Cinco pontos para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós:
1 – A CARTA NUCLEAR, JÁ? Putin precisava mudar rapidamente a agulha da perceção da opinião pública, que nas últimas 36 horas havia acelerado o isolamento da Rússia, pelo agravamento de sanções e pela condenação pela invasão. O Presidente da Rússia mandou colocar em alerta máximo as forças de dissuasão russas, que podem incluir a componente nuclear, por “declarações agressivas” do Ocidente. O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte acusou a Rússia de ter uma “retórica perigosa” e uma “conduta irresponsável” por ter colocado a força dissuasora nuclear do seu exército em alerta máximo. Putin sabe que não irá usar armas nucleares neste conflito – nesta fase, pelo menos. Mas ao lançar esta carta, numa fase estranhamente prematura, consegue voltar a projetar força do seu lado e medo no inimigo. Esta é uma retórica perigosa. É uma conduta irresponsável”, disse Jens Stoltenberg. “Ameaças fabricadas”, acusa Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca.
2 – A “BOMBA ATÓMICA” ECONÓMICA. A UE anunciou o fecho de bancos russos ao sistema SWIFT, a”paralisação” do banco central russo e o congelamento de bens de oligarcas. Era a “bomba atómica” económica há muito esperada. Ao mesmo tempo que soavam sirenes em Kiev, a avisar para novos bombardeamentos russos, a Comissão Europeia anunciou que um conjunto de bancos vão perder acesso ao sistema de comunicações financeiras. Finlândia fecha espaço aéreo aos aviões russos, segue exemplo da Alemanha. Mais tarde outros países seguem o exemplo, incluindo Portugal. O Governo da Ucrânia diz que já morreram 352 civis na guerra, 14 dos quais são crianças. Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, abre o caminho à entrada da Ucrânia na UE: “Faz parte de nós, é um de nós. Queremos que entrem”.
3 – FIM DE UM TABU: EUROPA COMPRA ARMAS. Os Estados-membros aprovaram o envio para a Ucrânia de pacote de 450 milhões de euros em armas. Josep Borrell, responsável da União Europeia para a política externa, adiantou que os 27 Estados-membros chegaram a acordo: pacote europeu de 450 milhões de euros em material militar letal que serão enviadas para a Ucrânia. A decisão foi unânime e é a primeira vez que a UE, que se define como não sendo uma organização militar, compra armas para enviar para uma guerra.
4 – ZELENSKY FORTALECIDO. Zelensky aceitou enviar representação do seu governo para negociações com a Rússia, na zona fronteiriça com a Bielorrússia. A iniciativa foi russa, o presidente ucraniano começou por recusar por ser na Bielorrússia, mas horas depois mudou de ideias: os russos não puseram pré-condições e só isso já foi uma vitória para Zelensky. Em pouco mais de 48 horas, o líder ucraniano passou de ter a cabeça a prémio para uma situação fortalecida. A sua comunicação eficaz e emocional está a resultar.
5 – KHARKIV TREME MAS NÃO CAI. Os russos entraram na segunda maior cidade ucraniana, Kharkiv. Vários ucranianos lutaram na rua contra o inimigo. Depois de três dias a conseguir segurar a segunda maior cidade ucraniana, Kharkiv, os ucranianos enfrentaram duras batalhas nas ruas com a entrada do exército russo. O governador Oleh Synehubov apelou a todos os civis que se mantivessem em abrigos e não circulassem na tentativa de fugir daquela zona por causa dos intensos combates que se adivinhavam. Kharkiv tem cerca de 1,4 milhão de habitantes e está localizada a menos de 32 quilómetros do sul da fronteira russa.