O último debate de todos englobou todos os partidos com assento parlamentar. Oito líderes partidários tiveram tempo limitado para atravessar os assuntos trazido para cima da mesa - Saúde, Justiça e Economia - pela moderação da RTP. No entanto, houve um "elefante na sala" que se fez notar logo no início do debate e que se destacou. Mas foram poucos na respetiva sala que o salientaram.
A ideia era iniciar o debate com a sondagem da RTP, que dá vitória à AD nas intenções de voto. A respeito disso, Carlos Daniel, jornalista da RTP, quis clarificar o que ficou baralhado com as declarações de Pedro Nuno Santos sobre governabilidade.
"O PS governará se ganhar com maioria absoluta, com maioria relativa, mas com uma maioria parlamentar, governará se, ficando em segundo, construir uma maioria com esquerda. O PS não governará se ficar em segundo no quadro de uma maioria de direita, não apresentará nem viabilizará nenhuma moção de rejeição à maioria de direita", disse o líder socialista.
Apesar desta tentativa de clarificação, Luís Montenegro insistiu que "está tudo mal explicado quanto à posição do PS".
No entanto, antes de se poder expressar mais, houve uma interrupção e entrou o tal elefante na sala. Um ativista climático interrompeu o debate, num apelo aos políticos para prestarem atenção ao aquecimento global.
Foi rapidamente removido do estúdio improvisado na NOVA SBE, mas os protestos continuaram audíveis durante largos minutos e também com a tinta espalhada nos vidros atrás dos líderes partidários.
O debate avançou como se nada tivesse acontecido.
"É cada vez mais difícil de perceber", disse e voltou a reforçar que só será primeiro-ministro se vencer as eleições e que a sua política de alianças já está delineada há muito tempo.
Já André Ventura considerou que "os números de hoje mostram que o Chega tem estabilizado a sua votação" e que isso demonstra que “não há maioria à direita sem estes votos”
"Como é que podemos ter um líder que quer ser primeiro-ministro que não é capaz de dizer que convergir a direita para afastar o PS", interrogou.
A Iniciativa Liberal disse-se "simples e clara": não viabiliza um governo minoritário do PS.
"Entendemos que há uma solução passa pela IL e pelo PSD, sendo que estas duas opções com visões diferentes, a IL tem uma visão mais ambiciosa", confessou.
Paulo Raimundo, em representação da CDU, considerou uma vez mais que se "gasta tempo demais a discutir a forma e a fugir ao conteúdo".
"Nós estaremos na primeira linha de combate com a força que o povo nos der para combater PSD, Chega e Iniciativa Liberal. Não vamos permitir que a resposta às pessoas seja do Partido Socialista, também", esclareceu.
Para o Bloco de Esquerda também é simples: as eleições são sobre alternativas e "a única viável é a maioria à esquerda" e pede para que as pessoas não decidam com base em sondagens.
O PAN, antes de ter respondido, atendeu ao tal elefante na sala.
"Não podemos ignorar a ansiedade dos jovens em relação às alterações climáticas e as forças políticas não tiveram uma palavra a dizer sobre o assunto. O PAN avança com a proteção do ambiente"; referiu.
Inês Sousa Real continuou a insistir que o PAN quer estar do lado de quem se comprometer com as suas causas.
Já o Livre disse que o cenário de ingovernabilidade é mais agravado à direita, que não está consolidada.
Justiça
Já na Justiça, que tem sido um dos temas mais debatidos, tendo em conta que já dois governos "caíram" por causa de investigações de corrupção.
É claro que todos os partidos políticos com assento parlamentar querem melhorar o setor, mas PS realçou que é preciso defender a autonomia total face ao Governo, mas que o estado atual obriga a olhar para uma reforma.
"Não podemos fazer de conta que está tudo a decorrer como era suposto porque não está", disse Pedro Nuno Santos.
A visão da IL é uma Justiça que funcione para todos, para o Bloco de Esquerda que seja livre, mas com responsabilidade para explicar as diligências ao povo quando tem impacto na vida democrática.
O Chega disse que prejudica as investigações partidos não serem coerentes com as suas posições, acusando o PSD de ter pedido a demissão a António Costa mas deixar Miguel Albuquerque no cargo.
"Eu não pedi a demissão de António Costa, mas compreendi-a porque era a 14ª demissão de um Governo, uma delas de Pedro Nuno Santos por clara incompetência", disse Luís Montenegro, interrompido por Pedro Nuno que lhe pediu para não ter essa atitude "não digna para quem quer ser primeiro-ministro".
O Livre, o PCP e o PAN insistiram que a Justiça não está a responder, também, aos cidadãos, nos casos dos despejos que salientou o PCP.
Para Rui Tavares demorou-se muito a adotar reformas.
