Guerra Rússia-Ucrânia

Zaporizhzhia: porque é a maior central nuclear da Europa?

Alguns dados sobre a instalação ucraniana e os níveis de radiação detetados na zona após o ataque russo.

Na madrugada de sexta-feira, nono dia da guerra na Ucrânia, tanques russos dispararam contra a central nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa, causando um incêndio e aumentando os receios de um grande desastre nuclear.

O ataque não afetou nenhuma instalação essencial da central, cuja segurança nuclear não foi afetada, segundo o regulador nuclear estatal da Ucrânia e a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA).

A central está atualmente sob controlo das tropas russas embora seja a equipa da central que controla o estado dos edifícios e garante o seu correto funcionamento, de acordo com as autoridades ucranianas.

Onde se situa a central nuclear?

A central nuclear de Zaporizhzhia está localizada no sul da Ucrânia, no rio Dnieper, a 525 quilómetros de Chernobyl.

Central nuclear projetada pela União Soviética

Zaporizhzhia é a maior central nuclear da Europa, com seis reatores e capacidade total de quase 6.000 megawatts, suficiente para fornecer eletricidade a cerca de quatro milhões de habitações. Numa situação normal, produz um quinto da eletricidade da Ucrânia.

O primeiro reator começou a ser construído em 1979, quando a Ucrânia fazia parte da União Soviética. Inaugurada em 1985. Atualmente tem seis reatores VVER-1000 projetados pelos soviéticos, o último dos quais foi posto em funcionamento em 1995.

Esses reatores têm vida útil entre 40 e 60 anos, ou mais com o avanço das tecnologias.

Como funciona a central nuclear?

Os reatores VVER-1000 funcionam a água pressurizada e estão entre os mais seguros. São iguais aos que são instalados em submarinos nucleares e diferentes dos de Chernobyl, moderados a grafite e originalmente projetados para produzir plutónio e não eletricidade.

As centrais de Balakovo, no Volga, no sul da Rússia, e Kozloduy, no Danúbio, na Bulgária, possuem tecnologia semelhante.

Os reatores de Zaporizhzhia usam urânio enriquecido como combustível e água leve como moderador. Funcionam a vapor aquecido pelo núcleo, mas, ao contrário de outros reatores, o vapor contaminado não é usado para fazer girar as turbinas, mas para aquecer outro circuito de vapor não contaminado, esse sim que aciona as turbinas.

Essa técnica permite manter um nível relativamente baixo de radioatividade para os funcionários da central.

Níveis de radioatividade após ataque russo

As autoridades ucranianas alertaram na sexta-feira, 4 de março de 2022, que um bombardeamento russo tinha provocado num edifício onde são lecionadas aulas e há um laboratório. Os reatores foram “desligados com segurança”,

O fogo, que não causou vítimas, foi extinto pelos bombeiros ucranianos às 6h20 (04h20 GMT).

A radiação de fundo em volta do local foi de 0,1 microsievert por hora na manhã de sexta-feira, de acordo com o operador da central. Este valor está abaixo da média mundial e bem abaixo da de um avião a voar ou de um raio-X.

Durante o desastre de Chernobyl, o nível de radioatividade foi milhões de vezes maior, a 300 sieverts por hora.

Após a operação militar russa contra a Ucrânia em 2014, Kiev desenvolveu protocolos de segurança para a proteção física das instalações nucleares do país, com inspeções regulares, avaliação de vulnerabilidades e implementação de sistemas automatizados de controlo de dados. A defesa aérea também foi reforçada sobre Zaporizhzhia.

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