A Rússia invadiu esta madrugada e pela segunda vez a Ucrânia, depois de ter anexado a Crimeia em 2014, para proceder à “desmilitarização e desnazificação” do país vizinho, suscitando a condenação da generalidade da comunidade internacional. Recorde o filme dos acontecimentos que deram origem a uma guerra há muito anunciada.
A ofensiva militar ocorreu depois de vários meses de elevada tensão provocada pela concentração de mais de 100 mil tropas russas junto das fronteiras da Ucrânia, denunciada pelas autoridades de Kiev em novembro de 2021.
Ao anunciar o ataque esta madrugada de quinta-feira, o Presidente russo, Vladimir Putin, disse que estava a responder a um “pedido de ajuda das autoridades das repúblicas de Donetsk e Lugansk”, no leste da Ucrânia, cuja independência reconheceu na segunda-feira.
Disse também que o ataque da Rússia visa a “desmilitarização e desnazificação da Ucrânia”, utilizando o termo que designa o processo de afastamento e julgamento de elementos do regime nazi alemão após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
As autoridades ucranianas disseram que a ofensiva russa, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, incluindo Kiev, provocou dezenas de mortos nas primeiras horas.
O ataque foi de imediato condenado pela generalidade da comunidade internacional e motivou reuniões de emergência de vários Governos, incluindo o português, e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), União Europeia (UE) e Conselho de Segurança da ONU.
Portugal condenou o ataque, que também foi criticado pelos partidos políticos e mereceu manifestações de repúdio de ucranianos residentes em Lisboa, Porto e Algarve, à semelhança do que aconteceu em diversas cidades europeias.
O ataque russo fez também disparar os preços do petróleo e do gás, e provocou a descida das principais bolsas no mundo.
Como começou a invasão?
23 de fevereiro 21:00
– O Kremlin (Presidência russa) anuncia que os líderes das autoproclamadas repúblicas separatistas pró-Rússia, no leste da Ucrânia, pediram ajuda militar a Vladimir Putin para “repelir a agressão” dos militares ucranianos.
– O Parlamento da Ucrânia aprova a instauração do estado de emergência no país, a partir das 00:00 de quinta-feira e por 30 dias, proposto pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
23 de fevereiro 23:00
– Num discurso emocionado e em russo, Zelensky pede à sociedade civil russa que impeça uma guerra entre os dois países.
24 de fevereiro 2:30
– Numa reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, o secretário-geral da organização, António Guterres, faz um apelo dramático a Putin:
“Se de facto uma operação está a ser preparada, só tenho uma coisa a dizer do fundo do meu coração: Presidente Putin, impeça as suas tropas de atacarem a Ucrânia. Deem uma oportunidade à paz. Já morreram demasiadas pessoas”.
Tonight, I have only one thing to say, from the bottom of my heart:
— António Guterres (@antonioguterres) February 24, 2022
President Putin, stop your troops from attacking Ukraine.
Give peace a chance.
Too many people have already died. pic.twitter.com/PPgmABZiKl
2:50
– Numa comunicação ao país, Putin anuncia o início de uma operação para proteger a população russófona nas repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, e avisa outros países para não interferirem sob pena de enfrentarem consequências que “nunca viram”.
3:20
– O Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Joe Biden, denuncia o “ataque injustificado” e acusa Putin de lançar “uma guerra premeditada que vai resultar em sofrimento e perdas humanas catastróficas”.
The prayers of the world are with the people of Ukraine tonight as they suffer an unprovoked and unjustified attack by Russian military forces. President Putin has chosen a premeditated war that will bring a catastrophic loss of life and human suffering. https://t.co/Q7eUJ0CG3k
— President Biden (@POTUS) February 24, 2022
3:30
– A agência AFP relata as primeiras explosões ouvidas em Kiev, a capital da Ucrânia. Nas horas seguintes, há relatos idênticos nas cidades de Mariupol, Kramatorsk, Odessa, Kharkiv e Lviv.
4:00
– O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, condena “ataque imprudente e não provocado” da Rússia.
I strongly condemn #Russia’s reckless attack on #Ukraine, which puts at risk countless civilian lives. This is a grave breach of international law & a serious threat to Euro-Atlantic security. #NATO Allies will meet to address Russia’s renewed aggression. https://t.co/FPpyuzmUXD
— Jens Stoltenberg (@jensstoltenberg) February 24, 2022
– No Conselho de Segurança da ONU, o embaixador da Ucrânia pede às Nações Unidas que parem a guerra e o representante russo diz que não se trata de uma guerra, mas sim de uma operação militar.
O embaixador da França “condena nos termos mais veementes” o ataque e diz que “a Rússia fez a escolha da guerra”, enquanto a China considera ser ainda possível uma solução pacífica.
4:09
– A Ucrânia encerra o seu espaço aéreo à aviação civil.
4:17
– O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, fala numa “invasão em grande escala”.
4:35
– Os EUA anunciam que vão entregar no Conselho de Segurança da ONU um projeto de resolução a condenar a Rússia.
