Eleições Legislativas

“Maioria sociológica de direita” exige uma mudança urgente na governação

Todas as sondagens credíveis sobre intenções de voto estão neste momento alinhadas no sentido de contabilizar uma clara maioria de votos à direita, desde o Chega à Aliança Democrática, passando pela Iniciativa Liberal. Após a distribuição do voto dos indecisos, o somatório aponta sempre para valores acima dos 50 por cento, chegando nalguns casos aos 58 por cento.

José Gomes Ferreira

Já o somatório das intenções de voto à esquerda, incluindo o PAN, o PS, o Livre, a CDU e o Bloco de Esquerda, varia entre menos de 40 e pouco mais de 40 por cento.

Na minha opinião, as razões que estão por detrás da formação desta maioria sociológica de direita que exige uma mudança urgente na governação podem ser resumidas da seguinte forma:

Apesar de todas as promessas de investimento público, de sucessivos anúncios de medidas para resolver os problemas que afligem a generalidade da população e da repetição até à exaustão do discurso dos governantes garantindo que o país está melhor, os portugueses acham que o país está pior, o investimento público caiu, as promessas não foram cumpridas e têm sido mal governados em quase todas as áreas.

- Desde logo, pela instabilidade política criada no seio da própria maioria política no poder, com demissões e remodelações permanentes durante mais de um ano e meio;

- Mas também (e sobretudo) na economia que poderia estar a crescer bem mais; regista-se um crescimento do PIB anémico que levou à ultrapassagem de Portugal por muitos países do antigo Bloco Leste. Dentro da zona Euro já só há três países atrás de nós em PIB per capita em paridades de poder de compra…

- Na saúde, com uma governação que exclui cada vez mais pessoas do SNS e as atira para seguros privados que muitos não podem pagar ou para intermináveis listas de espera para cirurgias e meses ou anos até à vez de atendimento nas consultas.

- Sentem-se mal governados na educação, que se encontra num caos com falta persistente de professores, más condições nas escolas, descontentamento generalizado e uma baixa deliberada dos padrões de qualidade com a eliminação sistemática de exames e provas de aferição.

- Na gritante falta de produtividade, de eficácia e até de trabalho efetivo e concreto na generalidade dos serviços públicos, que desde a pandemia decidiram instituir o atendimento por marcação o que obriga a esperas de meses atrás de meses, deixando milhões de cidadãos e empresas em desespero para conseguir uma simples certidão ou qualquer outra decisão administrativa.

- Nas políticas do ambiente, com as quais o Estado cobra injustificadamente milhares de milhões aos cidadãos e às empresas em novos impostos e taxas que oficialmente são para promover a biodiversidade, mas na verdade são para encher os cofres do Estado a troco de quase nada.

- Nas ruinosas políticas da energia, agora pomposamente chamadas da transição energética, que encarecem cada vez mais a fatura da eletricidade, do gás e dos combustíveis líquidos, enchem vergonhosamente as contas bancárias dos acionistas das grandes empresas do setor, e criam cada vez mais pobreza energética nas casas dos portugueses.

- Na agricultura, que tem tido uma política absolutamente errática e reveladora de um desconhecimento confrangedor do real funcionamento do setor e da sua importância económica, social e ambiental.

- Na falta de controlo de entrada nas fronteiras, devido à destruição do SEF, e no descontentamento generalizado das forças de segurança e defesa por causa da discriminação injustificada e imprudente na atribuição de benefícios sociais e remuneratórios.

- Na falta de eficácia do combate à corrupção e na lentidão da justiça em geral, com milhares e milhares de cidadãos e empresas a esperar e desesperar por decisões rápidas nos domínios fiscal, administrativo, cível, de família e menores, etc., enquanto alguns privilegiados cientes de dez grandes escritórios de advogados protelam ao máximo a aplicação de penas pelos crimes de colarinho branco que cometeram e as grandes empresas obtêm tudo o que querem da justiça em tempo útil, seja a cobrança coerciva de contas de telecomunicações ou até de portagens.

- Na perseguição fiscal a pessoas e empresas, através de uma carga sempre a subir, que já vai em 38 por cento do PIB e que é composta não só de impostos e contribuições para a segurança social, foi dissimuladamente alargada para 4.300 taxas aplicadas às empresas e às famílias por tudo e por nada, seja através de licenças de funcionamento, de ocupação de rua, de uso de espaço, alvarás, tarifas de acesso, emolumentos, propinas, portagens, multas, coimas e outras penalidades, que constituem uma selva de obrigações escondidas representando um saque descarado sobre toda a economia, tratando-se na verdade de uma verdadeira austeridade de esquerda.

A única área em que a governação foi eficiente (e ainda bem) foi nas contas do Estado, no controlo do défice e da dívida, na baixa da dívida pública em percentagem do PIB (em valor absoluto continua a subir, mas menos), à custa da manutenção de quase toda a austeridade provocada pela bancarrota de José Sócrates e Teixeira dos Santos em 2011, e da já referida nova forma de austeridade encapotada aplicada ao país pelo governo de esquerda.

Por todas estas razões, a maioria sociológica de direita que se formou nos últimos meses exige uma mudança urgente na governação do país e vai influenciar decisivamente o resultado das eleições legislativas do próximo dia 10 de março.

Se esse resultado é suficiente para assegurar à direita condições de governabilidade, isso já é tema para outro tipo de análise, desde logo porque o Chega (e ainda bem) não será chamado para nenhuma solução de governação nesta área política.

Quanto a esta análise, reflete apenas o óbvio.

Mas depois de ter dito o óbvio em televisão, as críticas não têm parado.

Caso para perguntar se já estamos a viver nalguma espécie de ditadura de opinião, sem sabermos quando foi decretada e por quem é governada…

Últimas