André Ventura

Costa e Ventura frente a frente: troca de acusações pessoais, impostos e corrupção

No debate, o secretário-geral do PS e o líder do Chega também falaram sobre o combate à pandemia, o estado da saúde em Portugal, a situação económica do país e a governabilidade com o PSD.

Pandemia

O debate arrancou com o tema da vacinação contra a covid-19 e com o desafio de António Costa às convicções de André Ventura, colocando-o no mesmo saco dos negacionistas.

“Você comigo não passa, tudo nos espera”

Costa abriu as hostilidades e parece ter apanhado André Ventura desprevenido com a comparação aos 89% dos portugueses que estão vacinados. De acordo com o líder dos socialistas, “um responsável político tem de dar o exemplo” até porque a vacina é “a grande arma contra a pandemia”.

André Ventura, que já esteve infetado, esclareceu que pretende vacinar-se assim que possível e aproveitou para atacar o Governo que acredita que devia ter antecipado o aumento de casos, face à crescente prevalência da variante Ómicron no país.

“A responsabilidade disto é do Governo. O Governo sabia que isto podia acontecer e não o quis fazer. Andou aos ziguezagues.”

Ventura atirou ainda que Costa “em vez de se preocupar com o estado da Saúde está preocupado com a minha vacinação.”

Economia

O programa eleitoral do Chega foi o mote para o debate começar a aquecer. Costa acusou o partido de ser promotor da desigualdade, dando como exemplo a proposta do Chega para a criação de taxa única de IRS, paga da mesma forma pelos mais ricos e pelos mais pobres.

Os ataques continuaram com o líder dos socialistas a acusar Ventura de deixar de ser agente tributário para “dar conselhos a quem quer fugir aos impostos.”

O chumbo da proposta do Chega para diminuir o salário dos políticos no Parlamento também ganhou espaço no debate, com André Ventura a defender que “metade da classe política e das nomeações são para acabar”. “Só aí pouparíamos milhões. Se cortarmos na grande massa que isto representa e conseguirmos um crescimento decente conseguimos isto”, rematou.

António Costa retorquiu que “o Sr. Deputado fala muito” mas que mostra “pouca realidade” ao estar constantemente a basear-se em fotocópias de notícias. O líder dos socialistas diz que Ventura quer acabar com cargos políticos, em clara contradição, com as várias candidaturas do líder do Chega, enumerando entre outras as eleições presidenciais em janeiro, e as autárquicas em setembro do ano passado.

André Ventura puxou do exemplo espanhol para dizer que António Costa defende um “socialismo de gaveta: 34,8% do PIB em impostos. Quem mais trabalha, quem mais investe, é quem é mais penalizado. Temos um estado com uma clientela tal que é paga pelo IRS.” Um ataque que passou também pela taxa de desemprego, já que o homólogo de Costa no país vizinho conseguiu uma diminuição em 20% e Costa apenas baixou algumas décimas.

O líder do Chega continuou o confronto com o que acredita ser a herança de António Costa para o futuro: “fala como se tivesse feito um milagre económico. Só o ano passado 400 mil portugueses foram enviados da classe média para a pobreza. O seu legado são 500 mil pensionistas que perderam o poder de compra. Pena que Rui Rio nunca lhe tenha dito isto.”

Corrupção

António Costa virou as atenções para o combate à corrupção, lembrando André Ventura que “em 19 de novembro faltou ao Parlamento, num dia em que foram votados dois diplomas de combate à corrupção”.

Ventura ganhou fôlego e questionou: “o antigo ministro de José Sócrates a trazer a corrupção para cima da mesa? É de bradar aos céus. Devia pedir desculpa aos portugueses pelos inúmeros casos de corrupção que o PS gerou e por estarmos a julgar um ex-primeiro-ministro que nos tirou milhões.” Uma intervenção que acabou com André Ventura a mostrar uma fotografia de António Costa e José Sócrates de mãos dadas num evento do partido.

“Qualquer socialista que viole a lei tem de ser responsabilizado e é uma vergonha para o PS”, foi a resposta de Costa, que frisou que perante a justiça não há filhos nem enteados, apesar dos vários antigos membros do Governo com processos judiciais em curso.

André Ventura fez uma viagem ao passado e trouxe à tona o processo Casa Pia, um dos casos mais mediáticos do tempo de Costa como ministro da Justiça:

“Há escutas suas a tentar interferir no processo Casa Pia. Nomeou Mário Centeno para o Banco de Portugal. A mim não me dá lições de combate à corrupção. Não tem historial de luta contra a corrupção. Não vou descansar enquanto o PS não seja afastado da esfera do poder”.

Mas Ventura não ficou sem resposta:

“Da última vez que fez uma acusação num debate acabou condenado pelo Supremo Tribunal de Justiça. Olhe, eu, até agora, não fui condenado.”

O líder do PS referia-se ao frente-a-frente do líder do Chega com Marcelo Rebelo de Sousa durante as presidenciais de 2021, em que Ventura mostrou uma fotografia do Presidente da República com a família Coxi, do Bairro da Jamaica, que acusou de serem “bandidos” e de terem vindo para Portugal “viver do Estado Social”.

Governabilidade com o PSD

Com eleições legislativas já no próximo dia 30, os partidos apressam-se a definir possíveis alianças caso não exista uma maioria absoluta. Perante a mesma questão, a hipótese de um acordo com os sociais democratas, António Costa mantém o tabu. Apesar de já ter dito que se demitia de secretário-geral do partido caso perdesse as eleições para Rui Rio, sobre o rumo do partido depois disso, diz que o que o PS “deve fazer é ajudar Portugal.”

Já André Ventura preferiu antes tornar claro o objetivo do partido, que passa por tirar António Costa e o PS do leme da governação do país.

Texto: Catarina Terroso

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