Quatro em cada cinco habitantes de Mariupol conseguiu fugir da cidade. Os enviados da SIC estiveram com famílias que encontraram refúgio em Dnipro. Algumas já fugiram à guerra duas vezes nos últimos oito anos.
Nos apenas oito anos de vida que leva, Maks já fugiu duas vezes da guerra. A primeira foi em 2015, quando os russos bombardearam o bairro onde vivia em Mariupol.
O menino ucraniano deixou de falar, começou a repetir palavras de forma compulsiva e a fazer desenhos que os adultos não compreendiam. Foi diagnosticado com autismo.
Precisou de anos para recuperar o bem-estar, até que a 24 de fevereiro, voltou tudo outra vez.
“Nós vivíamos na parte leste da cidade, mas mudámo-nos para o centro. Pensámos que lá seria mais seguro. Ninguém acreditava que eles conseguissem chegar ao centro da cidade. Parecia que eles apenas iam atacar a periferia da cidade. Os nossos iam repelir o ataque e a cidade continuaria a ser ucraniana. Mas não foi isso que aconteceu. A partir do dia 2 de março começou o horror na cidade”, conta a família à SIC.
Há dois meses que Maks encontrou tranquilidade em Dnipro. Está a trabalhar com um psicólogo. Está mais calmo e, pelos menos, agora, já consegue dormir.
“É que nós vimos tudo. Havia estilhaços a voar pelo nosso apartamento no centro da cidade. As janelas caíram e só por milagre é que não fomos atingidos por estilhaços”.
“Ele viu tudo. Ele viu as pessoas a cavar sepulturas, vizinhos a enterrarem corpos no quintal. Mas o pior foi quando saímos no dia 21 de março. Um ataque aéreo atingiu a cidade e fez uma cratera com seis metros de profundidade. O nosso vizinho perdeu um braço e meu filho viu isso tudo”.
Na associação Eu sou Mariupol, em Dnipro, recebem ajuda do Estado e dos voluntários. Também eles de Mariupol.
Mariupol chegou a ter mais de meio milhão de habitantes. Agora já não restam nem 100 mil. Neste momento não há nenhuma geração de ucranianos que não saiba o que é a guerra. Uma experiência que todos dispensavam.
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