Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito (XLII): Kramatorsk não passará impune

Artigo de Germano Almeida, comentador SIC.

Germano Almeida

Cinco pontos para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós.

1 – ZELENSKY: “ATAQUE A KRAMATORSK TEM QUE ESTAR NO FUTURO TRIBUNAL DE CRIMES DE GUERRA”

O Presidente da Ucrânia, Volodomyr Zelensky, garante que o julgamento do crime em Kramatorsk tem que estar no futuro tribunal de crimes de guerra.

Mais de meia centena de pessoas morreu, incluindo cinco crianças, quando um míssil atingiu a estação ferroviária de Kramatorsk. Os EUA também culparam a Rússia, dizendo acreditar que usou um míssil balístico de curto alcance. A Rússia nega qualquer responsabilidade. Zelensky disse que espera “uma resposta firme e global”. “Como o massacre em Bucha, como muitos outros crimes de guerra russos, o ataque com mísseis em Kramatorsk deve ser uma das acusações no tribunal, o que deve acontecer. Todos os esforços do mundo serão direcionados para estabelecer a cada minuto: quem fez o quê, quem deu ordens. De onde veio o míssil, quem o carregava, quem deu a ordem e como o ataque foi coordenado”

Esperamos uma resposta firme e global a este crime de guerra. “A responsabilização é inevitável. Entretanto, em Bucha, os investigadores começam a exumar uma vala comum para reunir provas de crimes de guerra na cidade libertada.

2 – GOVERNADOR DE LUHANSK PEDE MAIS EVACUAÇÕES E ALERTA PARA AUMENTO DAS TROPAS RUSSAS

Serhiy Gaidai, governador de Luhansk, pede mais evacuações, alertando para o aumento de tropas russas. São necessárias mais evacuações na região de Luhansk, já que os bombardeamentos aumentaram nos últimos dias e mais forças russas estão a chegar.

“Eles (a Rússia) estão a reunir forças para uma ofensiva e vemos que o número de bombardeamentos aumentou”, disse Gaidai à emissora de televisão pública.

3 – BIDEN ASSINA SANÇÕES CONTRA PETRÓLEO E COMÉRCIO COM RÚSSIA E BIELORRÚSSIA

O presidente dos EUA, Joe Biden, assinou ontem dois projetos de lei que impõem mais sanções à Rússia e à Bielorrússia.

As sanções marcam o mais recente passo do governo norte-americano para punir os dois países pela invasão mortal da Ucrânia pela Rússia – e a primeira vez que as sanções em resposta à guerra vieram do Capitólio.

Um projeto de lei suspende as relações comerciais normais com a Rússia e a Bielorrússia, punindo os países ao abrir caminho para tarifas mais altas sobre as importações deles. O outro proíbe as importações de energia da Rússia, incluindo petróleo, carvão e gás natural.

O Senado aprovou por unanimidade as duas medidas. Já a Câmara dos Representantes votou esmagadoramente para aprovar a legislação, mas pequenos focos de oposição.

4 – VON DER LEYEN PARA ZELENKY: “A DEMOCRACIA VAI GANHAR ESTA GUERRA, A LIBERDADE VAI GANHAR ESTA GUERRA”

Foi um dos momentos políticos mais poderosos e simbólicos desde o início desta guerra. Após uma longa reunião em Kiev, Ursula von der Leyen garantiu que o processo de adesão da Ucrânia à UE poderá avançar muito mais rapidamente do que o habitual. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, e o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, restiveram reunidos na tarde desta sexta-feira em Kiev para discutir o modo como Bruxelas está a ajudar a Ucrânia e como se vai desenrolar o processo de eventual adesão da Ucrânia à União Europeia.

“É possível dizer que a nossa humanidade se estilhaçou em Bucha.”, decretou Von der Leyen. A líder europeia disse que “é certo e justo que o mundo tenha votado para suspender a Rússia do Conselho de Direitos Humanos da ONU” e classificou o atual momento da guerra como um momento decisivo em que o mundo tem de se questionar sobre se as atrocidades vão ganhar, ou se vai ganhar a humanidade”.

“É uma guerra que a Rússia lançou sobre uma Ucrânia inocente. A vossa luta é a nossa luta também. Estou aqui para deixar uma forte mensagem de que a Europa está do vosso lado”, disse Von der Leyen. Admitindo que a Europa não consegue sentir o sofrimento ucraniano, a líder da UE garantiu que Bruxelas vai fazer Putin pagar um “preço alto” pela guerra.

