De acordo com o Expresso, a versão do diretor da Polícia Judiciária Militar (PJM), o coronel Luís Vieira, era de que uma chamada anónima tinha fornecido indicações sobre o paradeiro do material desaparecido, num local ermo do concelho da Chamusca, e que isso levou a PJM a chamar o apoio de vários militares da GNR de Loulé.
Mas os dados das antenas e das portagens mostram que a chamada anónima foi feita de uma cabina telefónica no Montijo por um elemento da própria PJM e que, várias horas antes, dois elementos do Núcleo de Investigação Criminal (NIC) da GNR de Loulé se deslocaram numa carrinha da PJM até uma propriedade em Portela de Carregueiros, no concelho de Tomar, que pertence à avó de, João Paulino, um ex-fuzileiro.
O esconderijo original do material de guerra
Para o Ministério Público e para a PJ, essa propriedade, localizada a 35 quilómetros de Tancos, era o esconderijo original do material de guerra, e o seu transporte num carro da PJM serviu para dissimular os procuradores e inspetores.
Na tese que levou às detenções desta semana, os militares indiciados combinaram com o suspeito do furto uma forma de o Exército conseguir recuperar as armas e, em troca, João Paulino livrar-se de poder ser acusado do furto, o que passava por evitar que pudessem ser recolhidas quaisquer provas contra ele.
João Paulino foi fuzileiro
João Paulino, o principal suspeito, foi fuzileiro, fez o curso nas forças especiais da Marinha em 2005 e ingressado como primeiro-grumete nas Forças Armadas em setembro de 2006.
Segundo o Expresso apurou, em 2012, tornou-se gerente de um bar em Ansião, para onde se mudou vindo de Albufeira, no Algarve, onde cresceu e estudou. É casado e foi pai no ano passado, pouco tempo antes do furto em Tancos.
O telemóvel de João Paulino estava sob escuta desde 30 de junho de 2017, o dia seguinte ao assalto, assim como os telemóveis de mais dois indivíduos. Com o tempo, o número de pessoas sob escuta foi-se alargando, para incluir vários militares do Exército que trabalhavam nos paióis de Tancos e outros civis ligados a João Paulino.
Paulino terá dito ao guarda Bruno Ataíde, amigo de infância, que talvez pudesse saber das armas e sondando se nada lhe aconteceria se ajudasse à sua recuperação. Ataíde transmitiu a informação ao seu chefe direto, o sargento Lima Santos, e foi aí que a operação de encobrimento teve início.
De acordo com o Ministério Público, o diretor da PJM autorizou toda a operação.
Juiz decreta prisão preventiva
O juiz João Bártolo determinou prisão preventiva para o diretor da Polícia Judiciária Militar e um civil.
Estão indiciados de crimes de associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder e recetação de armas.
O advogado do diretor da Polícia Judiciária Militar disse esta sexta-feira que vai recorrer da decisão de prisão preventiva decretada ao seu cliente.
Para o advogado Pedro Duro, a medida poderá ter sido pedida pelo Ministério Público por entender que existe um risco de perturbação ao inquérito, explicando ainda que as outras medidas de coação poderiam não oferecer garantias perante o “perigo que está em causa”.
Marcelo Rebelo de Sousa considera que as investigações e apuramento de factos e responsáveis credibilizam as instituições e é bom para a democracia.
A propósito da acusação da tragédia de Pedrógão Grande, o Presidente da República lembrou, o que aplica também ao caso de Tancos, que o que importante é o esclarecimento da verdade e apuramento de responsabilidades.