Economia

BCE e aumento dos juros: "Há aqui um desafio muito mais estrutural"

Os juros estão a subir há mais de um ano. Com o recente anúncio de aumento das taxas de juro, pelo Banco Central Europeu, a analista explica quais as possíveis soluções para a economia portuguesa.

Daniela Tomé

SIC Notícias

Em análise na SIC Notícias, a analista de mercados e comentadora SIC Catarina Castro explica quais os riscos que a economia portuguesa poderá vir a sofrer com o aumento das taxas de juro, anunciado esta quinta-feira pelo Banco Central Europeu (BCE).

ciclos e taxas de juro

“Infelizmente é a confirmação que já temíamos ao dia de ontem, e que vem muito em linha com a mensagem que já estava a ser passada desde o início da semana, de que iremos ter esta subida da taxa de juro e sem uma previsão de paragem do ciclo, por parte do Banco Central Europeu”, afirma Catarina Castro.

Na opinião da analista, está a ser feito um “um excesso de intervenção no ciclo de subida da taxa de juro”, representando um ”desafio muito alto", para as economias europeias, sobretudo para a economia portuguesa.

Governos e BCE a remar em diferentes direções?

“A realidade é que o nosso contexto local é diferente das restantes economias europeias, especialmente naquilo que é o acesso ao mercado da habitação, ao contexto histórico de contabilização dos custos, seja nível do financiamento bancário, seja a nível do arrendamento”, explica a analista de mercados.

Segundo Catarina Castro, Portugal é “um caso um pouco distinto e consegue ser defendido como tal, especialmente com aquilo que é a dependência das taxas variáveis”, sendo a atual situação económica também uma consequência “da dependência excessiva daquilo que foi um ciclo de taxas variáveis, com libertação de crédito barato para famílias e empresas”.

Ainda assim, segundo a especialista em mercados, “isso não significa que seja agora, no pior momento de evolução de taxas de juro, que devamos corrigi-lo”.

“Agora é tempo de rebalancear a estrutura de financiamento que a economia tem, do ponto de vista de acesso a famílias e empresas, mas não abruptamente. Tem de haver um apoio absolutamente urgente e não o oposto”, acrescenta

“O desafio será o BCE a gostar de Portugal como o ‘bom aluno’, mas não deixando o Governo de poder tomar decisões e tomar iniciativas importantes para muitas famílias e empresas”.

Luz ao fundo do túnel?

“Poderá não demorar tanto tempo assim. Temos de nos preparar para um ciclo que é o pior dos cenários, que é mantermos nesta referência dos 4%, mas este será o pior dos cenários. Este é, provavelmente, é o pior momento deste ciclo”, esclarece.

“O que poderá acontecer é que assim que os mercados financeiros perceberem que a própria evolução da taxa de juro está controlada a nível do BCE, ou que, do outro lado do oceano, a Reserva Federal Americana cumpra uma pausa, também tendencialmente o Mercado Futuro (o que gere as Euribor e obrigações cotadas dos países dos Governos), também poderá começar um caminho descendente - não muito amplo, mas descendente”, explica.

“Encarecer” o dinheiro é a única arma para a inflação?

“Não existem alternativas face aos instrumentos que o BCE se autoimpôs”, clarifica a comentadora, acrescentando que "aprendendo com a História, esta é uma inflação não é derivada de consumo, mas sim muito mais baseada naquilo que são problemas de fornecimento iniciados na altura da pandemia e perpetuados com a guerra na Ucrânia-Rússia.

A analista de mercados sugere a introdução de novos instrumentos e uma nova política de atuação, “que pode ser desenhada para o Banco Central Europeu, se assim o desejar”, que poderá passar pela adoção de uma métrica semelhante àquela que é usada nos Estados Unidos.

“Sempre e quando a política de controlo de inflação se torna negativa para o emprego, a própria Reserva Federal Americana é obrigada a parar”, explica.

"Dado que há data parece-me que estamos continuamente atrasados na correção do problema por parte do BCE, talvez seja um novo caminho a seguir de janeiro para a frente".

A analista de mercados lembrou ainda que irão decorrer duas reuniões de política até ao final do ano: uma a 26 de outubro e a outra a 14 de dezembro.

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