Guerra no Médio Oriente

Estatuto de Estado para palestinianos "é direito, não recompensa", diz Guterres

O secretário-geral das Nações Unidas dirigiu-se a todos questionando: "Qual é a alternativa? Um cenário de um Estado onde os palestinianos são privados de direitos básicos? Expulsos das suas casas e terras?".

Eduardo Munoz/Reuters

SIC Notícias

Lusa

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou esta segunda-feira para o "crescente isolamento de Israel no panorama global" e defendeu que o reconhecimento do Estado palestiniano é "um direito e não uma recompensa".

Na Conferência Internacional para a Solução Pacífica da Questão da Palestina e Implementação da Solução de Dois Estados, copresidida pela França e Arábia Saudita em Nova Iorque, Guterres dirigiu-se a todos os que se opõem a essa iniciativa, questionando: "Qual é a alternativa?".

"Aqueles que se opõem são obrigados a responder a uma questão fundamental: Qual é a alternativa? Um cenário de um Estado onde os palestinianos são privados de direitos básicos? Expulsos das suas casas e terras? Forçados a viver sob ocupação, discriminação e subjugação perpétuas?", questionou.

"Como é possível no século XXI? Como é aceitável? Isto não é paz nem justiça. Isto só aumentará o crescente isolamento de Israel no panorama global", insistiu.

Guterres foi aplaudido quando defendeu que o estatuto de Estado para os palestinianos "é um direito, não uma recompensa" e negar-lhes esse Estado "seria um presente para os extremistas em todo o lado".

Quer o Governo israelita quer a administração norte-americana têm argumentado que o reconhecimento do Estado palestiniano é um "uma recompensa" para o Hamas, no poder na Faixa de Gaza e organização considerada terrorista por Israel, EUA e União Europeia.

"Sem dois Estados, não haverá paz no Médio Oriente e o radicalismo espalhar-se-á pelo mundo", frisou, recordando que o conflito israelo-palestiniano permanece sem solução há gerações.

"O diálogo vacilou. Resoluções foram desrespeitadas. O Direito internacional foi violado. Décadas de diplomacia foram insuficientes. A situação é intolerável e deteriora-se a cada hora", observou.

António Guterres voltou a reforçar que nada pode justificar os "ataques de terror" de 7 de outubro de 2023 pelo grupo islamita palestiniano Hamas ou a tomada de reféns, e voltou hoje a condenar esses atos.

Mas também reiterou que nada pode justificar a punição coletiva do povo palestiniano "ou qualquer forma de limpeza étnica", a "dizimação sistemática de Gaza", a fome da população, o assassínio de dezenas de milhares de civis - a maioria mulheres e crianças -, e centenas de trabalhadores humanitários.

Disse igualmente que nada pode desculpar a violência e expansão de colonatos na Cisjordânia, "que representam uma ameaça existencial à solução de Dois Estados", a expansão implacável dos colonatos, a ameaça crescente de anexação e a intensificação da violência dos colonos.

"Tudo isto deve parar", instou.

O líder das Nações Unidas pediu que esta conferência sirva de catalisador, estimulando progressos irreversíveis no sentido de acabar com a "ocupação ilegal" e concretizando a "aspiração comum" daqueles presentes na sala por uma solução viável de dois Estados.

Guterres "desiludido" com nega à delegação palestiniana

O antigo primeiro-ministro português aproveitou a ocasião para, mais uma vez, expressar a sua "desilusão" por ter sido negada à delegação palestiniana a oportunidade de ser plenamente representada no evento e na Assembleia-Geral da ONU.

Perto de 80 dirigentes palestinianos, incluindo o Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, ficaram sem visto de entrada nos Estados Unidos por decisão do secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio. Abbas assistiu à conferência através de vídeo.

A administração norte-americana justificou a decisão com o seu "compromisso de não recompensar o terrorismo".

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