Coronavírus

Suicídios caem a pique no Japão com medidas de combate à Covid-19

Atraso no arranque do ano letivo, menos deslocações e mais tempo com a família estarão por trás da descida da taxa de suicídio no país.

Kim Kyung Hoon

Patrícia Bentes

O Japão chegou a registar mais de 34 mil casos de suicídio por ano, em 2003. Mas, desde então, o número de pessoas que tiraram a própria vida tem vindo a descer consistentemente e, em 2019, chegou a pouco mais de 20 mil.

A maior descida aconteceu precisamente quando o país temia um novo pico, no mês passado, de acordo com um relatório do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar japonês.

Numa altura em que os especialistas em saúde temiam que a pandemia de Covid-19 fizesse disparar os níveis de stress, o Japão assistiu à maior queda da taxa mensal de suicídios dos últimos cinco anos, com o registo de menos 20% no mês passado, face a abril de 2019.

A explicação, segundo o The Guardian, está precisamente nas alterações aos fatores de stress.

Decretado o confinamento obrigatório, em meados de abril, as organizações de prevenção ao suicídio foram profundamente afetadas. Cerca de 40% fecharam portas ou adopatarm um horário reduzido, o que levantou sérias preocupações com o que aconteceria às pessoas mais vulneráveis.

Um mês depois, os dados mostram que, afinal, não havia razões para alarme.

Os japoneses, como a maioria das pessoas em todos os países do mundo, estão a passar mais tempo em casa e a fazer menos viagens para o trabalho. Além disso, o início das aulas acabou por ser adiado.

Sendo o bullying e outras problemáticas do contexto escolar uma causa frequentemente citada nas estatísticas do suicídio, o início do ano académico, que no Japão acontece em abril, é um momento particularmente stressante para alguns.

O adiamento, devido à pandemia, pode ter salvado vidas.

Ainda assim, as autoridades japonesas estão cientes de que o fenómeno terá que ser acompanhado com cuidado nos próximos anos.

Tal como nos anos que se seguiram à crise financeira asiática de 1997, em que houve um aumento recorde de quase 35% nos suicídios, a pressão económica e o desemprego podem ainda inverter a tendência atual da taxa.

Yukio Saito, ex-presidente da Associação Japonesa de Prevenção ao Suicídio, alerta que “uma desaceleração económica prolongada, causada pela pandemia, pode levar a uma recuperação nos casos”.

Últimas