Depois de anos a contar com o reembolso do IRS como um “15.º mês”, muitos contribuintes estão agora a braços com valores inesperadamente baixos ou mesmo contas a pagar. Mas a culpa não é do Estado - é da forma como funcionam os impostos e da falta de literacia financeira, explica o jornalista e especialista em literacia financeira Pedro Andersson.
Todos os anos é a mesma história: chega abril, entregam-se as declarações de IRS e com elas chegam também as surpresas. Este ano, o espanto de muitos é terem recebido menos reembolso — ou mesmo terem de pagar.
“Tem a ver com a literacia financeira. Nós não percebemos como é que os impostos funcionam e depois, quando surgem estas situações, as pessoas ficam muito surpreendidas. Porque durante décadas estão habituadas a receber reembolso. E é esse dinheiro que depois serve para pagar o IMI, para pagar as férias, para pagar o seguro do carro. É como se fosse uma espécie de 15.º mês”.
Mas a verdade é que a fiscalidade vai mudando com o tempo - e o que se alterou no ano passado está agora a ter impacto. “O Estado não está a roubar os contribuintes. As pessoas estão a receber exatamente aquilo a que têm direito.”
Setembro e outubro sem descontos: o que mudou em 2024
Em 2024, o Governo aprovou uma nova tabela de retenção na fonte que aumentou o salário líquido dos trabalhadores durante os últimos meses do ano — mais concretamente, em setembro e outubro. Muitos não se aperceberam, mas, ao receberem mais nesses meses, estavam, na prática, a reter menos IRS. Agora, em 2025, essa diferença está a fazer-se sentir.
“O dinheiro que eu recebi a mais nesses dois meses, no meu salário líquido, e que me alegrou bastante, agora é exatamente a diferença daquilo que eu não recebi ou vou ter de pagar. No final das contas, tudo bate certo. Aquilo que eu não estou a receber agora ou que estou a pagar, eu já recebi em setembro e outubro".
Como evitar surpresas no próximo ano
O segredo para não ser apanhado desprevenido está no planeamento.
“Se as pessoas chegarem à conclusão que lhes faltam 500 euros agora, neste IRS, todos os meses, a partir de agora, devem dividir 500 euros por 12 meses e retirar esse dinheiro".
Melhor ainda, diz, é usar essa verba a seu favor.
“Se eu tiver o dinheiro do meu lado, eu posso pô-lo a render, nem que seja num depósito a prazo ou em certificados de aforro, ou pôr de lado e investir de alguma maneira"