Eleições Legislativas

Um Chega do “nunca será nunca” e um PAN a definir-se ideologicamente: o debate entre Ventura e Sousa Real

De economia ou Estado social pouco ou nada se falou. Crimes sexuais, proteção animal e a conduta que os deputados têm no Parlamento foram alguns dos temas que mereceram atenção, no debate entre André Ventura e Inês Sousa Real.

Rita Carvalho Pereira

O presidente do Chega e a porta-voz do PAN estiveram, esta noite, num frente-a-frente, na RTP3, em que Inês Sousa Real foi chamada a clarificar o posicionamento ideológico do PAN e André Ventura a responder se vai procurar formar governo com um líder do PSD que tem comparado a José Sócrates.

Governabilidade e posicionamento ideológico

Naquela que foi a porção do debate com mais substância, Inês Sousa Real foi questionada sobre o posicionamento ideológico do PAN, que o partido muitas vezes se furta de explicar. Inês Sousa Real rejeitou que o PAN caísse no “vazio ideológico”.

“Não temos é o preconceito ideológico que algumas forças da esquerda têm”, declarou.

E qual o posicionamento do partido então? “Centro progressista”, foi a resposta da líder.

Uma resposta contestada por Ventura, que lembrou que o PAN se associou ao governo de Miguel Albuquerque, suspeito de crimes de corrupção, na Madeira.

O líder do Chega, que disse “nunca é nunca” - depois do “não é não” de Luís Montenegro – a um entendimento com a AD do atual primeiro-ministro, trouxe ao debate as suspeitas de “corrupção ou falta de ética” que recaem sobre o chefe do Governo.

“Se o primeiro-ministro insistir em manter-se à margem de suspeitas graves e não explicar, faz lembrar José Sócrates”, declarou André Ventura.

Mas sob a provocação de Inês Sousa Real – que acusou o líder do Chega de andar de joelhos atrás de Montenegro a pedir para formar governo -, Ventura garantiu que não fará qualquer acordo com alguém que “insiste em não dar explicações”.

“Enquanto não houver clareza e transparência, “nunca”será “nunca””, assegurou.

Crimes sexuais

Mas foi a onda de crimes sexuais e violência contra as mulheres, exposta no mais recente Relatório Anual de Segurança Interna e nos recentes casos que têm vindo a público, o tema de abertura do debate.

André Ventura falou numa realidade preocupante, perante o aumento do número de violações. No entanto, atirou que a manifestação contra a violência sexual que ocorreu no último sábado, em frente ao Parlamento, devia ter acontecido em frente à porta de partidos como o PAN. Isto porque, alegou, o partido não apoia o Chega em propostas como a castração química de pedófilos nem a expulsão de imigrantes que cometam crimes deste tipo.

“Estamos numa situação de verdadeira impunidade”, declarou.

Por sua vez, Inês Sousa Real respondeu que a maioria dos crimes deste tipo não são cometidos por estrangeiros e que também o Chega votou contra propostas do PAN que visavam a criação de campanhas de sensibilização para o assédio sexual nas escolas – algo que Ventura classificou como propostas de “ideologia de género”.

Em termos de propostas, a líder do PAN propõe que a violação seja tornada crime público e que plataformas de redes sociais onde a violência sexual é partilhada também sejam responsabilizadas.

Imigração, criminalidade e perceções

Num debate em que André Ventura está presente, a imigração não poderia deixar de ser tema, assim como as perceções desta e a forma como é associada a crimes. O líder do Chega defendeu que a imigração “está a ficar descontrolada”.

“Isto é uma bandalheira em que ninguém se entende, entra aqui qualquer pessoa”, declarou.

André Ventura quis deixar uma mensagem a quem pretende vir para o país: “Querem vir para Portugal trabalhar? Venham. Querem vir pedir subsídios? Não venham”.

Inês Sousa Real preferiu lembrar o dinheiro com que a imigração contribui para a Segurança Sociale sublinha que, em termos de criminalidade, é a violência doméstica o crime mais participado.

“Imigração não é preocupação maior”, declaro.

Inês Sousa Real diz que, além da violência doméstica, também a corrupção é um crime em crescimento e acusou o Chega de, com 50 deputados no Parlamento, nada ter conseguido aprovar em relação a esta matéria.

André Ventura respondeu que ninguém propôs mais do que o Chega no combate à corrupção e que o PAN só consegue aprovar medidas sobre o tema porque tem sido “muleta”, tanto do PS como do PSD.

Conduta no Parlamento

A atitude dos deputados do Chega na Assembleia da República também foi assunto neste debate. Inês Sousa Real acusa o partido de ter um“comportamento tóxico”, afirmando que os deputados não só a interrompem quando tem a palavra, como lhe “chamam nomes”.

“A conduta tem sido absolutamente intolerável”, declarou.

André Ventura acusou Inês Sousa Real de se vitimizar e respondeu que a ele já lhe chamaram “de tudo”. “De fascista a racista.”

“Fui o deputado mais ofendido, provavelmente, na História parlamentar toda", afirmou Ventura.

Causa animal

E se este é um debate com a presença do PAN, a causa animal tinha de estar presente. Inês Sousa Real lançou medidas do partido para a proteção animal, como acabar com aquilo a que chama de “borlas ficais para a tauromaquia” e reverter o valor dos impostos cobrados precisamente para proteger os animais.

Seguiu-se uma tirada do líder do Chega, que afirmou que Inês Sousa Real “não gosta mais de animais” do que ele e garantiu que os deputados do partido dão o aumento salarial que tiveram no Parlamento a associações, algumas delas de apoio aos animais.

Voltando a virar o debate para o tema da imigração, André Ventura procurou associar uma comunidade étnica em particular aos maus-tratos a animais e lembrou que o partido quis acabar com o abate halal – carne consumida por uma religião específica de parte da comunidade migrante.

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