Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito (XXVII): um conflito hipersónico

Artigo de Germano Almeida, comentador SIC.

Germano Almeida

Cinco pontos para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós.

1 – RÚSSIA USA MÍSSEIS HIPERSÓNICOS NA UCRÂNIA

O porta-voz do Ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov, afirmou que a Rússia usou mísseis hipersónicos Kinzhal para destruir um depósito de mísseis e munições em Ivano-Frankivsk, no oeste da Ucrânia. É um novo patamar que a guerra russa introduz. Os mísseis hipersónicos podem viajar entre cinco a 25 vezes mais rápido que a velocidade do som. Muito relevante: conseguem evadir todo o tipo de defesa antiaérea. No caso dos mísseis Kinzhal, a sua velocidade é Mach 10 (cerca de 12,346 km/h).

2 – ZELENSKY QUER MESMO ENCONTRAR-SE COM PUTIN

O presidente da Ucrânia reforçou a necessidade de uma reunião com Moscovo. Zelensky tem vindo a propor um encontro com Vladimir Putin e voltou a insistir que chegou o momento para isso. “Chegou a altura de haver um encontro, de haver um diálogo.” Zelensky disse que negociações de paz “significativas e justas” são urgentes. “Negociações de paz, de segurança para nós, para a Ucrânia – significativas, justas e sem demora – são a única hipótese para a Rússia reduzir os danos dos seus próprios erros. Caso contrário, os russos vão pagar por várias gerações esta perda de reputação”.

3 – TRAGÉDIA HUMANITÁRIA INIMAGINÁVEL

Seis milhões e meio de pessoas estão atualmente deslocadas na Ucrânia, segundo a ONU. O Programa Mundial de Alimentos alertou que as cadeias de suprimentos de alimentos da Ucrânia estão a quebrar, com muitos supermercados e armazéns vazios. Há uma tragédia humanitária inimaginável a acontecer no Leste da Europa. Tem a ver com todos nós. E não sabemos até onde vai chegar e quando vai parar.

4 – JAPÃO PRESSIONA ÍNDIA A AFASTAR-SE DE MOSCOVO

O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, pressionará por uma resposta internacional unificada à invasão da Ucrânia pela Rússia, quando se encontrar com o primeiro-ministro indiano Narendra Modi em Nova Deli. “Como a invasão russa da Ucrânia coincide com esta viagem, gostaria de enfatizar a importância da unidade internacional e confirmar que o Japão e a Índia trabalharão juntos em várias questões”, disse Kishida antes da visita. A Índia e o Japão fazem parte do Diálogo de Segurança Quadrilátero (Quad), uma estrutura de segurança que também inclui os Estados Unidos e a Austrália. O Japão impôs sanções a dezenas de indivíduos e organizações russas desde a invasão da Ucrânia que começou em 24 de fevereiro e vem recebendo refugiados ucranianos. A Índia, no entanto, é o único dos quatro membros do Quad que não condenou a invasão.

5 – ENFRAQUECER A UCRÂNIA – ATÉ À DERROCADA

Vladimir Putin lançou uma invasão em larga escala da Ucrânia depois de não conseguir enfraquecer “fatalmente” o país com a anexação da Crimeia e a guerra no Donbass, disse o ex-embaixador do Reino Unido na Ucrânia. Em declarações ao BBC Breakfast, Simon Smith discutiu o “background” da invasão “em grande escala” de Putin à Ucrânia: “Em 2013-14, muitos de nós vimos o que a Rússia estava a fazer na época como o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia – mas não uma guerra como a que começou em fevereiro deste ano. Porque o que Putin buscava ao anexar a Crimeia e instigar a guerra no Donbass era enfraquecer fatalmente a Ucrânia, infligindo tantos danos à Ucrânia, prejudicando os seus sistemas e instituições, prejudicando sua confiança a ponto de a Ucrânia não estar apta a operar como um país soberano viável. O que vimos nos sete ou oito anos seguintes foi o facto de que Putin falhou nesse objetivo. A Ucrânia soube manter-se de pé, reformando muitas instituições e tornando-se um país mais viável e bem-sucedido”.

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