“Estamos a mobilizar o nosso poder económico para fazer Putin pagar um preço alto. As sanções estão a atingir duramente a Rússia”, disse, elencando alguns dos efeitos que as sanções estão a ter na economia de Moscovo. As exportações para a Rússia caíram em 71%. A inflação está nos 20%. A confiança dos mercados na Rússia está no nível mais baixo desde 1995”, disse, acrescentando que “as mentes brilhantes estão a deixar a Rússia” e que “mais de 700 empresas” já abandonaram o país.

“Os Estados-membros já congelaram 225 mil milhões de euros de ativos privados russos desde o início da guerra. A Rússia vai entrar numa queda económica, financeira e tecnológica, enquanto a Ucrânia avança para um futuro europeu”, acrescentou, anunciando que Bruxelas está atualmente a enviar cerca de mil milhões de euros em apoios à Ucrânia, e também apoio militar.Von der Leyen entregou a Zelensky uma pasta com um questionário que o governo ucraniano terá de preencher com vista a uma eventual futura adesão da Ucrânia à União Europeia — e garantiu que o processo avançará muito mais rapidamente do que o normal. Estamos convosco quando sonham com a Europa”, disse Von der Leyen. “Volodymyr, a minha mensagem hoje é muito simples: a Ucrânia pertence à família europeia. Ouvimos claramente o vosso pedido. Hoje, estamos aqui para te dar uma primeira resposta positiva. Neste envelope, caro Volodymyr, está um passo importante rumo à pertença à UE. O questionário que aqui está é a base para a nossa discussão nas próximas semanas. É onde o vosso caminho rumo à UE começa.”

O processo de elaboração do parecer da Comissão Europeia exige, que a Ucrânia forneça a Bruxelas uma série de informações detalhadas — daí o questionário entregue por Von der Leyen a Zelensky. Não será, como habitualmente, uma questão de anos, até estar formada esta opinião, mas uma questão de semanas, se trabalharmos em conjunto”, acrescentou a líder europeia, entregando a Zelensky a pasta com o questionário. O Presidente ucraniano respondeu: “Teremos as respostas prontas numa semana, Ursula.”

Questionada sobre se a existência de um conflito armado ativo na Ucrânia poderá pôr em causa a pertença do país à UE, Ursula von der Leyen disse estar “profundamente convencida de que a Ucrânia vai ganhar esta guerra, a democracia vai ganhar esta guerra, a liberdade vai ganhar esta guerra”. “Vamos trabalhar em conjunto com a Ucrânia para reconstruir a Ucrânia”, com recurso a um “grande investimento e reformas, o que vai forjar o caminho para a UE”. A UE comprometeu-se a trabalhar rapidamente para obter uma imagem completa do país em poucas semanas, prevendo-se uma entrega do processo ao Conselho no verão deste ano. “Queremos trabalhar juntos para formar uma imagem deste país. A opinião é uma recomendação ao Conselho, que depois decide os passos seguintes”, disse Von der Leyen, acrescentando que a Ucrânia “tem um longo caminho de reconstrução à sua frente”, porque a Rússia “destruiu brutalmente várias infraestruturas centrais do país.

5 – BUCHA E MAKARIV COM MAIS DESCOBERTAS PREOCUPANTES

O Pentágono avança que o poder militar da Rússia está entre 80% e 85% dos níveis pré-invasão. Algumas das unidades russas que foram retiradas de Kiev tinham sofrido fortes danos e perdas.

“Vimos indícios de que algumas unidades estão literalmente, para todos os efeitos, erradicadas”, disse o funcionário.

A Defesa norte-americana acredita também que Moscovo começou a mobilizar militares na reserva e pode estar a ponderar recrutar mais 60 mil pessoas.

Autoridades em cidades próximas a Kiev, incluindo Bucha e Makariv, encontraram centenas de corpos civis no processo de avaliação da destruição após a retirada das forças russas da capital.

A Inteligência da Ucrânia afirma que as tropas russas estão a reagrupar-se na fronteira e planeiam avançar em direção a Kharkiv, no que pode ser uma grande ofensiva contra o leste da Ucrânia.

É essa a próxima grande batalha.

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