A obesidade e excesso de peso têm dimensão de epidemia nos países da região europeia e só pioraram com a pandemia, revelou esta terça-feira a Organização Mundial de Saúde (OMS).
No Relatório da Obesidade 2022 divulgado esta terça-feira, a OMS alerta que “de forma alarmante, tem havido aumentos consistentes na prevalência do excesso de peso e obesidade na região europeia [que compreende 53 países, da Islândia ao Tajiquistão] e nenhum Estado-membro está ao alcance da meta de travar o aumento da obesidade até 2025“.
Quase dois terços dos adultos e 8% das crianças com menos de cinco anos têm excesso de peso, aponta a Organização Mundial de Saúde, salientando que a pandemia da covid-19 teve um impacto “desfavorável no consumo de alimentos e padrões de atividade física”, com as ordens de confinamento emitidas pelos Governos a afetarem “de forma desproporcional as pessoas que vivem com excesso de peso e obesidade”.
“Obesidade é causa direta de pelo menos 200 mil casos de cancro anuais”
Por outro lado, o facto de a obesidade ser um fator de risco para casos mais graves de covid-19 levou a que as pessoas com este problema se tenham isolado mais em casa, com inúmeras aplicações digitais de entrega de comida à disposição, de acesso fácil a comidas com alto teor de sal, gordura e açúcar.
Entre a população adulta na região europeia, há uma prevalência de 59% de excesso de peso, mais elevada nos homens (63%) do que nas mulheres (54%), e atinge 23,3% da população na região europeia, a segunda taxa mais alta do mundo, a seguir à região das Américas.
As medidas tomadas para conter o contágio do vírus fizeram subir os níveis de excesso de peso e obesidade entre crianças e adolescentes, conclui a OMS a partir de dados preliminares.
O que agravou uma situação que já era preocupante: até aos cinco anos, a prevalência de excesso de peso e obesidade é de 9% e dispara para 30% nas idades entre os cinco e os nove anos. Na adolescência, a prevalência da obesidade desce para 25%.
Entre as várias consequências para a saúde está o risco aumentado de cancro. “A obesidade é causa direta provável de pelo menos 200.000 casos de cancro anuais, um número que se prevê que aumente nas próximas décadas”, para além de ser responsável por “1,2 milhões de mortes anuais” na região europeia da OMS.
“Para alguns países da região, prevê-se que a obesidade ultrapasse o fumo como fator de risco principal para cancros evitáveis nas próximas décadas”, estima a OMS.
A organização aponta ainda o excesso de peso como causa de pelo menos 13 tipos diferentes de cancro, incluindo cancros da mama, colorretais, dos rins, fígado e ovários. As recomendações incluem mais impostos sobre alimentos “não saudáveis” e restrições na sua “venda, publicidade e tamanho de porções”, a par de “subsídios para aumentar o consumo de fruta e vegetais”.
Em 2016, 57,5% da população adulta em Portugal tinha excesso de peso
Neste âmbito, a Organização Mundial de Saúde destaca Portugal como país que “desde 2019 tem uma lei que restringe a publicidade de bebidas e alimentos ricos em gordura, sal e açúcar, que só podem ser publicitados se estiverem de acordo com os modelos nutricionais portugueses, baseados nos da OMS Europa”.
“Algumas violações da lei foram denunciadas e encaminhadas para o sistema judiciário pela autoridade competente, mas estes processos demonstraram ser complexos e desafiantes para provar”, ressalva a OMS, salientando que para se poder cumprir uma lei destas, é preciso “um sistema de monitorização rigoroso, especialmente com as novas tecnologias e técnicas” do marketing digital.
Recomenda também que “todos os alimentos e bebidas servidos ou vendidos em ambientes públicos contribuam para a promoção de dietas saudáveis” e que se controle “a concentração de estabelecimentos de comida não saudável” na vizinhança de escolas.
Relativamente ao exercício físico, pede que as populações tenham “acesso conveniente e seguro a espaço público aberto e de qualidade”, bem como incentivos como “caminhos pedestres seguros, ciclovias locais e percursos pedonais orientados por adultos para crianças dos estabelecimentos de educação locais”.
De acordo com os dados da OMS, 57,5% da população adulta em Portugal em 2016 tinha excesso de peso, 52% eram mulheres e 63,1% homens, – onde 20,3% eram consideradas obesas. Em números atualizados em 2020, 8,5% das crianças com menos de cinco anos têm excesso de peso, no que se incluem os casos de obesidade.
A OMS nota um aumento na percentagem de mulheres com excesso de peso durante a gravidez, apontando Portugal, Espanha, Reino Unido, Irlanda e Hungria como países em que “se estima que mais de 20% das mulheres tenham obesidade quando engravidam”, uma tendência acentuada em mulheres “de estratos socioeconómicos mais baixos”.
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