50 anos do 25 de Abril

As músicas e as senhas do 25 de Abril

Meia dúzia de canções revolucionárias para celebrar este dia histórico dos 50 anos da democracia em Portugal.

Catarina Solano de Almeida

24 de Abril de 1974

22h55 - A primeira senha da Revolução

Emissores Associados de Lisboa. Lisboa, Avenida Elias Garcia – A voz de João Paulo Dinis anuncia aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa:

“Faltam cinco minutos para as vinte e três horas. Convosco, Paulo de Carvalho com o Eurofestival 74, ‘E Depois do Adeus’', de José Niza.

Era o primeiro sinal para que as unidades militares aderentes iniciassem os preparativos da sua participação nas operações militares a desencadear pelo Movimento das Forças Armadas.


E DEPOIS DO ADEUS

Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz

Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder

Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci

E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei…

E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós.


25 de Abril de 1974

00h20: É emitida a segunda senha da Revolução.

Na Rádio Renascença, na Rua Capelo em Lisboa – Paulo Coelho é o locutor de serviço no programa “Limite”.

Soa a voz previamente gravada de Leite de Vasconcelos através dos emissores da Rádio Renascença a ler a primeira quadra da canção “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso.


Está em marcha a operação militar “Fim de Regime” liderada por capitães do Movimento das Forças Armadas (MFA) para derrubar o regime ditatorial de Marcello Caetano.

Mas não foram apenas estas músicas que “fizeram” a Revolução de Abril, tantas outras expressam o sentimento de liberdade que os portugueses tanto ansiavam e conseguiram, numa revolução feita de cravos e não de espingardas.

Seleção de algumas músicas para celebrarmos juntos o dia histórico.

“Liberdade”, de Sérgio Godinho

A canção foi composta por Sérgio Godinho em parceria com José Mário Branco Foi lançada em 1974, no contexto pré-Revolução dos Cravos e reflete o desejo do povo português por liberdade e justiça.

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, José Mário Branco

Com base num poema de Luís Vaz de Camões, do século XVI, José Mário Branco adaptou o poema para o contexto político da época, transformando-o num hino de resistência e esperança. A letra da música evoca a ideia de que, apesar das dificuldades e das injustiças, as vontades podem mudar e um novo tempo pode surgir.

“Tourada”, de Fernando Tordo

Composta por Fernando Tordo e com letra de Ary dos Santos em 1970 é uma metáfora poética que critica a ditadura do Estado Novo. A música denuncia a violência, a opressão e a hipocrisia do governo, enquanto evoca um sentimento de resistência e esperança por tempos melhores.

“Trova Do Vento Que Passa”, de Adriano Correia de Oliveira

Canção composta por António Portugal a partir de um poema de Manuel Alegre em 1963.

“O Povo Unido Jamais Será Vencido”, Luís Cília

Escrito por Sergio Ortega Alvarado e os Quilapayún antes do golpe de Estado fascista no Chile que depôs Salvador Allende, em 1973, “El Pueblo Unido Jamás Será Vencido” tornou-se um dos hinos da resistência chilena e da esquerda internacional. Em 1974 a banda chilena, na altura exilada em França, acompanhou Luís Cília, que também vivera em França durante a ditadura salazarista, nesta versão portuguesa da canção.

“Tanto Mar”, de Chico Buarque

Homenagem de Chico Buarque ao povo português e à sua luta pela liberdade e democracia, mas também um manifesto de solidariedade e resistência nos tempos sombrios da ditadura militar no Brasil.

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