Dez pontos semanais para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós.
1 – SERÁ QUE O ACORDO PARA DESBLOQUEAR OS CEREAIS É PARA LEVAR A SÉRIO?
Esperemos que sim. Os primeiros sinais são positivos, mas é preciso cautela.
O acordo para permitir as exportações de cereais bloqueados nos portos ucranianos vai ser assinado esta tarde em Istambul, anunciou a presidência turca em comunicado. “A cerimónia de assinatura do acordo do envio de cereais, na qual estarão presentes o Presidente [turco] Recep Tayyip Erdogan e o secretário-geral da ONU, António Guterres, será assinado amanhã às 16h30 no Palácio Dolmabahçe, com a participação da Ucrânia e Rússia”, assinala o texto.
Guterres está a caminho de Istambul e os Estados Unidos já saudaram o acordo entre Rússia e Ucrânia, instando Moscovo a implementá-lo.
Kiev está com dúvidas sobre a assinatura do acordo. O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia disse, em vez disso, que outra ronda de negociações, liderada pela ONU, para desbloquear as exportações de cereais ucranianos ocorreria na Turquia ainda hoje. No caso dos 200 milhões de toneladas bloqueados nos portos do Mar Negro poderem mesmo ser escoados a partir de hoje, isso pode gerar um alívio nos mercados globais de alimentação e até pode dar confiança a outro grande produtor mundial, a Índia, de abdicar do protecionismo em que apostou desde a guerra e voltar a colocar no mercado boa parte da sua produção cerealífera.
2 – FORÇAS PRÓ-RUSSAS DE DONETSK VÃO BANIR O GOOGLE
A Google vai ser banida da autoproclamada República Popular de Donetsk, que está ocupada por forças pró-russas: “Decidimos bloquear a Google no território da República Popular de Donetsk. É isto que se faz em qualquer sociedade com criminosos: são isolados das outras pessoas”, indicou Denis Pushilin, líder da autoproclamada República Popular de Donetsk, numa publicação no Telegram.
Em causa está o comportamento que Pushilin classifica como “promoção de terrorismo e violência contra todos os russos, especialmente a população do Donbas”, que diz ser levada a cabo sob ordens do governo americano. Além disso, acrescentou que se a Google deixará de enfrentar obstáculos se “acabar a sua política criminosa e regressar à normalidade da lei, moralidade e senso comum”.
3 – RÚSSIA EXPLORA ARMA DO GÁS PARA DIVIDIR EUROPA
O gasoduto russo Nord Stream 1 foi reiniciado ontem de manhã, mas na Alemanha apenas a 30% de capacidade (dados transmitidos pela gigante russa de Gazprom à Gascade, operadora da rede alemã de distribuição de gás natural, o gasoduto terá entregue apenas 530 GWh durante o dia de quinta). Em junho, antes ainda da reparação no Canadá, a Gazprom já tinha reduzido o fornecimento através do Nord Stream para 40% da capacidade total.
4 – VALERÁ AQUI A “EXCEÇÃO IBÉRICA”?
Portugal e Espanha respondem não ao corte de 15% do gás: proposta “insustentável”, obriga o país a ficar sem eletricidade, diz o secretário de Estado João Galamba; também a ministra da Transição Ecológica de Espanha, Teresa Ribera, dispara para Bruxelas: "Ao contrário de outros países, nós, espanhóis, não vivemos acima das nossas possibilidades do ponto de vista energético"; Portugal e Espanha obtiveram recentemente a luz verde da Comissão à chamada exceção ibérica, mecanismo temporário que lhes permite limitar o preço do gás que alimenta as centrais, levando a uma redução na fatura.
“Todos os Estados-membros vão sofrer as consequências", avisa a presidente da Comissão Europeia. Ursula von der Leyen reconhece que uns países são mais vulneráveis do que outros, mas que os 27, sem exceção, devem avançar com um corte de 15% no consumo de gás, preparando-se para serem também solidários: "É importante que contribuam para a poupança, para o armazenamento e que estejam prontos para partilhar gás com os vizinhos".
