Coronavírus

As máscaras protegem contra a Covid-19?

Opinião de Tiago Correia. O regresso das máscaras aos hospitais trouxe à memória um passado recente que ninguém quer repetir. Tanto pairou no ar o medo de “voltarmos para trás” nas medidas de combate à Covid-19, como a absoluta desconsideração. Nenhuma das duas posições é adequada perante o que está em causa, sendo importante recordar o que a ciência diz sobre a proteção que as máscaras conferem. A utilização voluntária de máscaras em determinados locais e em certos momentos pode fazer parte do quotidiano.
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Tiago Correia

Os alarmes soaram na opinião pública com a decisão do Centro Hospitalar de Lisboa Norte, do qual fazem parte os hospitais Pulido Valente e Santa Maria, em recomendar a utilização de máscaras. Os médicos responsáveis depressa disseram que era uma medida preventiva face ao aumento repentino de doentes internados por outros motivos e que também testaram positivo à Covid-19, mantendo sintomas ligeiros a moderados. Sendo os hospitais lugares de permanência de pessoas vulneráveis, a recomendação da utilização da máscara a visitas e profissionais de saúde parece uma dedução lógica. Além de lógica, está prevista numa orientação da DGS.

Por isso, o ruído à volta desta situação foi excessivo. Uma recomendação não é uma obrigação e o facto das autoridades de um hospital considerarem tratar-se de uma medida sensata não significa que outros hospitais decidam da mesma forma. Foi isso que o Governo e a DGS vieram dizer: a avaliação de risco é local e é às autoridades locais que compete emitir recomendações.

Não tendo caráter obrigatório, o discurso de quase ódio que tipicamente irrompe nas redes sociais quanto ao suposto ataque às liberdades individuais não tem sentido. Civismo e sensatez fazem parte das regras informais de convivência em sociedade. É apenas nestes termos que esta medida se enquadra e não é demais recordar que a Lei de Bases de Saúde Pública – que permitirá enquadrar estas situações – ainda está por aprovar.

Tanto é necessário esvaziar as críticas infundadas como serenar as pessoas. Não há sinais de que algo pior esteja no horizonte, mesmo que alguns números apontem para o aumento de internamentos por Covid-19 a nível internacional. A vacinação mudou o jogo por completo, sendo possível permitir o aumento das infeções sem a necessidade de obrigações e restrições. Assim será enquanto o vírus mantiver o comportamento que tem tido e enquanto a adesão à vacinação permitir proteger os mais vulneráveis.

Nos momentos mais duros da pandemia foi dito à exaustão de que estávamos obrigados a aprender. É uma absoluta contradição termos o inverno à porta e o aumento generalizado de infeções respiratórias, e os picos de mortalidade ou a sobrecarga dos serviços de saúde serem vistos como se a vida entre 2020 e 2022 não tivesse existido.

Não se trata de dizer que é possível travar transmissões ou picos sazonais de mortalidade. Mas sim que todos temos um papel a cumprir na adesão voluntária a medidas de prevenção. Se isso acontece com as vacinas, pode acontecer com as máscaras.

As máscaras, tanto usadas por profissionais de saúde como na comunidade, protegem contra a transmissão da Covid-19, em estimativas que chegam a 70%. É isso que mostra a melhor evidência científica disponível.(1,2) Mas há um reparo importante que os estudos chamam a atenção: as máscaras são ineficazes se mal-usadas ou quando a sua utilização não é cumprida.(3,4,5)

Por isso, quanto mais as pessoas perceberem a importância da sua utilização nos casos em que é recomendada ou quando têm sintomas gripais, mesmo que ligeiros, mais facilmente aderem de forma voluntária à medida. E quanto mais pessoas aderirem, mais efetiva a medida se torna.

Aquilo que outrora era típico nos países orientais deve ser compreendido no ocidente: a utilização de máscaras pode fazer parte do quotidiano em determinados momentos e contextos como parte de um ato cívico.

Referências bibliográficas:

1 Hajmohammadi M, Saki Malehi A, Maraghi E. (2023) Effectiveness of Using Face Masks and Personal Protective Equipment to Reducing the Spread of COVID-19: A Systematic Review and Meta-Analysis of Case-Control Studies. Adv Biomed Res;12:36. doi: 10.4103/abr.abr_337_21.

2 Ollila HM, Partinen M, Koskela J, Borghi J, Savolainen R, Rotkirch A, et al. (2022) Face masks to prevent transmission of respiratory infections: Systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials on face mask use. PLoS ONE; 17(12): e0271517.

3 Jefferson T, Dooley L, Ferroni E, Al-Ansary LA, van Driel ML, Bawazeer GA, Jones MA, Hoffmann TC, Clark J, Beller EM, Glasziou PP, Conly JM. (2023) Physical interventions to interrupt or reduce the spread of respiratory viruses. Cochrane Database of Systematic Reviews, Issue 1. Art. No.: CD006207.

4 Purssell, E., & Gould, D. (2023). Face mask use to prevent COVID-19 in clinical practice. Using a review of reviews to improve decision-making and transparency. Journal of Advanced Nursing, 79, 2456–2464.

5 https://www.cochrane.org/news/statement-physical-interventions-interrupt-or-reduce-spread-respiratory-viruses-review

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