O Presidente da República, o primeiro-ministro e os partidos reuniram-se novamente esta terça-feira com epidemiologistas, mas desta vez por videoconferência, num momento em que o país se encontra em confinamento geral por causa da covid-19.
André Peralta Santos, da Direção Geral da Saúde, sublinhou que Portugal está numa fase decrescente generelizada da epidemia com efeitos em todas as regiões de Portugal continental e em todas as faixas etárias. No entanto, a incidência de infeções ainda é "extremamente elevada".
O perito considera que o nível de confinamento está a ser suficiente, mesmo nas áreas onde há uma maior prevalência da variante britânica.
Sobre a evolução da incidência e transmissibilidade da covid-19, Baltazar Nunes, do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, afirma que o R (indíce de transmissibilidade) é inferior a 1 em Portugal Continental e nos Açores, tendo a Madeira um R de 1,13 - já indicia uma tendência decrescente.
Na última semana, houve uma redução de incidência no grupo etário dos adultos e jovens, assim como uma redução de incidência em termos absolutos na população acima dos 80 anos.
Baltazar Nunes revela os cenários traçados pelo Instituto Ricardo Jorge sobre o que poderá acontecer nos próximos tempos, tendo em conta o período de confinamento. Se as medidas se mantivessem durante 60 dias, o nível de cuidados intensivos e a incidência da covid-19 cairiam para valores baixos. Em março, estariam ocupadas 300 camas nos cuidados intensivos, enquanto em abril estariam 200 ocupadas.
O especialista admite que a situação em Portugal só deixe de ser tão alarmante entre a segunda quinzena de março e o início de abril mas que, para isso, seria necessário manter por dois meses as atuais medidas de confinamento.
Depois de introduzidas as medidas mais restritivas, Portugal passou a ser um dos países com uma redução de mobilidade mais acentuada.
"Mais recentemente, a partir de 19 de janeiro -- quando as medidas são introduzidas -- começámos a ver que Portugal passa para os países com redução de mobilidade e, atualmente, Portugal é o país com uma redução de mobilidade mais acentuada na União Europeia, com uma diminuição na ordem dos 66%", afirmou Baltazar Nunes.
Mais de 120 mil casos associados à variante britânica
Em relação às variantes genéticas do novo coronavírus em Portugal, João Paulo Gomes, do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, avança que as estimativas indicam que entre 1 de dezembro de 2020 e 7 de fevereiro de 2021 mais de 120 mil casos de covid-19 estavam associados à variante do Reino Unido.
Na região de Lisboa e Vale do Tejo destaca-se o decréscimo da incidência da variante britânica. Chegou a ser de 90% há semanas atrás, passou para 60% nas últimas três semana e a taxa a nível nacional ronda os 19%.
"Lisboa e Vale do Tejo não mostra uma situação diferente do resto do país", afirma João Paulo Gomes.
O Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge continua a trabalhar no sentido de fazer a sequênciação do vírus. O especialista admitiu que há cada vez mais variantes e mutações em Portugal.
Casos diários podem cair para os 3.000 em duas semanas
Portugal poderá atingir os 3.000 novos casos diários de covid-19 dentro de aproximadamente duas semanas, estimou hoje o epidemiologista Manuel do Carmo Gomes.
"Neste momento, estamos a estimar que teremos uma redução a metade do número de casos em aproximadamente 14 dias, o que significa que dentro de aproximadamente duas semanas poderemos chegar à zona dos três mil casos"
O investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, revelou ainda que o Rt (índice de transmissibilidade) está em 0,82.
O investigador explicou que para um determinado nível de confinamento, o 'R' começa por descer e depois tem tendência a estabilizar.
"Neste momento, ele está negativo, há sinais muito leves de estabilização, temos que esperar os próximos dias para ver".
Mas, acrescentou, "o facto de o 'R' estar com um nível baixo (0,82) significa que o número de casos vai continuar a descer, mas a velocidade a que desce pode parar de aumentar".
Numa reflexão sobre a estratégia que tem sido adotada nos últimos meses, o epidemiologista lembra:
"Fomos para o Natal com 3.500 casos por dia. Passámos de 3.500 a 12 mil casos em seis semanas apenas", aponta.
Manuel Carmo Gomes diz que Portugal tem dado uma resposta gradual aos indicadores que, na sua opinião, não tem resultado, defendendo uma resposta mais agressiva.
Depois de utilizar a Dinamarca como exemplo na estratégia de combate à covid-19, o investigador sustenta que a testagem é a melhor arma que temos na saída do confinamento.
Por sua vez, Henrique de Barros, da Universidade do Porto, defende um esforço na aceleração da vacinação, que terá "ganhos inequívocos nas vidas" e na "melhor gestão dos cuidados de saúde". O professor estima que 70% da população esteja vacinada até final de setembro.
Momento de estrangulamento na vacinação
O coordenador da 'task force' para o plano de vacinação em Portugal, Henrique Gouveia e Melo, afirma que Portugal está num momento de estrangulamento de disponbilidade de vacinas.
Num ponto de situação, referiu que Portugal já receber meio milhão de vacinas, sendo que cerca de 43 mil foram paras as Regiões Autónomas.
No continente, ficaram 460 mil e dessas 400 mil já foram administradas, estando 60 mil em reserva - um fundo necessário para as segundas doses.
Henrique Gouveia e Melo informou ainda que 106 mil pessoas já receberam as duas doses da vacina.
A primeira fase de vacinação vai ser prolongada até abril por falta de vacinas.
"Com as vacinas que temos disponíveis estamos a fazer uma média de 22 mil vacinas por dia", sublinhou.
No segundo semestre, o coordenador da task force espera que a média quadriplique e que, no terceiro trimestre, seja ainda superior.
"Deveremos terminar de vacinar a população toda ainda este ano", concluiu.