Este ano, alterações no padrões do clima e da pluviosidade estão a mudar de forma radical as paisagens, por exemplo, do nosso país vizinho, Marrocos. Mas ao contrário do que é habitual, desta vez não é no sentido da seca.
São imagens raras e quase surreais: em consequências das chuvadas dos últimos meses, partes do deserto do Saara estão agora inundadas, como é o caso das imediações da famosa duna de Merzhouga em Marrocos.
"Há 30 ou 50 anos que não tínhamos tanta chuva em tão pouco tempo. É preciso dizer que, mesmo para a geografia da região, uma vez que estamos nas encostas orientais da Cordilheira do Atlas, notámos que é como se todas as chuvas fossem dirigidas para as mesmas áreas", diz Houssine Youabeb, do serviço de meteorologia de Marrocos.
Trata-se de uma alteração nos padrões de pluviosidade dos últimos anos, mas que afinal encontra raízes num passado longínquo, de milhares de anos, em que o Saara era pontuado por zonas mais verdes e de savana, mas de forma mais recente nas últimas décadas, com o regresso de antigos lagos secos na região.
Alterações do clima na chamada da Zona de Convergência Intertropical, que habitualmente transporta humidade dos trópicos para as latitudes de países como o Mali ou a Mauritânia.
Este ano, está a trazer chuva a zonas mais a norte, que costumam receber menos de um centímetro de pluviosidade por ano. E isso sim, tem a ver com um aquecimento adicional do globo, que pode ser causado pelas alterações climáticas provocadas pelo Homem.
Não quer dizer que o Saara deixe de ser um deserto, apenas que está sujeito a um clima mais desorganizado, como o que aconteceu nos passados meses de agosto e setembro, em Marrocos e na Argélia, quando chuvas diluvianas provocaram a morte a dezenas de pessoas.
Como o clima de todo o mundo está interligado, estas mudanças podem ter efeito, por exemplo, na temporada de furacões do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos e nas Caraíbas.