5 - UE QUER DUPLICAR IMPORTAÇÃO DE GÁS DO AZERBAIJÃO
A presidente da Comissão Europeia anunciou um acordo com o Azerbaijão para duplicar as importações de gás da União Europeia desta ex-república soviética. "A UE está a voltar-se para fornecedores de energia mais confiáveis", diz von der Leyen. Os chefes da diplomacia europeia puseram-se de acordo quanto a interdição a importações de ouro russo, incluindo jóias. A Alemanha relança 16 centrais a carvão inativas para fazer face a cortes de gás russo: Berlim anunciou a decisão de relançar 16 centrais movidas a combustível fóssil (carvão e petróleo) que estavam inativas no país por serem demasiado poluentes a nível das emissões geradas. O chanceler alemão Olaf Scholz lamentou esta "decisão amarga" e frisou que é apenas temporária, num momento em que decorre a guerra na Ucrânia. Realçou ainda que o seu governo continua comprometido em fazer "tudo" para impulsionar energias renováveis de forma a combater a crise climática.
Um hipotético fecho total do gás russo reduzirá o PIB dos países mais vulneráveis da UE até 6%. Um cenário assustador.
6 - ZELENSKY PEDE MAIS DEFESAS AÉREAS QUE PERMITAM “ESCALA DE PROTEÇÃO DIFERENTE”
O Presidente da Ucrânia criou comissão para monitorizar armas fornecidas pelo Ocidente; objetivo é prevenir o que chamou de desinformação por parte da Rússia quanto aos riscos de aumentar fornecimento de armas à Ucrânia. Enquanto isso, pede sistemas de defesa aérea que permitam subir a escala de proteção. Uma coisa está, obviamente, ligada à outra.
7 – EUA ENVIAM MAIS QUATRO SISTEMAS HIMARS PARA AJUDAR A UCRÂNIA
Washington envia mais quatro sistemas Himars: sistemas múltiplos lança-foguetes de alta mobilidade já permitiram destruir cerca de 30 centros de comando e depósitos de arma russos. General Lloyd Austin, Secretário de Defesa dos EUA, aponta: "Os ucranianos fizeram um excelente uso dos Himars e é possível ver o impacto no terreno”.
8 – EUA E ALIADOS EQUACIONAM TREINAR PILOTOS UCRANIANOS
Os Estados Unidos equacionam treinar pilotos ucranianos: trata-se de esforço a longo prazo para ajudar Kiev a construir uma futura força aérea. A UE, entretanto, fornecerá mais 500 milhões de euros em assistência militar à Ucrânia; trata-se da quinta parcela, atingindo total de 2,5 mil milhões. A Lituânia fornecerá a Kiev veículos blindados M13 e M577 e ainda munições para treinos; a Estónia vai comprar seis sistemas HIMARS, no valor total de 500 milhões de dólares.
9 – UCRÂNIA REPELE ATAQUE RUSSO À CENTRAL ELÉTRICA DE VUHLEHIRSKA
As Forças Armadas da Ucrânia travaram ataque russo à central elétrica de Vuhlehirska, a segunda maior do país, a apenas 50kms de Donetsk. Em análise, o Ministério da Defesa britânico aponta: “A Rússia está a dar prioridade à captura de infraestruturas nacionais relevantes, como centrais elétricas. Vuhlehirska é um movimento que faz parte dos esforços para ganhar terreno na zona sul durante o avanço em direção às cidades centrais de Kramatorsk e Sloviansk”.
10 - RÚSSIA ACUSADA DE INSTALAR MÍSSEIS NA MAIOR CENTRAL NUCLEAR DA EUROPA
Kiev acusa Moscovo de estar a usar a central de Zaporíjia para armazenar armamento nuclear; a Rússia estará também a usar o local para disparar mísseis na região.
Enquanto isso, bombardeamentos russos fazem quatro mortos na região Kharkiv; duas escolas destruídas por mísseis russos em Kramatorsk e Kostiantynivka, região de Donetsk; russos tentam reforçar defesas entre Kherson e Mykolaiv, perante o aumento da contraofensiva ucraniana.