Há uma semana, um relatório de peritos da ONU declarava a existência de fome em Gaza, mas Israel continua a desmentir esta informação. Em entrevista à SIC Notícias, Rawan Sulaiman, chefe da missão diplomática palestina em Lisboa e embaixadora desde 2024, diz que é tempo de a comunidade internacional passar das palavras aos atos de forma a pôr termo à situação catastrófica vivida diariamente em Gaza, mas também na Cisjordânia.
Rawan Sulaiman principia as suas declarações contrariando a versão israelita dos factos. “A fome está a acontecer” em Gaza, garante, antes de referir que “isto não pode ser negado”.
Vários peritos em direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), mas que não falam em nome da organização, que estão a ser levados a cabo raptos de várias pessoas, incluindo de crianças, em Rafah, enquanto esperavam por comida.
A embaixadora afirma não ter informações sobre estas alegações, mas revela que não ficaria surpreendida se, de facto, fosse verdade.
Um repórter da Al Jazeera, Anas Al-Sharif, foi morto em Gaza no passado dia 10. Após a sua morte, surgiram fotografias onde aparece junto do antigo líder do Hamas, Yahya Sinwar.
Rawan Sulaiman considera que as acusações por parte de Israel, que garantiu que o jornalista estava ligado ao Hamas, não passam de “uma narrativa israelita”.
“Isto tem de ser verificado. Qual é a fonte desta informação, para além de Israel?”, deixa a questão.
“Não podemos aceitar desculpas para que Israel construa colonatos"
Acerca dos colonatos que são constantemente construídos na Cisjordânia, a representante palestiniana sublinha que esta é uma prática “ilegal à luz do Direito Internacional”:
“Não podemos aceitar desculpas para que Israel construa colonatos por quaisquer razões históricas que alegue. Por isso, que seja o Direito Internacional a determinar a forma de lidar com a situação [...] Existe uma resresponsabilidade de Israel, das Nações Unidas, mas também de membros das Nações Unidas para pôr termo a esta ocupação.”
Rawan Sulaiman vai mais longe e diz mesmo que “temos de passar da fase das declarações para a fase das ações”.
A representante menciona ainda que o ataque de 7 de outubro é visto como responsável pela ofensiva israelita, no entanto atira que “ninguém olhou para 77 anos de ocupação e injustiça” perpetradas contra o povo palestiniano.
“Desde o início que se tem dito que isto não é aceitável e que somos contra a morte de civis”, nota, referindo-se o trágico dia.
Em setembro, países como França ou Reino Unido irão reconhecer o Estado da Palestina, uma iniciativa a que a representante israelita gostaria que Portugal se juntasse:
“Gostaria muito de ver Portugal a juntar-se a este consenso global em setembro.”