será uma das grandes histórias da próxima década: como reconstruir na Ucrânia o que a Rússia anda a destruir há 511 dias? E quem paga? E que garantias haverá que o que for reconstruído não será de novo atacado pelo agressor?

10 - Mural pró-russo de artista de rua italiano em prédio de Mariupol era plágio

A 11 de julho passado, o artista de rua italiano Ciro Cerullo, conhecido como Jorit, anunciou no seu perfil no Instagram que havia concluído um mural na devastada cidade ucraniana de Mariupol. O mural apresenta a menina com as cores da bandeira da autoproclamada República Popular de Donetsk. Atrás dela, caem bombas com a palavra "NATO". "Mentiram-nos sobre o Vietname, mentiram-nos sobre o Afeganistão, mentiram-nos sobre o Iraque e agora eu tenho provas: também nos estão a mentir sobre Donbass", escreveu Jorit. Em entrevista à Rádio Giornale, Jorit disse que pintou "uma menina viva de Donbass que passou os seus primeiros anos em Mariupol cercada pela guerra".

Vários utilizadores no Instagram e no Twitter apontaram a descarada semelhança com uma fotografia que apareceu na capa de 2018 da revista de fotografia australiana Capture, tirada pela fotógrafa australiana Helen Whittle. Além de negacionismo pró-russo, afinal também era plágio.

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