4:50
– António Guterres diz que está a viver “o momento mais triste” dos seus cinco anos à frente da ONU e faz um novo apelo dramático a Putin:
“Em nome da Humanidade, leve as suas tropas de volta à Rússia. Em nome da Humanidade, não permita que se inicie na Europa aquela que poderá ser a pior guerra desde o início do século”.
Under the present circumstances, I must change my appeal:
— António Guterres (@antonioguterres) February 24, 2022
President Putin, in the name of humanity, bring your troops back to Russia.
This conflict must stop now.
4:54
– A Casa Branca anuncia que Zelensky telefonou a Biden e pediu que “instasse os líderes mundiais a denunciar claramente a agressão flagrante” de Putin, “e a manter-se ao lado do povo da Ucrânia”.
President Zelenskyy reached out to me tonight and we just finished speaking. I condemned this unprovoked and unjustified attack by Russian military forces. I briefed him on the steps we are taking to rally international condemnation, including tonight at the UN Security Council.
— President Biden (@POTUS) February 24, 2022
5:00
– A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, condenam “veementemente o ataque injustificado da Rússia à Ucrânia” e prometem que o Kremlin será responsabilizado. No dia anterior, a União Europeia (UE), mesmo antes dos acontecimentos da madrugada, anunciava uma cimeira extraordinária para as 20:00 de quinta-feira em Bruxelas (19:00 em Lisboa), convocada de urgência por Charles Michel, para que os chefes de Estado e de Governo dos 27 pudessem discutir o agravamento das tensões.
We condemn Russia’s unprecedented military aggression against Ukraine.
— Ursula von der Leyen (@vonderleyen) February 24, 2022
It must withdraw its military and fully respect Ukraine’s territorial integrity.
The EU leaders will discuss and swiftly adopt further restrictive measures against Russia.
The EU stands with Ukraine.
– Zelensky decreta a lei marcial e apela aos ucranianos para que não entrem em pânico.
– Kiev denuncia que o ataque russo visa “destruir o Estado ucraniano, confiscar o seu território pela força e estabelecer uma ocupação”.
We will lift sanctions on all citizens of Ukraine who are ready to defend our country as part of territorial defense with weapons in hands.
— Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) February 24, 2022
– O exército russo confirma o início do bombardeamento da Ucrânia, mas garante que os ataques têm apenas como alvo bases aéreas e outras áreas militares, e não zonas civis.
5:19
– O chanceler alemão, Olaf Scholz, diz que o ataque constitui “uma clara violação” do direito internacional.
5:29
– A guarda de fronteira da Ucrânia diz que o ataque foi lançado através das fronteiras russa e bielorrussa.
5:30
– O organismo de aviação civil da Rússia anuncia a anulação de voos civis em diversas cidades russas próximas da Ucrânia e do Mar Negro.
A Agência de Segurança Aérea da UE informa os operadores aéreos que a Ucrânia “é agora uma zona de conflito ativa”, pelo que há um elevado risco para os aviões civis.
#EASA has published a Conflict Zone Information Bulletin (CZIB) with respect to #Ukraine, which is now an active conflict area. https://t.co/CnsC7Lpzed
— EASA (@EASA) February 24, 2022
– O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, condena os “acontecimentos horríveis na Ucrânia” e acusa Putin de ter optado pelo “caminho do derramamento de sangue e da destruição”.
6:05
– A Bielorrússia anuncia que Putin informou o Presidente Alexander Lukashenko do ataque à Ucrânia.
6:55
– O primeiro-ministro, António Costa, condena o ataque e anuncia que solicitou ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, uma reunião urgente do Conselho Superior de Defesa Nacional.
Antes do Conselho, Costa diz que se vai reunir com os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, e com o chefe de Estado Maior General das Forças Armadas.
Condeno veementemente a ação militar da #Rússia à #Ucrânia.
— António Costa (@antoniocostapm) February 24, 2022
Irei reunir com o Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, o Ministro da Defesa Nacional e o CEMGFA.
E solicitei ao senhor Presidente da República reunião urgente do Conselho Superior de Defesa Nacional.
6:58
– Marcelo Rebelo de Sousa anuncia que convocou a reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional para as 12:00, no Palácio de Belém.
No final, o Conselho anuncia que deu um parecer favorável, por unanimidade, a propostas do Governo para a eventual participação de meios militares portugueses em forças de prontidão da NATO.
8:15
– Marcelo Rebelo de Sousa condena a operação militar da Rússia, declarando que constitui uma “flagrante violação do direito internacional”, e manifesta “total solidariedade” para com o povo ucraniano.
9:40
– A Ucrânia anuncia o corte de relações diplomáticas com a Rússia.
Russia treacherously attacked our state in the morning, as Nazi Germany did in #2WW years. As of today, our countries are on different sides of world history. 🇷🇺 has embarked on a path of evil, but 🇺🇦 is defending itself & won’t give up its freedom no matter what Moscow thinks.
— Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) February 24, 2022
9:50
– A embaixada de Portugal em Kiev aconselha os cerca de 200 portugueses na Ucrânia a sair do país pelas fronteiras da Polónia e da Roménia e anuncia ter organizado pontos de reunião em duas cidades para onde se devem dirigir em caso de necessidade.
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