Em apenas 10 dias, as forças de segurança dos Estados Unidos cometeram 125 violações dos direitos humanos em 40 estados norte-americanos (80% dos estados), denuncia hoje a Amnistia Internacional.
Entre 26 de maio e 10 de junho de 2020, várias forças de segurança dos EUA cometeram "violações generalizadas e flagrantes de direitos humanos contra pessoas que protestavam contra as mortes de cidadãos negros e pediam reformas nas polícias", concluiu a Amnistia Internacional com base em mais de 500 vídeos e fotografias dos vários protestos recolhidos através das redes socias.
Foram contabilizados "125 incidentes em 40 estados e no distrito de Columbia (Washington, D.C.), onde foi usada força contra manifestantes pacíficos, jornalistas e outras pessoas que estavam nos locais" dos vários protestos que decorreram na sequência da morte do afro-americano George Floyd às mãos da polícia de Minneapolis.
Neste período centenas de milhares de pessoas saíram à rua nos EUA e noutros países para protestar contra o racismo e a violência policial, lembrando que a vida das pessoas negras importam (Black Lives Matter).
"Agressões, uso indevido de gás lacrimogéneo e gás pimenta, disparos inadequados"
Segundo a organização não governamental (ONG), os agentes das forças de segurança "violaram direitos humanos, numa base diária, em vez de cumprirem com as suas obrigações de respeitar e facilitar o direito das pessoas a protestar pacificamente".
Nos 125 casos separados de violência policial contra manifestantes, a ONG detetou "agressões, uso indevido de gás lacrimogéneo e gás pimenta e o disparo inadequado de projéteis menos letais, como balas de borracha".
Os abusos foram cometidos por várias forças de segurança dos departamentos de polícia estaduais e locais, agências federais e pela Guarda Nacional dos EUA.
“A investigação é clara: quando ativistas e apoiantes do movimento Black Lives Matter saíram às ruas em cidades dos EUA para exigir pacificamente o fim do racismo sistémico e da violência policial, foram surpreendentemente recebidos com uma resposta militarizada e mais violência policial”, afirma Brian Castner, consultor para a área de armas e operações militares da Amnistia Internacional.
Mapa interativo mostra os incidentes de violência policial nos 10 dias analisados
Com base em mais de 500 vídeos e fotografias dos vários protestos recolhidos através das redes socias, a Amnistia elaborou um mapa interativo com o registo de cada um dos incidentes.
Nova campanha da Amnistia apela a "mudanças sistémicas" na polícia
Na sequência da morte de George Floyd, algumas mudanças foram feitas - como o decreto do Presidente Trump a proibir a técnica de estrangulamento pela polícia como a que matou o afro-americano, ou a proibição em alguns departamentos de polícia do uso de gás lacrimogéneo - mas a Amnistia quer que se vá mais longe e exige uma "reforma real e duradoura" das forças de segurança dos EUA.
“Uma reforma policial real, sistémica e duradoura é necessária a todos os níveis para garantir que as pessoas em todo o país se sintam seguras em andar pelas ruas e expressar as suas opiniões livre e pacificamente, sem terem de enfrentar uma ameaça real dos agentes que supostamente deveriam protegê-las", alerta Brian Griffey, investigador e conselheiro da Amnistia para os Estados Unidos.
"Este é um direito constitucional que está espelhado nas leis internacionais de direitos humanos; negar esse direito com violência física, gás lacrimogéneo e gás pimenta é um marca registada da repressão",