O Bloco de Esquerda (BE) pediu esta terça-feira reuniões ao PS, ao PCP, ao Livre e ao PAN para discutir os resultados eleitorais. Numa publicação nas redes sociais, a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, diz que “os resultados da AD, a subida da extrema-direita colocam Portugal sob o risco de um retrocesso e uma ameaça aos direitos sociais”, lançando um apelo “aos partidos do campo democrático, os partidos ecologistas, os partidos da Esquerda”. No entender da politóloga Paula Espírito Santo, a esquerda “não terá muito a ganhar” com uma nova “geringonça”.
“O Bloco está a ser coerente com o que disse durante a campanha, em que apelava também a uma maioria de esquerda e, particularmente, é claro que o Bloco de Esquerda não quer defraudar algumas expectativas da parte do seu eleitorado e depois também percebemos que num plano aritmético pode haver aqui algum sentido, dado que ainda estão quatro mandatos por apurar nos círculos da emigração”, começa por referir Paula Espírito Santo.
Os votos dos emigrantes portugueses recebidos até esta terça-feira aumentaram quase dois terços em relação às eleições legislativas de 2022, segundo dados da Administração Eleitoral da Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna.
Os votos dos emigrantes portugueses irão resultar na eleição de quatro deputados, que poderão influenciar o resultado final das eleições legislativas, uma vez que a AD elegeu 79 deputados e o PS 77.
A politóloga considera que “pode haver aqui algum sentido porque se nós juntarmos AD e a IL temos 87 deputados, se juntarmos toda a esquerda, incluindo o PAN, temos 91, assim há aqui esta interpretação por parte do Bloco, mas também se percebe que a posição de Pedro Nuno Santos é bastante estratégica, porque na verdade seria um presente envenenado se ele assumisse ou se quisesse fazer aqui uma nova entre aspas geringonça à esquerda, dado que esse tempo seria um tempo que não seria suficiente para afirmar a sua governação".
No atual contexto, o Bloco defende que devem ser mantidas abertas as portas do diálogo e procurar a máxima convergência na defesa do que é essencial, mas essa estratégia pode não interessar aos restantes partidos de esquerda, nomeadamente ao PS.
“No caso Pedro Nuno Santos, que será o partido chave para poder anuir ou não nessa convergência à esquerda e numa eventual governação que já disse que não, mas com esta esta interpretação que o Bloco de Esquerda insiste aqui em colocar, o que haveria era, no fundo, uma incapacidade de depois o PS ir buscar o seu eleitorado, que é talvez essa a grande estratégia neste momento, tentar ganhar tempo para conquistar o eleitorado perdido agora durante esta votação.”
Assim, Paula Espírito Santo sublinha que “a esquerda não terá muito a ganhar, porque num plano de curto prazo ou médio prazo, certamente que a viabilização ou a longevidade de um governo à esquerda não seria muita, porque certamente haveria aqui alguma convergência posterior entre a AD e o Chega e isso seria suficiente para deitar abaixo um governo”.