Mais de um milhão de crianças permanecem sem acesso a bens essenciais, com o bloqueio à ajuda humanitária a prolongar-se há mais de um mês. A escassez de alimentos, água potável, abrigo e medicamentos está a ter consequências devastadoras para a população civil.
O número de pessoas que procura ajuda junto dos poucos voluntários ainda presentes no terreno está a aumentar. A luta por uma refeição ou por um pouco de água potável é diária, num cenário marcado pelo desespero.
"Fomos deslocados da cidade de Beit Lahia, para oeste da Cidade de Gaza. Enfrentamos muitas dificuldades para obter água. Hoje, conseguimos água. Lutamos para transportar a água até à tenda. Às vezes, demora meia hora a trazê-la. Quando conseguimos uma gota de água para beber, ficamos tão felizes. Sofremos para conseguir água", relata uma criança.
Segundo o fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), desde 2 de março que Israel bloqueia a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, naquele que é já o período mais longo sem fornecimentos desde o início do conflito. A distribuição de água, feita através de camiões-cisterna, foi drasticamente reduzida: de 16 litros por pessoa por dia, passou-se para apenas seis. A organização alerta que, a manter-se esta tendência, o acesso à água potável poderá desaparecer por completo.
Também os alimentos complementares para bebés estão esgotados. A ONU reforça o alerta para o aumento do risco de subnutrição e agravamento de doenças, especialmente entre as crianças.
Desde o término do cessar-fogo de dois meses, Israel tem expandido a chamada “zona de segurança” no norte de Gaza e intensificado as ofensivas militares a sul.
Vídeo contradiz versão de Israel sobre ataque a ambulâncias
Entretanto, imagens divulgadas pela ONG palestiniana Crescente Vermelho mostram um ataque a um comboio de ambulâncias, ocorrido a 23 de março. O vídeo, recuperado de um telemóvel encontrado numa vala comum onde estariam enterrados 15 voluntários, contradiz a versão israelita, que alegava que os veículos circulavam com as luzes apagadas e eram considerados suspeitos.
Um dos sobreviventes do ataque, o paramédico Munzer Abed, testemunha: "Os militares estavam por toda a zona onde nos encontrávamos, forças especiais (...) Foi de repente, começaram a disparar diretamente sobre nós. Com toda aquela intensidade de fogo sobre nós, o veículo parou subitamente. Tudo se desligou. A luz interior estava acesa, as luzes exteriores, a sirene vermelha — tudo no veículo se apagou por causa dos disparos. O veículo parou no local que se vê no vídeo, junto ao poste de eletricidade de ferro."
A ONU já apelou a uma investigação formal sobre o ataque.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, tem prevista uma visita aos Estados Unidos, onde se espera que o conflito em Gaza esteja em destaque nas conversações diplomáticas.