Saúde
Neste tema, o debate aqueceu entre os dois líderes políticos do Bloco Central. Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro voltaram a debater como se tivessem sozinhos na sala.
"Ao contrário da AD que quer apostar no choque fiscal, nós queremos apostar no choque salarial, para valorizar os trabalhadores do Estado dentro da capacidade financeira do Estado Português", disse Pedro Nuno Santos que continua a confiar no processo iniciado pelo Governo anterior de reorganização do SNS.
Para Luís Montenegro "o que faz sentido é salvar o SNS dos oitos anos de desgoverno do PS que trouxe uma situação em que gastamos mais dinheiro e menos capacidade de responder às pessoas".
"Eu vou aprovar um programa de emergência para a área da Saúde, ao nível das urgências, com reorganização, dar resposta à falta de médicos de família", explicou o líder social-democrata.
Já os liberais querem ainda fazer um diagnóstico, que já foi exaustivamente feito: "Não funciona, Pedro", disse Rui Rocha ao líder socialista sobre diversa secções do SNS.
A IL quer "encontrar soluções", para Pedro Nuno querem "passar cheques".
Para o PCP o problema central na Saúde são os salários e o Chega bateu, também, em Pedro Nuno Santos por ter estado presente nos últimos governos que, em oito anos, parece não ter resolvido o que ainda está a falhar no SNS.
"Existe a três mil milhões de desperdício todos os anos com a marca do PS. A Saúde tem este ano o maior orçamento de sempre, nós precisamos um novo modelo de gestão, sinergias com forças sociais e privadas", referiu André Ventura.
Para Mariana Mortágua, o problema do SNS não é apenas gestão, tem de se dar recursos, autonomia, expandido as áreas, como a saúde mental, oral.
Um Governo de progresso e ecologia nos primeiros 100 dias tem de se comprometer para a harmonia na Educação, na Sáude, precisamos de nos sentar à mesa nas negociações, apesar de não ser possível dar tudo, a toda a gente, ao mesmo tempo.
Rui Tavares quer fazer regressar os profissionais de Saúde que já estiveram em Portugal, começando por perguntar o que é que atrairia.
Economia
A respeito dos salários, impostos e IRC, o PCP insistiu na “brutal injustiça na distribuição de riqueza” e o PAN aproveitou para salientar que tem objetivos respetivamente ao salários mínimo: que atinja os 1.100 euros.
No entanto, o partido representado por Inês Sousa Real quer uma conversa mais séria sobre economia verde.
O PSD defendeu, uma vez mais, a “capacidade produtiva portuguesa”.
“Sou otimista. O PS perspetiva crescer 2% no máximo, nós queremos traçar uma trajetória de crescimento que desemboca em 2028 em 3,4%. A fiscalidade é um bloqueio, precisamos de investir e temos de atrair o capital que circula na economia”, disse Luís Montenegro.
Para o Partido Socialista, a economia portuguesa é das que mais cresce na Europa, tendo em conta as medidas dos últimos anos.
"No que diz respeito ao cenário macroeconómico também podíamos colocar o crescimento maior, fizemo-lo com precaução, pois não é com choque fiscal que tem vários problemas: é ineficaz, provoca um rombo nas contas públicas e retira pressão para a inovação. O choque salarial que defendem os partidos à esquerda alimenta o choque de produtividade. PSD projeta para 2030 um salário médio de 1.750, quando se projeta isso para 2027 com o PS", explicou.
Mais uma vez, o Bloco Central quis refazer o debate que já tinha tido e discordaram, entre interrupções, das suas visões para a projeção e crescimento económico para o país.
Para o Chega, o país já está num “choque fiscal que os PS” criou.
"Portugal tem a nona maior carga fiscal sobre o trabalho, Portugal tem o sexto salário médio bruto mais baixo da UE. País não aguenta mais impostos", disse André Ventura.
Já o Livre enumerou as suas apostas para o crescimento económico e criticou as posições da direita, que têm mudado ao longo do tempo.
"O que dá crescimento económico, um país produtivo, é o investimento público com PRR e não só. Importar os meios mais avançados, da economia do conhecimento e descarbonização, inovar nas técnicas de gestão", disse Rui Tavares.
Já os liberais defenderam, mais uma vez, um IRC mais baixo para uma maior liberdade e produtividade.
Nisso, o Bloco de Esquerda realçou que a “baixa do IRC privilegia poucas empresas, a banca, a grande distribuição”.
"As únicas atividades que cresceram foram imobiliário, finança, turismo. A economia portuguesa precisa de setores com bons salários, alta produtividade. A direita só quer baixar IRC para concentrar riqueza e não produzir mais riqueza", disse Mariana Mortágua.
Os debates terminaram. Segue-se a campanha eleitoral oficial. As eleições legislativas estão marcadas para 10 de março.