Miguel Castanho, investigador da Faculdade Medicina de Lisboa, considera um "risco enorme" e um "retrocesso" a escolha de Robert Kennedy Jr. para a pasta da Saúde nos Estados Unidos, que considera ser uma pessoa "irracional".
Robert Kennedy Jr. é uma escolha de Donald Trump polémica, sobretudo pelas teorias da conspiração sobre vacinas, a pandemia e a presença de químicos na água potável que, segundo Kennedy Jr., potenciam questões relacionadas com confusão sexual e de género nas crianças.
Na SIC Notícias, o investigador considera que a escolha para a futura administração é um "risco enorme" para a saúde e para a "vida de muitos americanos", uma vez que o negacionista "não entende como o sistema funciona".
Miguel Castanho explica que Robert Kennedy Jr. já veio dizer que o Food and Drug Administration, equivalente ao Infarmed em Portugal, vai ter de "concordar" com as suas decisões e que "quem não concordar pode fazer as malas para ir embora".
"Estes órgãos, como o Food and Drug Administration, existem para assegurar rigor técnico para informar políticos para que tomem decisões corretas", destaca.
O especialista destaca que o escolhido para a pasta da Saúde é uma pessoa "irracional" sobre questões básicas de saúde pública e que "atenta contra os princípios do Estado". Diz ainda que tem uma conversa "vaga" de conteúdo e sem provas.
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Teoria do leite cru é um "retrocesso"
O investigador da Faculdade Medicina de Lisboa realça que a teoria do leite cru é um "perfeito retrocesso".
"A pasteurização deve-se em homenagem a Pasteur, fundador da microbiologia e que conseguiu perceber que o conhecimento sobre microrganismos podia evitar milhões de mortos", refere.
A pasteurização começou a fazer-se no início do século XX e a partir daí surgiram uma "série de outras iniciativas" de saúde pública ligadas à higiene. Miguel Castanho lembra que, na altura, a longevidade era de 30 anos e atualmente é de 80.
"Estamos a defender algo que põe em causa isto é a mesma coisa que defender que a longevidade deve regredir, que a população mundial deve regredir e que as pessoas devem ser abandonadas à sua sorte", remata o investigador da Faculdade de Medicina de Lisboa.
Robert Kennedy Jr.
Robert Kennedy Jr., sobrinho do antigo Presidente John F. Kennedy, é um ex-advogado de direito ambiental sem formação científica e propagou teorias da conspiração, tanto sobre as vacinas contra a covid-19 como sobre alegadas ligações entre vacinação e autismo.
"Durante demasiado tempo os norte-americanos foram esmagados pelo sistema alimentar industrial e pelas farmacêuticas que recorreram ao engano, à desinformação e à manipulação em questões de saúde pública", afirmou Trump na sua rede social Truth Social.
O republicano prometeu que o Departamento da Saúde desempenhará um papel importante para garantir que todos ficam protegidos "de produtos químicos nocivos, poluentes, pesticidas, produtos farmacêuticos e aditivos alimentares perigosos".
Escolha penaliza ações de farmacêuticas
As ações dos grandes grupos farmacêuticos especializados em vacinas, na Europa e nos Estados Unidos, estão em queda nas bolsas, depois de Donald Trump ter anunciado a escolha de Robert Kennedy Jr. para secretário da Saúde.
Às 12:00 (hora de Lisboa), a francesa Sanofi perdia 2,82% na Bolsa de Paris e a franco-austríaca Valneva recuava 5,64%. Na Bolsa de Londres, a Astrazeneca cedia 2,47% e a GSK baiava 3,07%.Em Wall Street, na quinta-feira, a Pfizer desceu 2,62% e a Moderna 5,62%.
Com descidas mais moderadas, a Johnson & Johnson (J&J) recuou 0,89% e a Merck perdeu 0,14%.O grupo farmacêutico dinamarquês Novo Nordisk, que produz tratamentos para diabetes e obesidade Ozempic/Wegovy, descia hoje 4,25% em Copenhaga.
Com Lusa