Economia dia a dia

O salário de metade dos portugueses já não chega para as despesas regulares

Esta quarta-feira, na rubrica Economia dia a dia, falamos do primeiro Barómetro Europeu sobre Pobreza e Precariedade que teve inquiridos da Alemanha, França, Grécia, Itália, Polónia, Reino Unido, Moldávia, Portugal, Roménia e Sérvia

Teresa Amaro Ribeiro

Pandemia, guerra na Ucrânia, inflação alta... Os abalos à economia portuguesa têm chegado sucessivamente e sem tempo de recuperação.

As famílias portuguesas foram perdendo poder de compra e cortando cada vez mais nas despesas do seu dia a dia.

É mais um período de dificuldades para ser ultrapassado, mas para já, ainda não se espera um alívio.

O primeiro Barómetro Europeu sobre Pobreza e Precariedade realizado pela empresa Ipsos concluiu que, entre os inquiridos, um em cada dois portugueses sente que o seu salário não chega nem para as despesas regulares.

Este estudo foi encomendado pela organização não governamental francesa Secours Populaire Français. Foram ouvidas 10 mil pessoas maiores de idade, de 10 países europeus, incluindo Portugal.

Segundo o relatório do estudo, a situação dos trabalhadores europeus é “muito preocupante, especialmente em Portugal e na Sérvia”, uma vez que ter um emprego já “não significa necessariamente ser capaz de sobreviver financeiramente”.

O estudo conclui que mais de um terço dos trabalhadores europeus estarão nesta situação, mas em Portugal, falamos de metade dos empregados inquiridos.

E como é que os europeus estão a solucionar esta crise?

Ora, 62% começou por restringir as suas viagens e 46% desistiram de aquecer as suas casas no inverno, para poupar na fatura da eletricidade, um setor onde, na Europa, se sentiu fortemente os aumentos dos preços.

A alimentação também teve de mudar para alguns dos europeus. 38% dos inquiridos já não faz três refeições por dia, 39% deixou de comprar carne e 10% já recorre a associações de caridade para conseguir pôr comida na mesa.

Por cá, a DECO pro teste, associação de defesa do consumidor, alerta que “haverá muitas mais famílias em situação de dificuldade no final deste ano”, por causa da subida das taxas de juro, que fazem subir as prestações dos créditos à habitação.

Muitos já consideram mesmo vender as suas casas por não conseguirem assegurar as prestações.

O perfil mais comum que tem pedido ajuda à DECO, segundo a própria associação, são famílias com créditos à habitação com taxas de esforço superiores a 60%, com rendimentos líquidos mensais pelos €1500 e que, em grande parte dos casos, tem um menor de idade no agregado familiar.

E esta semana também o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, alertou para o aumento do número de famílias em situação de aperto financeiro, estimando que no final deste ano 70 mil famílias possam ver o crédito à habitação absorver mais de metade do seu rendimento.

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