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Dos legos ao TikTok: Ventura e Mortágua em provocação máxima no debate do "racismo” vs “bandalheira”

André Ventura e Mariana Mortágua estiveram frente a frente na SIC Notícias. A Imigração, a Habitação e a Economia foram os três grandes temas do debate entre os líderes do Chega e do Bloco de Esquerda.

Rita Carvalho Pereira

Se em certas ocasiões os opostos se atraem, neste debate o que fizeram foi repelir-se ainda mais. O presidente do Chega e a coordenadora do Bloco de Esquerda estiveram em ataque constante para expressar o fosso entre eles. Se Mariana Mortágua agitou a bandeira do “humanismo”, André Ventura ergueu a do “protecionismo".

O debate, na SIC Notícias, colocou frente a frente os líderes dos partidos mais à esquerda e mais à direita na atual configuração parlamentar portuguesa.

Estado, economia e protecionismo

O debate começou com o líder do Chega a ser chamado a esclarecer se o partido quer mais Estado ou menos (depois de ter defendido publicamente as medidas protecionistas de Donald Trump nos Estados Unidos da América). André Ventura respondeu que o que quer é manter "o Estado que faz falta” e acabar com “o que não faz”, sublinhando a necessidade de mais eficiência na administração pública e defendendo aumentos salariais.

Mariana Mortágua afirmou que André Ventura “quer fazer igual a Trump” e alertou para o resultado da aplicação de uma ideia de tal género em terras lusas. “A tarifa que propõe - de 20% sobre importações - teria efeito imediato no preço dos combustíveis”, alertou.

“O que pretende com essas tarifas na sua pressa para imitar Trump é um imposto sobre a gasolina e o gasóleo", disse Mortágua a Ventura, enquanto estes

Num dos momentos-chave deste debate, a coordenadora do Bloco de Esquerda saca de um conjunto de legos com cores para ilustrar as importações portuguesas e, assim, explicar o potencial efeito daquilo que defende o presidente do Chega.

"Mortágua vem brincar aos legos, mas a economia chinesa não é uma brincadeira", ripostou Ventura, afirmando que países como a China - “amigos do Bloco de Esquerda”, como lhes chamou – prejudicam a UE.

"É uma invasão de produtos baratos e mão-de-obra escrava", disse. "Quase tão escrava como a do BE, que despediu grávidas", atirou, em jeito de provocação.

Mortágua respondeu que quando foi para capital chinês entrar na EDP e na REN “não se ouviu um ‘piu’ de Ventura".

"Uma participação maioritária na EDP, se fosse comprada a preços de mercado, valia dois anos de benefícios fiscais a empresários ricos. Essas empresas deram em lucros e pagaram em dividendos tudo aquilo que Portugal teve quando as vendeu", afirmou.

O líder do Chega voltou a responder acusando a coordenadora bloquista de não saber como funciona a economia portuguesa e afirmando que o país entrava "em colapso" se fosse o Bloco de Esquerda a governar.

Finalmente, André Ventura assumiu com todas as letras que concorda com o protecionismo de Trump e que pretende replicá-lo.

"Se eu for primeiro-ministro português - a Mariana Mortágua duvido que alguma vez seja primeira-ministra -, vou ser protecionista, vou. Até não conseguir mais", declarou.

Habitação

O segundo grande tema introduzido no debate foi a Habitação. A líder do Bloco de Esquerda queixou-se do aumento dos preços das casas, incomportáveis para muitos cidadãos, voltando a defender o modelo de controlo de rendas. Mariana Mortágua aproveitou ainda para acusar o Chega de, por outro lado, defender “o sistema, a especulação, a elite".

André Ventura viu uma oportunidade de apontar o dedo de volta ao Bloco, trazendo à baila o caso do alojamento local que envolveu o antigo dirigente bloquista Ricardo Robles, e não a desperdiçou.

O presidente do Chega subiu o tom para acusar o Bloco de Esquerda de defender a invasão de propriedade privada e a ocupação de casas.

"Acabou o TikTok?", questionou então Mortágua. "O dr. Ventura não quer saber da habitação", declarou. "Sei que nada o comove, a mim comove-me ver pessoas em tendas, na rua, a trabalhar sem conseguir pagar uma casa e ter uma casa legal."

Imigrantes

E foi assim que se entrou no tema mais fraturante e incendiário do debate: a imigração. Mariana Mortágua lembrou o projeto do Bloco de Esquerda para rever a Constituição e que propõe que "pessoas que residam em Portugal há pelo menos quatro anos possam eleger”.

“Se os imigrantes são bons para pagar impostos, então podem ter uma palavra a dizer”, defendeu a líder do Bloco de Esquerda. “A minha política é para todos, a sua é ganhar no egoísmo", disse ao líder do Chega.

Mas, para Ventura, o que o partido de Mortágua quer é “bandalheira” e "viver à conta” dos votos dos migrantes.

"Por mim, não passarão. Se quiserem dar direito de voto a esta gente toda que acaba de chegar (...), há um muro intransponível”, declarou, atirando com a dimensão das intenções de voto no Chega nas sondagens, comparando com a do Bloco.

Mariana Mortágua contrapôs que a política que defende é “humanista”, enquanto a de Ventura é a política do “racismo”.

Por sua vez, André Ventura insistiu na necessidade de estabelecer quotas para controlar a imigração, acusando o governo da “geringonça” apoiado pelo BE de ter deixado entrar milhares de pessoas sem verificação - e usando o caso do assassinato de um jovem em Braga para associar criminalidade a uma comunidade imigrante.

“Tenho impressão que a taxa de crime é superior na bancada do Chega", retorquiu Mariana Mortágua, afirmando ainda que o partido de Ventura "desrespeita as polícias, quando não respeita os dados", referindo-se ao Relatório Anual de Segurança Interna (RASI).

Ventura ainda atira para a discussão ao assalto, no Martim Moniz, à viatura de Joana Mortágua, irmã de Mariana Mortágua e dirigente do Bloco de Esquerda. Mas a coordenadora bloquista não o deixou sem resposta: "Percebo a sua preocupação, mas posso dizer-lhe que não está confirmado que foi um deputado do Chega".

Insistindo em que "não há relação entre criminalidade e imigração", Mortágua sublinhou que "o crime que mais mata é a violência doméstica" e terminou: "O dr. Ventura meteu-se num avião para ir a Washington para ajoelhar-se na tomada de posse de um agressor sexual condenado: Donald Trump".

A intervenção final foi com um apelo “ao povo que tem orgulho na liberdade”: “Saiam à rua no 25 de Abril".

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